O ministro da Fazenda Joaquim Levy é a vítima mais recente de um fenômeno que, se não chega a ser raro, não deixa de espantar os que acompanham o mundo da política. Assim como aconteceu com a própria presidente Dilma Rousseff no início deste ano, Levy perdeu força e estatura na medida em que ganhou mais poder. Sim: desde que teve o mandato renovado pelas urnas e se pôs a fazer exatamente o contrário do que prometeu na campanha de 2014, Dilma viu sua popularidade despencar ao nível mais rasteiros de um presidente do Brasil desde a redemocratização. E Levy?
[su_quote]O que se viu foi a vitória das ideias de Barbosa: a volta da CPMF e nenhum centavo de corte nas despesas de custeio da máquina[/su_quote]
Bem… Há menos de um mês, o ministro ameaçou abandonar o governo por se sentir desgastado diante da desenvoltura do titular do Planejamento, Nelson Barbosa, defensor da ideia de um ajuste fiscal sem corte nas despesas de custeio. Bastava, na visão populista de Barbosa, tomar mais dinheiro da classe média por meio de novos impostos para o governo equilibrar suas contas.
Mudança de ventos
Foi um pandemônio! O dólar disparou, a bolsa despencou e o governo não teve outra saída senão pedir para Levy ficar. Ele ficou e, por um momento, pareceu fortalecido. Viajou para a Europa, conversou com autoridades financeiras, falou em nome do governo e prometeu medidas capazes de anular os efeitos da obra-prima de Barbosa: o tal orçamento com a previsão de déficit de mais de R$ 30 bilhões em 2016, que foi o maior, mas não único, responsável pelo rebaixamento da nota do Brasil pela agência Standard & Poor’s.
Na semana passada, foram anunciadas as tais medidas e o que se viu foi a vitória das ideias de Barbosa: a volta da CPMF (um imposto que não estava nos planos de Levy) e nenhum centavo de corte nas despesas de custeio da máquina. Foi o suficiente para o prestígio do ministro da Fazenda começar a murchar. Tanto assim que se ele ameaçar ir embora novamente a comoção será muito melhor. E pode ser até que muita gente comemore.
Governo populista
Nenhum pacote econômico será bem recebido pela sociedade se não partir de um ponto essencial: ninguém suporta pagar mais impostos sobretudo a um governo que usa tudo o que arrecada para custear uma máquina que se tornou excessivamente onerosa pelos equívocos de uma política populista da pior qualidade. Se o governo não anunciar uma auditoria séria na quantidade de bolsas, vales e outras despesas criadas para comprar a simpatia de sua clientela eleitoral, não conseguirá aprovar nada no Congresso. Mas isso, infelizmente, parece estar a quilômetros da capacidade de compreensão de uma presidente que parece incapaz de abrir a boca sem repetir a ladainha de que estão urdindo um golpe contra ela.
O problema é que a cada dia fica mais difícil encontrar alguém que não receba favores financeiros do governo e tenha a coragem de defender a política de Dilma e sua turma. Nesse cenário, o discurso de Levy de que os brasileiros devem encarar a sobrecarga de impostos como uma “contribuição” para o bem do país até poderia colar se a sociedade estivesse satisfeita com o governo que tem. Os institutos de pesquisa estão aí para mostrar que o prestígio de Dilma vai de mal a pior. A questão é que, daqui para a frente, o prestígio de Levy deve seguir o mesmo caminho.
Fonte: Hoje em Dia, 20/09/2015.
No Comment! Be the first one.