Se há um detalhe que chama a atenção no governo Dilma Rousseff é a capacidade de criar constrangimentos para si mesmo e a habilidade para aumentar uma crise política que já é grande o suficiente para paralisar a economia. Nos últimos dias, para citar apenas um exemplo desse comportamento, o Planalto disparou mais uma vez contra o próprio pé ao anunciar que os aposentados ficariam este ano sem adiantamento do 13º salário. As queixas se espalharam do Oiapoque ao Chuí. A presidente não resistiu, cedeu e mandou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tirar de algum lugar o dinheiro para quitar o benefício. O problema é que a decisão, ao invés de ser considerada um sinal de generosidade, foi vista como capitulação: um gesto de fraqueza de uma administração que parece não saber em que direção está seguindo.
É esse comportamento errático que explica o fato (como se viu na quinta-feira passada) de o governo ser alvejado por críticas até mesmo em manifestações convocadas para apoiá-lo. Em momentos de crise política e econômica como a que o Brasil vive, ajudaria muito se o Planalto pusesse a improvisação de lado, planejasse seus movimentos e demonstrasse firmeza ao tomar medidas impopulares, porém necessárias para dar um mínimo de ordem às contas públicas. Se a causa primária da crise foi a gastança irresponsável de dinheiro do povo ao longo dos últimos 12 anos e meio, a solução passa por escolher com critérios as despesas que devem ser eliminadas (o que, naturalmente, não inclui o dinheiro dos aposentados) e ser inflexível na execução do orçamento. Isso teria sobre o empresariado e sobre os investidores estrangeiros, que perderam a fé em Brasília, um efeito muito mais positivo do que os apelos pela volta da confiança, que a presidente e seus ministros fazem sempre que estão diante de um microfone.
O preço do improviso
Governos que agem ao sabor da opinião pública e que cedem ao menor sinal de pressão política podem até salvar a própria pele por algum tempo — ainda que ao preço de arrastar o país para o precipício. Mais cedo ou mais tarde, porém, eles não resistem e vão ao chão, ainda que tentem até o fim jogar sobre os adversários a culpa pela própria incompetência. Na hora em que a improvisação cobra seu preço, só um novo projeto, tocado por outras forças políticas, consegue endireitar o que está errado.
Tsipras se mandou
Veja, por exemplo, o que acaba de acontecer na Grécia. Meses atrás, o esquerdista Alexis Tsipras assumiu o governo falando grosso e prometendo à sociedade a manutenção da gastança que é a mãe de todas as dificuldades do país. Só que a realidade se recusou a endossar o discurso leviano e, para continuar se relacionando com o mundo, a Grécia se viu obrigada a apertar o cinto. Quando a situação que já era feia ficou horrível, Tsipras fez as malas e se mandou. Convocou eleições para setembro, renunciou e deixou para trás todo o estrago que ele ajudou a aumentar com promessas que jamais conseguiria cumprir. Dilma ainda pode recuperar o rumo e chegar ao fim de seu mandato com o país melhor do que está hoje. Mas, para isso, precisa abrir mão do recurso infantil de tentar incriminar adversários para salvar o próprio pescoço e começar a governar. Logo.
Fonte: Hoje em dia, R7, 23/8/2015
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