O problema causado pelo acidente com o MD11 da empresa americana Centurion, que fechou o aeroporto de Viracopos por dois dias, é mais uma prova da precariedade do transporte aéreo no país. Não pelo acidente em si.
Eles acontecem de tempos em tempos e esse foi relativamente banal: uma avaria no trem de pouso no momento da aterrissagem. O avião, que estava cheio de produtos eletrônicos e outros artigos, adernou para a esquerda e parou bem no meio da pista. Até aí, um acidente.
A partir do momento em que se constatou o fato começaram as trapalhadas que demonstram como o Brasil está distante de uma operação que ofereça segurança e conforto aos passageiros e condições de operações mínimas às empresas.
A grande prejudicada, como se sabe, foi a companhia Azul – que tem em Viracopos o coração de suas operações -, além dos passageiros que adquiriram bilhetes em voos com partida do aeroporto de Campinas.
O impressionante foi constatar que, no Brasil, onde a utilização dos aeroportos praticamente triplicou nos últimos 10 anos, existe um único equipamento em condição de remover um avião avariado num acidente simples como esse.
E ele não pertence à Infraero (a autarquia federal que, até dias atrás, era a única responsável pela administração dos aeroportos brasileiros) e, sim, à TAM – empresa privada que tem suas prioridades entre as quais, naturalmente, não está o socorro a aviões de seus concorrentes.
O consórcio Aeroportos Brasil, que assumiu a administração de Viracopos há menos de dois meses, não teve o tempo hábil para adquirir o equipamento. Nem seria o caso: apenas os aeroportos mais movimentados do mundo possuem seu próprio macaco hidráulico especial, como o utilizado nesse tipo de operação.
Nos demais casos, existem unidades localizadas em pontos estratégicos que podem ser deslocadas com rapidez em caso de necessidade. Não há estatísticas disponíveis. Mas 46 horas em que Viracopos permaneceu fechado por causa do acidente certamente constituem um recorde mundial para esse tipo de operação.
As autoridades brasileiras, como de praxe, optaram por empurrar a responsabilidade. Na manhã de ontem, a agência reguladora que cuida dos aeroportos, publicou em seu site uma nota onde afirma que “após a apuração dos fatos, a ANAC poderá adotar medidas cabíveis, entre elas multas, restrições operacionais e até a suspensão das atividades da empresa aérea no país”.
Entre as medidas que a agência “poderá” vir a adotar não existe sequer o reconhecimento da responsabilidade do governo.
Nos últimos anos, a Infraero gastou rios de dinheiro com a reforma de terminais que já nasceram defasados (como os de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio de Janeiro) e com puxadinhos que nada resolveram o problema da superlotação dos terminais. E não investiu um único centavo na melhoria das pistas de pouso e na compra de equipamentos de segurança.
Fonte: Brasil Econômico, 17/10/2012
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