Evitar o desemprego é a questão essencial que se coloca frente à crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus: esta é a opinião do Doutor em Economia, Samuel Pessôa. Em entrevista ao Instituto Millenium, o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) avaliou as medidas que estão sendo tomadas e os principais desafios para amenizar os efeitos do isolamento social, que reduziu drasticamente a circulação de dinheiro nas ruas.
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Na opinião de Samuel Pessôa, as medidas apresentadas até agora pelo governo federal para tentar salvar a maior quantidade de empregos possível – como o decreto que permite a suspensão temporária dos contratos ou a redução da carga horária durante a pandemia – estão no caminho correto. “A manutenção do contrato de trabalho, com a sua flexibilização, precisa ser o foco das medidas. É importante garantir que empregados e empregadores mantenham os contratos, mas em condições que permitam a sobrevivência das empresas”, disse.
Ainda sobre as medidas com o objetivo de preservar a economia, Samuel Pessôa criticou a decisão recente do ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandoskwi, segundo a qual toda negociação de flexibilização dos contratos deve passar pelos sindicatos antes de ser homologada. “A decisão foi muito ruim, mas a medida apresentada pelo governo vai no sentido correto, e precisava ser tomada”, disse.
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Outra ação necessária, de acordo com Samuel Pessôa, é a concessão de crédito lastreada pelo Tesouro Nacional. “O instrumento do crédito cujo risco da concessão seja majoritariamente do Tesouro fará com que as empresas possam acessar o crédito e manter o emprego formal. Já há uma Medida Provisória em andamento, mas é preciso ver como essa questão vai ficar, uma vez que a ação hoje só está prevista para empresas com faturamento a partir de R$ 10 milhões por ano”, disse.
Ainda nesta questão, Samuel Pessôa destacou que a economia sofreu um choque profundo, que vai causar impactos em vários setores. Por conta disso, o risco, de acordo com ele, não é de liquidez, mas do próprio crédito, ou seja: a empresa pedir um empréstimo e não ter condição de pagar no futuro. “O banco tem que honrar os depositantes e pode não ser honrado. Esse é o risco. Por isso, para este momento emergencial, o crédito tem que ser concedido com risco Tesouro”, lembrou.
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O economista alertou, no entanto, para um problema que pode acontecer na esteira do pacote de medidas econômicas: o oportunismo de entes federados que não fizeram o dever de casa no controle das contas e que, agora, podem aproveitar o momento para aprovarem uma “boia de salvação”, pressionando as contas públicas. “Muitos estados e municípios estão em maus lençóis, por conta de erros passados, e aproveitam a situação para tentar emplacar no Congresso Nacional a renegociação de dívidas e de pactuações muito mais favoráveis do que em condições normais. Isso tem que ser evitado”, considerou.