Um estadista entre nossos expresidentes vivos, Fernando Henrique Cardoso teme o ressurgimento do “autoritarismo burocrático com poder econômico e financeiro”.
A advertência de FHC: um capitalismo de Estado dirigido por interesses de grandes corporações e de um partido hegemônico seria uma ameaça à Grande Sociedade Aberta.
A aproximação histórica entre enormes estruturas burocráticas de administração centralizada e regimes políticos degenerados é abundantemente documentada.
Tocqueville registrou a tradição dirigista francesa de centralização burocrática como um eixo de autoritarismo através dos tempos, sendo igualmente aceita pelos monarquistas, pelos revolucionários e pelos bonapartistas.
O despotismo, o Terror e as guerras foram decorrentes dessa engrenagem autoritária.
A formidável burocracia prussiana, desde a máquina militarista imperial até os Correios, as ferrovias e a previdência social arquitetada por Bismarck, foi muito além do Antigo Regime. Prosperou em meio à avalanche social-democrata da República de Weimar, até atingir o clímax do capitalismo de Estado, sob o regime do Partido Nacional-Socialista na Alemanha de Hitler.
Das vítimas do stalinismo aos dissidentes na China contemporânea, dos opositores a Fidel aos não bolivarianos perseguidos, a questão política fundamental não pode ser apenas como chegar ao poder, mas essencialmente em que grau se exerce tal poder.
Qual é a intensidade da coerção do governo sobre os indivíduos aceita em uma sociedade.
Mais do que um possível futuro da sociedade brasileira, compreensível temor de FHC, a associação de grandes grupos de interesse corporativo com partidos políticos desidratados a serviço de uma ideologia nacional estatizante é o nosso passado recente, sob o regime militar. O aparelho de Estado dirigido por uma tecnoburocracia administrativa centralizada era não apenas insensível às necessidades da população de baixa renda mas também o pesadelo de políticos e intelectuais oposicionistas.
É natural que os tucanos tenham receio das eventuais arbitrariedades de um Leviatã moldado pelo nacionalismo estatizante dos militares, agora aparelhado pelos petistas. Da mesma forma que tucanos e petistas sentiram o peso dessa engrenagem quando era instrumental ao autoritarismo dos militares.
Como nunca se sabe quem será o próximo a controlar a máquina de moer adversários, é fundamental limitar seu grau de arbítrio.
É por isso que lutamos contra o totalitarismo midiático, vigente, há décadas, no Brasil. A pior de todas as ditaduras. Derrubada essa, a gente vê o resto.