“É a economia, estúpido!”, escreveu James Carville, o marqueteiro do então candidato à presidência dos Estados Unidos, Bill Clinton, em cartaz fixado no comitê da campanha. A frase curiosa explicava as razões da vitória de Clinton sobre George Bush, o pai, que tentara a reeleição inspirado na onda de patriotismo gerada pela vitória americana na Guerra do Golfo, um ano antes.
No Brasil não é diferente. As popularidades de Lula e Dilma estão diretamente relacionadas à expansão da classe média, à melhoria na distribuição de renda e à ampliação do emprego. Os fatos são decorrentes de políticas acertadas, mas, sobretudo, do desempenho da economia. Assim, nem o julgamento do mensalão fará tão mal à eventual reeleição de Dilma quanto a estagnação do Produto Interno Bruto (PIB), já apelidado de “pibinho” pela oposição.
Desta forma, estão a caminho novas medidas de estímulo à economia. A intenção é despertar o “instinto animal” dos empresários em favor dos investimentos. Afinal, depois de 2010, quando o PIB cresceu 7,5%, a economia empacou, com espasmos curtos e esporádicos, fazendo jus à comparação com o “voo da galinha”. A verdade, porém, é que o próprio governo não tem feito o dever de casa.
As obras da Copa de 2014, por exemplo, continuam com execução pífia. A Infraero, que promete investir R$ 2 bilhões neste ano, aplicou apenas R$ 368 milhões (18%) no primeiro semestre. Para a adequação do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro Antonio Carlos Jobim, o Galeão, estão previstos R$ 200,4 milhões até o fim do ano, mas foram investidos irrisórios 9,7% no primeiro semestre de 2012, o equivalente a R$ 19,5 milhões. Aliás, a estatal vive, há anos, verdadeira “anorexia” quanto aos seus investimentos. Nos últimos 12 anos, somadas as dotações autorizadas pelo Congresso Nacional, chega-se a R$ 10,5 bilhões, enquanto as aplicações foram de R$ 5,4 bilhões (51%). A diferença acumulada de mais de R$ 5 bilhões explica o caos nosso de cada dia nos aeroportos brasileiros. O bordão “imagina na Copa” circula nas redes sociais, sendo assunto diário em todas as cidades-sedes.
Os investimentos da União estão no mesmo ritmo. Neste ano, de cada R$ 4 previstos, apenas R$ 1 foi aplicado até julho. Além disso, em valores constantes, o investido em obras e equipamentos até o mês passado é inferior em R$ 3 bilhões às aplicações do mesmo período em 2010.
A letargia tem nome e endereço: Ministério dos Transportes, localizado no bloco R da Esplanada dos Ministérios. Vale lembrar que a Pasta ficou “sob nova direção” após as irregularidades que vieram à tona em 2010 e implicaram na demissão do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento. Diante da “casa arrombada”, os novos gestores trancaram a execução, até para não serem envolvidos em escândalos semelhantes àqueles que provocaram a demissão dos antecessores.
Assim, em 2012, tanto os investimentos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) quanto os da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. são os menores dos últimos três anos, mesmo em valores correntes. No Dnit, as aplicações nos primeiros sete meses deste ano atingiram R$ 4,1 bilhões, inferiores aos R$ 6,1 bilhões e aos R$ 5 bilhões de 2011 e 2010, respectivamente.
Na Valec, que vive a “síndrome do Juquinha” – referência ao ex-presidente preso na Operação Trem Pagador -, os investimentos decaíram de R$ 1 bilhão (janeiro/julho de 2010) para R$ 451,9 milhões nos primeiros sete meses deste ano.
Diante do marasmo, a ministra do Planejamento tem despachado no bloco R, tentando agilizar os investimentos, as parcerias e as novas concessões. Com as visitas frequentes ao Ministério dos Transportes, Miriam Belchior ganhou dos técnicos da Pasta o apelido de Supernanny, personagem de um programa de televisão inglês, reproduzido no Brasil, no qual uma superbabá dá orientações a pais de crianças rebeldes. Faz sentido. Para os que não entendem a presença quase diária da ministra no prédio vizinho, que mobiliza grande parte dos investimentos federais, a resposta é clara: “É a economia, estúpido.”
Como a iniciativa privada costuma ficar à espreita analisando a gestão pública, o governo, antes de atiçar o “instinto animal” dos empresários, precisa despertar o seu, para dar amplitude e altura ao “voo da galinha”. Afinal, se as metáforas sobre o crescimento da economia estão associadas ao reino animal, os investimentos públicos não podem caminhar na velocidade de um cágado…
Fonte: O Globo, 07/08/2012
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