Uma reportagem publicada pelo Brasil Econômico na segunda-feira passada procurou estender a mesma ótica que guia o raciocínio do investidor comum – aquele que compra e vende ações na bolsa – à carteira do BNDES.
E chegou à conclusão de que, sob esse ponto de vista, o banco fez negócios que não se mostraram rentáveis, sobretudo no que diz respeito a empresas que se envolveram em megafusões.
O levantamento foi feito com base em informações divulgadas pela própria instituição e alguns aspectos negativos relacionados com aqueles negócios. Houve, no entanto, uma omissão importante, sobre o qual é preciso chamar atenção: se o BNDESPar (o braço de participações do banco estatal de fomento) fizesse apenas maus negócios, não chegaria aos resultados positivos que alcançou nos últimos anos.
No ano passado, o lucro foi de R$ 3,7 bilhões. É um bom dinheiro e significa que, embora tenha entre seus ativos papéis que não se valorizaram, o banco tem uma carteira que parece sustentada na teoria que valeu ao americano Harry Markowitz o Prêmio Nobel de Economia de 1990.
A teoria de Markowitz, que trata da diversificação do risco, ganhou expressão numa frase popular: não se deve colocar todos os ovos numa mesma cesta. Numa carteira de investimentos diversificada, os rendimentos dos negócios mais seguros permitem que se assuma um risco maior em outras operações.
Em outras palavras, os investimentos rentáveis permitem que o BNDESPar tenha recursos para investir em negócios que – acima do preço dos papéis – significam uma aposta estratégica. Pegue-se, por exemplo, a presença da instituição no negócio que, dois anos atrás, viabilizou a fusão da Sadia com a Perdigão em torno da BRF.
O empreendimento, como é do conhecimento geral, só adquiriu seu contorno definitivo após a decisão do Cade, que há pouco mais de duas semanas determinou a venda de algumas unidades da empresa.
Era natural que, em torno das incertezas que rodearam o tema, o investimento não rendesse tudo aquilo que dele se esperava enquanto o Cade, que sofre de uma miopia crônica, não desse sua opinião final. Mesmo assim, o negócio era fundamental e a presença do BNDESPar na operação, mais do que justificável.
A presença do banco de fomento em decisões como essa não pode ser vista apenas sob a ótica da valorização dos papéis (embora esse aspecto, como é evidente, jamais possa ser ignorado por quem quer negociar com ações das mesmas companhias).
É bom que isso fique claro sobretudo agora que o BNDESPar será instado a apoiar a nova política industrial, lançada ontem em Brasília. A instituição será chamada a investir em empresas que estão sob ataque cerrado de competidores internacionais agressivos – que trabalham com custos de produção muito inferiores aos delas.
Alguns dos negócios apoiados, provavelmente, não conseguirão remunerar os acionistas na comparação com ações de outros empreendimentos. Mas permitirão que as empresas se fortaleçam e possam continuar cumprindo sua função, que é a de produzir, gerar lucro, dar empregos, recolher impostos e pôr a economia para girar. Este é o papel de um banco de fomento.
Fonte: Brasil Econômico, 04/08/2011
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