No filme de Lars Von Trier, o planeta Terra corre o risco de extinção pela colisão com o planeta Melancolia. Enquanto a colisão se aproxima, os habitantes vão se tornando melancólicos e sem energia para qualquer reação. A imagem é uma metáfora do que ocorre nos nossos dias. Os países desenvolvidos vivem uma grande crise econômica e se deparam com uma cena econômica melancólica, marcada pela recessão, desemprego e falta de oportunidades.
O que precisa ser observado, no entanto, é a evidente correlação desta crise com a consolidação da democracia nestes países e os enormes custos representados por seus estados de bem estar social. A lei de ferro da democracia tem sido o aumento do poder estatal por conta das demandas cada vez maiores da sociedade, assim como dos interesses dos próprios ocupantes do poder.
Os direitos a serem atendidos pelo estado são cada vez maiores e a conta vai sendo sempre jogada para a administração seguinte. Enquanto cresciam a taxas elevadas, fruto da acumulação histórica de poupança e investimentos, não era possível ver quais países estavam se tornando inviáveis e com a competitividade de suas empresas comprometida.
O processo de globalização se encarregou de mostrar as vantagens das empresas situadas em países de menor tributação, entraves burocráticos e leis sociais. Aos poucos a atividade econômica começou a desacelerar e aí tornaram-se aparentes e insuportáveis as dívidas destes países, em alguns casos superiores a 100% por cento do PIB. Outro ponto em comum a todos estes países é falência do sistema previdenciário, incapaz de suportar o ônus da aposentadoria de pessoas cada vez mais longevas.
A melancolia que invade os países desenvolvidos é típica do fim de uma festa de arromba: a festa foi maravilhosa, bebemos e nos divertimos além da conta, mas agora acabou e temos de lidar com a forte ressaca. O planeta Melancolia está em rota de colisão com a Terra, mas o Brasil ainda pode alterar sua própria rota: dizer que os gastos públicos precisam ser reduzidos, assim como a carga tributária é um truísmo que não levará a nada enquanto antes não forem limitadas as funções, atribuições e expectativas que a sociedade tem do poder estatal.
É o próprio modo de funcionamento do Estado em um regime democrático que precisa ser urgentemente repensado neste dia 15 de setembro, em que a ONU celebra o Dia Internacional da Democracia. Tudo deve ser feito rápido, evitando a colisão iminente.
Lars Von Trier não é aquele que, em plena mesa oficial do Festival de Cannes, proferiu palavras contra os judeus? Alexandre Coutinho Pagliarini