Com a democracia e imprensa livre, as autoridades não podem mais se esconder atrás de um “nada a declarar” quando confrontadas com alguma denúncia ou crítica. Na verdade, na era da internet e das redes sociais, mesmo as ditaduras são constrangidas a dar explicações.
No Brasil, muitas autoridades, especialmente da velha guarda, ainda tentam o silêncio. O pessoal mais novo, digamos assim, trata de responder – numa atitude também claramente influenciada pelas modernas assessorias de comunicação que têm sido contratadas pelos governos. Em alguns órgãos, a regra é, de fato, não deixar questões sem respostas.
Isso é um avanço em relação ao silêncio autoritário. Mas há respostas que teria sido melhor não dá-las. Na semana passada, por exemplo, o aeroporto de Vitória ficou interditado por causa do mau tempo, tal era a informação oficial. Errada. Estava interditado porque o equipamento que permitiria pousos e decolagens mesmo com tempo ruim está lá no aeroporto, mas empacotado.
Obviamente, o pessoal da cidade e os usuários desse aeroporto, em um centro econômico de importância nacional, têm feito seguidas reclamações. Resposta da Infraero: a licitação para a construção do prédio onde será instalado o novo equipamento já foi concluída as obras já podem ser iniciadas e depois de sua conclusão a bola já não estará com a Infraero caberá à Aeronáutica, talvez com outra licitação, instalar e operar os instrumentos. Prazo? Bem, vai depender…
Que tal?
A bronca é exatamente esta: o equipamento está lá, mas não funciona porque não combinaram a compra com as obras de instalação. E a Infraero responde: é isso mesmo, mas o prédio será feito. Tudo resolvido, não é mesmo?
É o mesmo caso das ambulâncias do SUS, novinhas em folha, e paradas por falta de alguma providência, conforme mostrou reportagem do Fantástico. Na cidade de São Paulo, há ambulâncias recolhidas por falta de licenciamento no Detran. É também igualzinho ao caso dos aparelhos empacotados há meses em hospitais do Rio, enquanto, aliás, o governo faz campanha para que as mulheres façam prevenção do câncer de mama.
Secretários de saúde explicaram: as ambulâncias estão paradas por falta de motorista, de telefone, de placa, etc. Os tomógrafos não funcionam por falta de pessoal. Ou seja, a reportagem aponta essa situação absurda, reveladora da tremenda incompetência, e as autoridades, quando respondem, confirmam que é isso mesmo.
Em 19 de setembro, neste espaço, com o título “Aeroportos da fila única”, falamos das precariedades do aeroporto de Foz de Iguaçu, uma história parecida com a de tantos outros instalados em cidades importantes. Entre outros problemas, Foz tem apenas duas esteiras para checagem das bagagens. Em dia de vôo internacional, mesmo que seja um único vôo e em horário separado, uma esteira fica reservada para essa operação. E os passageiros dos numerosos vôos nacionais sofrem na longa fila única.
Mas isso era um detalhe da história. A questão principal é que o aeroporto é totalmente insuficiente dada a demanda da cidade que poderia ser um hub (um aeroporto internacional de distribuição). Falávamos disso e dos esforços das autoridades de Foz para conseguir uma ampla reforma ou mesmo a construção de um novo aeroporto – iniciativas que topavam com as burocracias e ineficiências do governo federal.
Pois a assessoria da Infraero escreveu para dizer que uma esteira tinha mesmo de ficar reservada para o vôo internacional, por determinação de uma lei federal na qual, porém, não se encontra nada nesse sentido. E que em breve seria feita nova licitação, de modo que no futuro o aeroporto terá três esteiras.
Mais uma esteira! Quer dizer, sejamos justos. Também vão instalar ar condicionado para substituir os velhos ventiladores da sala de embarque.
Perderam a noção das coisas. Há falhas estruturais por toda parte – e não por falta de dinheiro, mas de competência – e o pessoal vem com essas explicações. Em Vitória, por exemplo, quando o novo sistema for instalado, se for, certamente já estará superado, em um aeroporto superado há muitos anos.
Em São Paulo, a prefeitura disse ao Fantástico que até o fim do ano vai licenciar as ambulâncias que estão paradas. Ou seja, precisam de três meses para emplacar veículos que estão recolhidos há mais meses.
Era melhor terem ficado quietos. Já que não fazem nada mesmo.
Esquizofrenia
Na coluna da semana passada, “Esquizofrenia na política econômica”, dizíamos que o presidente do Banco Central , Alexandre Tombini, está numa saia justa: ora é elogiado por estar aplicando bem o regime de metas de inflação ora é apoiado, inclusive por membros do governo, por estar ajudando a desmontar o tripé neoliberal de metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante.
Tombini não aceita a saia justa nem a esquizofrenia. Sustenta, com muita convicção, que o tripé está firme, que as três peças funcionam bem e que, na parte exclusiva do BC, o regime de metas tem sido rigorosamente aplicado, com autonomia. Afirma ainda que o Banco continua buscando a meta de 4,5% ao ano – ou seja, não vai se conformar com inflação rodando a 6% por muito tempo – e que tem argumentos técnicos para dizer que alcança o objetivo até de 2012.
Fonte: “O Estado de São Paulo”, 10/10/2011
Sardenberg bem ilustra que o estado não é “competente” para atuar em atividades economicas e não é por falta de dinheiro. Permiti que o estado atue na economia é contibuir para o caos. Esta seara petencem aos individuos que melhor sabem deempenhar esta função. A estado, o aparelho da violencia, cabe apenas à função de segurança a qual justifica os impostos que se paga que neste caso seria bem menor. Sardenberg ainda vai chegar neste ponto. Eu espero. É só valtar a ler Locke
Valeu Sardenberg! Constitucionalmente falando: não há democracia sem imprensa livre, nem se encontra na pós-modernidade mais espaço para o silêncio autoritário. Parabéns! Alexandre Coutinho Pagliarini (Especialista do Instituto Millenium)