Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que, até 2013, o fluxo de brasileiros que migraram para o exterior diminuiu. Apontada como um dos principais fatores para esta redução, a crise econômica de 2008 afetou países que tradicionalmente recebiam imigrantes para trabalhar. Na Europa e nos Estados Unidos, o desemprego aumentou e, como resultado, desde 2010, mais brasileiros voltaram e mais estrangeiros vieram para cá. Agora, o fluxo sinaliza uma inversão de sentido, embora estatísticas para o evento ainda não estejam disponíveis.
Enquanto o Brasil passa por um período de instabilidade econômica, alguns países afetados pela crise global dão sinais de recuperação. No país, o desemprego aumentou e, como resultado, mais brasileiros começam a olhar atentamente as oportunidades de trabalho em outros países. Um olhar não apenas para cima, para o hemisfério norte, mas em todas as direções do planeta.
Há sete anos, quando se formou em administração, Ana Cláudia Brunier planejava trabalhar no exterior, mas mudou de ideia, porque sua carreira profissional estava indo muito bem no Brasil. Ela trabalhava como coordenadora de Recursos Humanos, mas foi demitida por conta da situação econômica do país. Agora, à procura de recolocação no mercado desde o início do ano, ela conta que começou a considerar várias possibilidades. Ir para fora é uma delas. “Dou preferência para oportunidades aqui, mas do jeito que está, o que aparecer primeiro é o que vai rolar.”
América Latina
Sem ter definido ainda um país específico para trabalhar, Ana Cláudia não quer ficar tão distante assim de sua terra de origem. Ela dá preferência para países da América Latina. “Mais do que a Europa, a América Latina tem sido um bom refúgio para profissionais brasileiros”, afirma o diretor da recrutadora Hays, Luis Fernando Martins. Países como Colômbia, Peru, Chile, México e Panamá, que passam por períodos de crescimento econômico, vêm demandando profissionais estrangeiros qualificados. “Como alguns países latinos não são tão desenvolvidos quanto o Brasil, o executivo brasileiro sempre traz bons conhecimentos que agregam valor às operações”, comenta Martins.
Não são apenas nossos vizinhos que atraem mão de obra especializada. De acordo com o diretor da Área de Remuneração para América Latina do Hay Group, Carlos Siqueira, vários profissionais brasileiros estão buscando oportunidades em Angola e Moçambique devido à afinidade linguística e cultural.
Após passar dez meses estudando sueco em Estocolmo, a psicóloga Karla Pietsch foi contratada por uma empresa alemã como assistente de projetos para fazer traduções e dar treinamentos em Angola. Fez carreira na mesma empresa até alcançar o cargo de especialista de Recursos Humanos Internacional, que ocupa atualmente.
Karla conheceu seu marido, o sueco Johan Ivan Majic, aqui no Brasil. Para ficarem juntos, ele estava disposto a se mudar para cá, porém o salário que ela recebia como responsável pela área de recursos humanos de uma empresa não era suficiente para manter os dois até que seu marido aprendesse português e encontrasse um emprego.
Por isso, Karla largou o emprego e foi morar em Estocolmo. “Foi mais fácil eu abrir mão do meu emprego e meu marido segurar as pontas como mecânico na Suécia, já que ele ganhava quatro vezes mais do que eu, que gerenciava um RH no Brasil.” Outros fatores decisivos para sua mudança foram o desenvolvimento de sua carreira profissional e a melhoria da qualidade de vida.
Assim como Karla, muitos profissionais brasileiros visualizam condições de trabalho melhores em outros países. Tanto que, segundo estudo da consultoria de gestão em transição de carreiras Thomas Case, 90% dos executivos brasileiros aceitariam trabalhar fora, desde que não houvesse redução de salários e benefícios. Um dos motivos para tomar esta decisão, apontado por 70% dos entrevistados, é a atual situação macroeconômica do país.
Apesar de executivos estarem começando a olhar para outras regiões do mundo, levantamento da empresa de recrutamento Hays e do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) revela que, em 2014, dos profissionais que considerariam atuar no estrangeiro, mais de 80% iria para América do Norte ou Europa – regiões onde, tradicionalmente, a comunidade brasileira é maior. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, a população de brasileiros é estimada em mais de um milhão de pessoas na América do Norte e mais de 700 mil na Europa.
Para o diretor executivo da consultoria Thomas Case & Associados, Marshal Raffa, a recuperação da economia dos EUA, a facilidade de adaptação à cultura e a valorização do trabalho de brasileiros são alguns dos atrativos que explicam o grande interesse em trabalhar no país. No caso da Europa, o diretor da recrutadora Hays, Luis Fernando Martins, destaca que a situação econômica da região ainda é delicada e, por isso, existe um protecionismo contra trabalhadores de fora.
Fonte: Estadão.
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