Entrevista com o jornalista Merval Pereira
O premiado jornalista político de “O Globo”, Merval Pereira, acaba de lançar o livro “O Lulismo no Poder” (Record). Nele, seleciona crônicas sobre os oito anos de mandato do presidente e traça o perfil de Luíz Inácio Lula da Silva através da atuação que o escritor vai percebendo como populista e autoritária. O livro foi construído a partir do exercício diário dos artigos e, por isso, há previsões acertadas e outras não concretizadas. Para Merval, que mesmo durante a entrevista não interrompe o exercício profissional de analisar e antever situações, o principal acerto de suas crônicas foi ter mantido a coerência e apontar, desde o começo do mandato presidencial, a escalada do fortalecimento da figura do presidente, do populismo e de tentativas autoritárias de controle.
Merval aponta a crise com a saída do ministro da Fazenda Antonio Palocci e o escândalo do mensalão como os deflagradores do Lulismo. “Até o mensalão, eu mesmo que não votei no Lula, tinha uma boa vontade com a sua política econômica, concordava com a Reforma da Previdência e defendi muito o Palocci, mas depois ficou difícil sustentar o governo que estava sustentando a corrupção no país.”
Instituto Millenium: As crônicas reunidas no livro correspondem a um período de oito anos de jornalismo diário. Como foi selecioná-las e o que foi mais difícil deixar de fora?
Merval Pereira: O projeto inicial tinha mais temas. Dois capítulos tratariam da relação do PT com o PSDB e outro especificamente sobre o Lula, seu comportamento, a postura assumida no governo e suas falas. A meu ver, o livro ficaria muito mais completo com essas duas partes, mas ele já é um livro grande; então eu selecionei algumas crônicas sobre esses temas e encaixei em outras categorias dentro dos capítulos.
IM: Como o Sr. define o Lulismo? E como ele foi sendo percebido tanto nos seus relatos, quanto na atuação da presidência? Foi uma construção gradativa?
MP: Desde 2002 eu escrevi as colunas, que começaram sendo semanais, durante a campanha eleitoral, para depois virarem diárias. Para mim foi claro que depois que o (então ministro da Fazenda) Antonio Palocci e o (Presidente da Casa Civil) Zé Dirceu saíram do Governo, o Lula virou a referência. Antes, tudo caminhava com o Palocci tendo convencido o Lula de que o caminho (econômico) era o de manter a política anterior (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) e o Zé Dirceu concentrava tudo no Gabinete Civil – depois ficou claro que ele incomodava o Lula. O presidente sabia que o Dirceu tinha “gosto” (pelo poder), mas não era o protagonista, o protagonista, ainda que simbólico era ele mesmo.
Inclusive, em uma das crônicas que ficou de fora do livro, eu relatei uma história antiga de quando o Lula e o Zé Dirceu romperam e perderam o controle do Partido dos Trabalhadores, perdendo a eleição dentro do PT. Eles voltaram a se unir para retomar o controle do partido e perceberam que isso também funcionava no Governo.
Eu acho que o Lula não tiraria o Palocci nem o Dirceu se não fossem as circunstâncias que o obrigaram, mas acredito que ele tenha ficado feliz em neutralizar o Zé Dirceu. E a partir daí, o Lulismo seguiu. O Bolsa Família começou a fazer efeito, o (ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) Patrus Ananias fez a distribuição do programa pelas prefeituras, que era algo que o Frei Betto (um dos idealizadores do Fome Zero, que se transformou no Bolsa Família) não queria.
O Lulismo nasceu da crise com a saída do Palocci, do mensalão e dos efeitos das políticas sociais e do Bolsa Família, quando o Lula se colocou sozinho no cenário político e ele pode aproveitar os efeitos da política assistencialista.
IM: Prevendo os próximos anos, o Lulismo se manterá ou se encerra com esse mandato?
MP: Se a Dilma perder, é claro que o Lulismo entra em decadência. Com a Dilma no Governo e a disputa entre PT e PMDB, sei que o Lula vai tentar ter um certo protagonismo. Não sei se ele vai ter a força de atração que já teve. O Lulismo é uma força mais dinamista. O (presidente) Getúlio (Vargas) transformou estruturalmente o país: introduziu a Indústria, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criou as Leis Trabalhistas, fez mudanças que o Lula não fez. A popularidade de Lula se deve ao assistencialismo. Não sei se ele tem fôlego para manter esse protagonismo. Depende de como será a economia, a política, depende da solidariedade da Dilma com o Lula, que eu não sei como é.
IM: Você optou por manter artigos que previam situações que não se concretizaram por fidelidade ao exercício jornalístico. E sobre os acertos? Quais foram as principais previsões acertadas?
MP: O maior acerto foi o processo. Embora, eu considere acerto o que 80% da população que acha o governo ótimo não deve concordar muito comigo… Mas eu gostei de constatar que desde o início mantenho o mesmo ponto de vista. Eu fui acompanhando todo o processo e percebendo como Governo caminhava até o mensalão. Até lá, eu mesmo que não votei no Lula, tinha uma boa vontade com a sua política econômica, concordava com a Reforma da Previdência e defendi muito o Palocci, mas depois ficou difícil sustentar o governo que estava sustentando a corrupção no país. Em uma crônica, “Eles não usam fraque”, brincadeira com a peça “Eles não usam black-tie”, eu revelava logo a demagogia presente no fato de o presidente explorar o perfil operário e fui destacando nos textos. Aí foi aparecendo o resto, o quanto as instituições estatais como o Banco do Brasil, financiavam o PT, a crise do mensalão… A partir daí eu subo o tom (da crítica).
Desde o início, eu também venho denunciando o autoritarismo, as tentativas de controle da produção cultural e da liberdade de imprensa. Acho que entrada do Franklin Martins também colaborou para a relação conflituosa que se estabeleceu com os meios de comunicação. O livro mostra que tudo é um processo. O capítulo dedicado à política externa revela que já na posse, o presidente adota uma postura antiamericana. Também relato como o Itamaraty se aproximou dos países em desenvolvimento e no final, como o caso do Irã, realizou coisas sem sentido para história, como tomar partido dos países contra Israel. Foi um processo que começou lentamente.
Para os países emergentes, o Lula vende a imagem que ele é o único capaz de fazer a ponte combatendo os “loiros de olhos azuis”, ao mesmo tempo que convence os “loiros” de que ele é a pessoa ideal para combater a esquerda radical de (Hugo) Chávez. E o mundo ocidental gosta muito do exótico, e o Lula tem uma história fantástica, um operário que chegou à presidência. Para mim, ele é inteligente e soube aproveitar e construir muito bem essa imagem, mas em termos de política externa, de crescimento do comércio externo, não vejo nenhuma vantagem para o Brasil. A vantagem é pessoal, é dele.
Saiba mais sobre o livro “Lulismo no poder”
Veja Merval Pereira no programa “Espaço Aberto”
Arquivos PDF:
Apresentação de Francisco Carlos Teixeira
Introdução Do petismo ao Lulismo
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Entrevista com o jornalista Merval Pereira
O premiado jornalista político de “O Globo”, Merval Pereira, acaba de lançar o livro “O Lulismo no Poder” (Record). Nele, seleciona crônicas sobre os oito anos de mandato do presidente e traça o perfil de Luíz Inácio Lula da Silva através da atuação que o escritor vai percebendo como populista e autoritária. O livro foi construído a partir do exercício diário dos artigos e, por isso, há previsões acertadas e outras não concretizadas. Para Merval, que mesmo durante a entrevista não interrompe o exercício profissional de analisar e antever situações, o principal acerto de suas crônicas foi ter mantido a coerência e apontar, desde o começo do mandato presidencial, a escalada do fortalecimento da figura do presidente, do populismo e de tentativas autoritárias de controle.
Merval aponta a crise com a saída do ministro da Fazenda Antonio Palocci e o escândalo do mensalão como os deflagradores do Lulismo. “Até o mensalão, eu mesmo que não votei no Lula, tinha uma boa vontade com a sua política econômica, concordava com a Reforma da Previdência e defendi muito o Palocci, mas depois ficou difícil sustentar o governo que estava sustentando a corrupção no país.”
Instituto Millenium: As crônicas reunidas no livro correspondem a um período de oito anos de jornalismo diário. Como foi selecioná-las e o que foi mais difícil deixar de fora?
Merval Pereira: O projeto inicial tinha mais temas. Dois capítulos tratariam da relação do PT com o PSDB e outro especificamente sobre o Lula, seu comportamento, a postura assumida no governo e suas falas. A meu ver, o livro ficaria muito mais completo com essas duas partes, mas ele já é um livro grande; então eu selecionei algumas crônicas sobre esses temas e encaixei em outras categorias dentro dos capítulos.
IM: Como o Sr. define o Lulismo? E como ele foi sendo percebido tanto nos seus relatos, quanto na atuação da presidência? Foi uma construção gradativa?
MP: Desde 2002 eu escrevi as colunas, que começaram sendo semanais, durante a campanha eleitoral, para depois virarem diárias. Para mim foi claro que depois que o (então ministro da Fazenda) Antonio Palocci e o (Presidente da Casa Civil) Zé Dirceu saíram do Governo, o Lula virou a referência. Antes, tudo caminhava com o Palocci tendo convencido o Lula de que o caminho (econômico) era o de manter a política anterior (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) e o Zé Dirceu concentrava tudo no Gabinete Civil – depois ficou claro que ele incomodava o Lula. O presidente sabia que o Dirceu tinha “gosto” (pelo poder), mas não era o protagonista, o protagonista, ainda que simbólico era ele mesmo.
Inclusive, em uma das crônicas que ficou de fora do livro, eu relatei uma história antiga de quando o Lula e o Zé Dirceu romperam e perderam o controle do Partido dos Trabalhadores, perdendo a eleição dentro do PT. Eles voltaram a se unir para retomar o controle do partido e perceberam que isso também funcionava no Governo.
Eu acho que o Lula não tiraria o Palocci nem o Dirceu se não fossem as circunstâncias que o obrigaram, mas acredito que ele tenha ficado feliz em neutralizar o Zé Dirceu. E a partir daí, o Lulismo seguiu. O Bolsa Família começou a fazer efeito, o (ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) Patrus Ananias fez a distribuição do programa pelas prefeituras, que era algo que o Frei Betto (um dos idealizadores do Fome Zero, que se transformou no Bolsa Família) não queria.
O Lulismo nasceu da crise com a saída do Palocci, do mensalão e dos efeitos das políticas sociais e do Bolsa Família, quando o Lula se colocou sozinho no cenário político e ele pode aproveitar os efeitos da política assistencialista.
IM: Prevendo os próximos anos, o Lulismo se manterá ou se encerra com esse mandato?
MP: Se a Dilma perder, é claro que o Lulismo entra em decadência. Com a Dilma no Governo e a disputa entre PT e PMDB, sei que o Lula vai tentar ter um certo protagonismo. Não sei se ele vai ter a força de atração que já teve. O Lulismo é uma força mais dinamista. O (presidente) Getúlio (Vargas) transformou estruturalmente o país: introduziu a Indústria, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criou as Leis Trabalhistas, fez mudanças que o Lula não fez. A popularidade de Lula se deve ao assistencialismo. Não sei se ele tem fôlego para manter esse protagonismo. Depende de como será a economia, a política, depende da solidariedade da Dilma com o Lula, que eu não sei como é.
IM: Você optou por manter artigos que previam situações que não se concretizaram por fidelidade ao exercício jornalístico. E sobre os acertos? Quais foram as principais previsões acertadas?
MP: O maior acerto foi o processo. Embora, eu considere acerto o que 80% da população que acha o governo ótimo não deve concordar muito comigo… Mas eu gostei de constatar que desde o início mantenho o mesmo ponto de vista. Eu fui acompanhando todo o processo e percebendo como Governo caminhava até o mensalão. Até lá, eu mesmo que não votei no Lula, tinha uma boa vontade com a sua política econômica, concordava com a Reforma da Previdência e defendi muito o Palocci, mas depois ficou difícil sustentar o governo que estava sustentando a corrupção no país. Em uma crônica, “Eles não usam fraque”, brincadeira com a peça “Eles não usam black-tie”, eu revelava logo a demagogia presente no fato de o presidente explorar o perfil operário e fui destacando nos textos. Aí foi aparecendo o resto, o quanto as instituições estatais como o Banco do Brasil, financiavam o PT, a crise do mensalão… A partir daí eu subo o tom (da crítica).
Desde o início, eu também venho denunciando o autoritarismo, as tentativas de controle da produção cultural e da liberdade de imprensa. Acho que entrada do Franklin Martins também colaborou para a relação conflituosa que se estabeleceu com os meios de comunicação. O livro mostra que tudo é um processo. O capítulo dedicado à política externa revela que já na posse, o presidente adota uma postura antiamericana. Também relato como o Itamaraty se aproximou dos países em desenvolvimento e no final, como o caso do Irã, realizou coisas sem sentido para história, como tomar partido dos países contra Israel. Foi um processo que começou lentamente.
Para os países emergentes, o Lula vende a imagem que ele é o único capaz de fazer a ponte combatendo os “loiros de olhos azuis”, ao mesmo tempo que convence os “loiros” de que ele é a pessoa ideal para combater a esquerda radical de (Hugo) Chávez. E o mundo ocidental gosta muito do exótico, e o Lula tem uma história fantástica, um operário que chegou à presidência. Para mim, ele é inteligente e soube aproveitar e construir muito bem essa imagem, mas em termos de política externa, de crescimento do comércio externo, não vejo nenhuma vantagem para o Brasil. A vantagem é pessoal, é dele.
Saiba mais sobre o livro “Lulismo no poder”
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Entrevista com o jornalista Merval Pereira
O premiado jornalista político de “O Globo”, Merval Pereira, acaba de lançar o livro “O Lulismo no Poder” (Record). Nele, seleciona crônicas sobre os oito anos de mandato do presidente e traça o perfil de Luíz Inácio Lula da Silva através da atuação que o escritor vai percebendo como populista e autoritária. O livro foi construído a partir do exercício diário dos artigos e, por isso, há previsões acertadas e outras não concretizadas. Para Merval, que mesmo durante a entrevista não interrompe o exercício profissional de analisar e antever situações, o principal acerto de suas crônicas foi ter mantido a coerência e apontar, desde o começo do mandato presidencial, a escalada do fortalecimento da figura do presidente, do populismo e de tentativas autoritárias de controle.
Merval aponta a crise com a saída do ministro da Fazenda Antonio Palocci e o escândalo do mensalão como os deflagradores do Lulismo. “Até o mensalão, eu mesmo que não votei no Lula, tinha uma boa vontade com a sua política econômica, concordava com a Reforma da Previdência e defendi muito o Palocci, mas depois ficou difícil sustentar o governo que estava sustentando a corrupção no país.”
Instituto Millenium: As crônicas reunidas no livro correspondem a um período de oito anos de jornalismo diário. Como foi selecioná-las e o que foi mais difícil deixar de fora?
Merval Pereira: O projeto inicial tinha mais temas. Dois capítulos tratariam da relação do PT com o PSDB e outro especificamente sobre o Lula, seu comportamento, a postura assumida no governo e suas falas. A meu ver, o livro ficaria muito mais completo com essas duas partes, mas ele já é um livro grande; então eu selecionei algumas crônicas sobre esses temas e encaixei em outras categorias dentro dos capítulos.
IM: Como o Sr. define o Lulismo? E como ele foi sendo percebido tanto nos seus relatos, quanto na atuação da presidência? Foi uma construção gradativa?
MP: Desde 2002 eu escrevi as colunas, que começaram sendo semanais, durante a campanha eleitoral, para depois virarem diárias. Para mim foi claro que depois que o (então ministro da Fazenda) Antonio Palocci e o (Presidente da Casa Civil) Zé Dirceu saíram do Governo, o Lula virou a referência. Antes, tudo caminhava com o Palocci tendo convencido o Lula de que o caminho (econômico) era o de manter a política anterior (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) e o Zé Dirceu concentrava tudo no Gabinete Civil – depois ficou claro que ele incomodava o Lula. O presidente sabia que o Dirceu tinha “gosto” (pelo poder), mas não era o protagonista, o protagonista, ainda que simbólico era ele mesmo.
Inclusive, em uma das crônicas que ficou de fora do livro, eu relatei uma história antiga de quando o Lula e o Zé Dirceu romperam e perderam o controle do Partido dos Trabalhadores, perdendo a eleição dentro do PT. Eles voltaram a se unir para retomar o controle do partido e perceberam que isso também funcionava no Governo.
Eu acho que o Lula não tiraria o Palocci nem o Dirceu se não fossem as circunstâncias que o obrigaram, mas acredito que ele tenha ficado feliz em neutralizar o Zé Dirceu. E a partir daí, o Lulismo seguiu. O Bolsa Família começou a fazer efeito, o (ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) Patrus Ananias fez a distribuição do programa pelas prefeituras, que era algo que o Frei Betto (um dos idealizadores do Fome Zero, que se transformou no Bolsa Família) não queria.
O Lulismo nasceu da crise com a saída do Palocci, do mensalão e dos efeitos das políticas sociais e do Bolsa Família, quando o Lula se colocou sozinho no cenário político e ele pode aproveitar os efeitos da política assistencialista.
IM: Prevendo os próximos anos, o Lulismo se manterá ou se encerra com esse mandato?
MP: Se a Dilma perder, é claro que o Lulismo entra em decadência. Com a Dilma no Governo e a disputa entre PT e PMDB, sei que o Lula vai tentar ter um certo protagonismo. Não sei se ele vai ter a força de atração que já teve. O Lulismo é uma força mais dinamista. O (presidente) Getúlio (Vargas) transformou estruturalmente o país: introduziu a Indústria, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criou as Leis Trabalhistas, fez mudanças que o Lula não fez. A popularidade de Lula se deve ao assistencialismo. Não sei se ele tem fôlego para manter esse protagonismo. Depende de como será a economia, a política, depende da solidariedade da Dilma com o Lula, que eu não sei como é.
IM: Você optou por manter artigos que previam situações que não se concretizaram por fidelidade ao exercício jornalístico. E sobre os acertos? Quais foram as principais previsões acertadas?
MP: O maior acerto foi o processo. Embora, eu considere acerto o que 80% da população que acha o governo ótimo não deve concordar muito comigo… Mas eu gostei de constatar que desde o início mantenho o mesmo ponto de vista. Eu fui acompanhando todo o processo e percebendo como Governo caminhava até o mensalão. Até lá, eu mesmo que não votei no Lula, tinha uma boa vontade com a sua política econômica, concordava com a Reforma da Previdência e defendi muito o Palocci, mas depois ficou difícil sustentar o governo que estava sustentando a corrupção no país. Em uma crônica, “Eles não usam fraque”, brincadeira com a peça “Eles não usam black-tie”, eu revelava logo a demagogia presente no fato de o presidente explorar o perfil operário e fui destacando nos textos. Aí foi aparecendo o resto, o quanto as instituições estatais como o Banco do Brasil, financiavam o PT, a crise do mensalão… A partir daí eu subo o tom (da crítica).
Desde o início, eu também venho denunciando o autoritarismo, as tentativas de controle da produção cultural e da liberdade de imprensa. Acho que entrada do Franklin Martins também colaborou para a relação conflituosa que se estabeleceu com os meios de comunicação. O livro mostra que tudo é um processo. O capítulo dedicado à política externa revela que já na posse, o presidente adota uma postura antiamericana. Também relato como o Itamaraty se aproximou dos países em desenvolvimento e no final, como o caso do Irã, realizou coisas sem sentido para história, como tomar partido dos países contra Israel. Foi um processo que começou lentamente.
Para os países emergentes, o Lula vende a imagem que ele é o único capaz de fazer a ponte combatendo os “loiros de olhos azuis”, ao mesmo tempo que convence os “loiros” de que ele é a pessoa ideal para combater a esquerda radical de (Hugo) Chávez. E o mundo ocidental gosta muito do exótico, e o Lula tem uma história fantástica, um operário que chegou à presidência. Para mim, ele é inteligente e soube aproveitar e construir muito bem essa imagem, mas em termos de política externa, de crescimento do comércio externo, não vejo nenhuma vantagem para o Brasil. A vantagem é pessoal, é dele.
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este jornalista nao tem moral para falar do governo lula pois ele e ligado a pura direita deste pais e ao psdb que teve muito mais corupçao desde a saida do governo colo.