A matemática é vista por muitos alunos como uma das matérias mais difíceis ou complexas de aprender. Dessa forma, essa dificuldade faz com que os alunos não queiram se interessar pela disciplina. Um tabu. De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), mais de 70% dos jovens brasileiros com a faixa etária de 15 anos não dominam a matemática básica. Porém, apesar de parecer complicada, a matemática pode ser muito mais fácil, leve e divertida de se entender. Em entrevista ao Instituto Millenium, a presidente do Instituto Sidarta, Ya Jen Chang falou sobre um método inovador, que aproxima o estudo dos alunos. Ouça o podcast!
O Instituto Sidarta, em parceria com Centro de Pesquisas da Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, promove o programa Mentalidades Matemáticas, que apresenta a disciplina de uma forma mais aberta, criativa e visual. Segundo a presidente do instituto, Ya Jen Chang, a abordagem alia os estudos mais recentes da neurociência e aprendizagem da educadora matemática Jo Boaler, que é autora de nove livros, dentre eles “Mentalidades Matemáticas”, e cofundadora da plataforma Youcubed, que também foi traduzido pelo instituto e é composto por estudos, artigos, atividades e vídeos oferecidos gratuitamente, contando com mais de 400 mil acessos.
“A gente trouxe esse conjunto de iniciativas para o Brasil vislumbrando a possibilidade de implantar isso em escolas brasileiras, trazer uma possibilidade de melhoria para os jovens dentro do contexto brasileiro, tendo em vista uma nova proposta de ensino”, afirma Ya Jen Chang.
Leia também
Educação pós-pandemia terá análise de dados e ensino personalizado
+praTI: plataforma estimula a capacitação na tecnologia da informação
O objetivo do programa, iniciado em 2016 pelo instituto, é divulgar práticas contemporâneas e inovadoras para o ensino e a aprendizagem de matemática, considerando quatro frentes de trabalho: fundamentação, tropicalização, plataforma de expansão e comunicação. Um dos exercícios aplicados no programa é a “conversa numérica”, cujo princípio trabalhado dentro do programa é a questão de senso e flexibilidade numérica, em vez de usar o processo de memorização, fórmulas e procedimentos.
“Quando a gente fala de senso numérico, não é ver se o aluno acertou a conta ou não. Isso é importante, mas talvez o mais importante de quando a gente fala dessa nova abordagem é que ele consiga trabalhar com esses números de uma forma flexível. Ao invés de falar que 20 mais 20 é igual a 40, por exemplo, a pergunta talvez para ficar mais engajadora é de quantas formas você consegue fazer uma soma que o total dê 40. Com essa abordagem, a gente fala de matemática voltada para a profundidade do que para a velocidade”, salienta Ya Jen.
Formação de professores
Outro fator essencial para o sucesso do programa Mentalidades Matemáticas são os professores nesse processo de mudança de percepção, de que a matemática é uma disciplina extremamente acessível para todos. Para Ya Jen, quando os professores apresentam alguma ansiedade em relação à matemática, isso é passado diretamente aos alunos.
“O primeiro passo é como é a relação do professor com a disciplina, se é positiva, enxerga beleza por trás da matemática, ele consegue transmitir para seu aluno o encantamento pela disciplina”, diz, frisando que a matemática é a ciência dos padrões. Dessa forma, devido à integração no dia a dia das crianças com sistematização e os conceitos matemáticos, o papel de quem ensina neste lugar da matemática é fundamental.
+ Qual o papel da ciência de dados na pandemia?
“O papel do instrutor neste lugar da matemática é fundamental, pois é figura que inspira muitos alunos e faz as conexões mais profundas do que é a matemática inserida no nosso cotidiano. Muitos dos professores que a gente tem hoje também são frutos do nosso sistema de uma matemática muito fechada. Então, dentro do processo de formação, eles passam por essa vivência, para eventualmente conseguir transmitir e proporcionar essa mesma experiência para os seus alunos”, destaca.
Resultados promissores
Em janeiro deste ano, o instituto promoveu um curso de férias em que os participantes foram avaliados antes e depois. O resultado apontou que, após 10 dias, houve um avanço equivalente a 1,3 ano de escolaridade em conceitos matemáticos. “Foi um ganho muito alto para se ter em um espaço de tempo tão curto. Essa foi uma evidência do curso de férias. A gente fez uma prova antes e depois extremamente rigorosa, já dentro dos padrões internacionais, e percebemos o quanto esses alunos avançaram ao longo destes dez dias”, ressalta Ya Jen.
A presidente do Instituto Sidarta salienta também o resultado positivo da implementação do programa na Escola Estadual Henrique Dumont Villares, de ensino fundamental I. “Após o início da formação de professores, comparado com o ano anterior, saltaram de 16% de crianças que estavam no nível avançado para 32% após um ano de formação de professores, e para 51% após o segundo ano de formação. Ou seja, 51% dos alunos de terceiro ano estavam considerados nível avançados no SARESP [Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo], comparado com os 16% antes da gente entrar”, explica.
O projeto é desenvolvido em parceria com o Itaú Social e, devido aos resultados surpreendentes, há um apoio para levar essa abordagem para outros lugares do Brasil. Ya Jen destaca também a busca de parcerias com secretarias municipais de educação. “Queremos também levar esse programa para crianças de todos os estados e municípios brasileiros. Isso está muito claro, não só pelos próprios resultados de matemática como também da sua atitude perante a matemática. Você vai ver as crianças falando matemática de maneira desafiadora, com sorriso estampado no rosto, e como eles passaram a ver a matemática como uma das disciplinas favoritas”, enfatiza.