Um dos instrumentos retóricos do politicamente correto é o abuso da linguagem. “A questão não é apenas de métodos, mas também é disso e daquilo”. Com isso, desqualifica-se o interlocutor – que quer tratar da questão do método – e se encerra o assunto.
Por que é preciso alfabetizar as crianças? Por três razões: ninguém nasce sabendo; o alfabeto foi inventado, é arbitrário, portanto precisa ser aprendido; e para poder ler é preciso saber ler.
A alfabetização – como os demais problemas da educação escolar – é parte de um contexto. As variáveis mais importantes são o currículo, os professores, os materiais, os métodos, os instrumentos de avaliação, os incentivos e o contexto (escolar) onde ela ocorre. Portanto, alfabetização não é, obviamente, apenas uma questão de métodos.
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Há pelo menos 40 anos o Brasil tem sido desleixado em todas essas áreas – e não apenas na alfabetização. Os PCNs, no final da década de 90, entronizaram as ideologias construtivistas (chamo de ideologias porque já foram superadas por evidências científicas robustas), e de lá para cá essas ideias entraram por todos os poros do sistema educativo e conquistaram mentes e corações. Apesar do consenso nacional sobre o tema e dos bilhões de reais gastos pelo MEC, a grande maioria dos alunos continua sem saber ler. Se essas ideias são tão boas, onde estão os resultados? Onde estão as evidências? Depois de 40 anos, nada?
Métodos de alfabetização fazem diferença. Métodos de alfabetização fazem diferença especialmente para alunos provenientes de lares com níveis de escolaridade e níveis socioeconômicos mais baixos. Alfabetizar no 1º ano do ensino fundamental faz enorme diferença. Para tudo isso existem evidências científicas – nacionais e internacionais. Não só os métodos fazem diferença. Mas também fazem. E muita. É claro que é preciso cuidar dos outros aspectos. No próximo blog falaremos do currículo e os maus-tratos que a alfabetização recebe na BNCC.
Fonte: “Veja”, 11/01/2019