Perguntei ao filósofo Roberto Romano, em 2006, se acreditava que o “mensalão” de fato existiu e a resposta veio do fundo do poço, por onde perambula o pensamento dos filósofos: “Seria uma aberração do sistema se não tivesse existido”.
A voz de Roberto Romano é talvez a mais lúcida do país na hora de prospectarmos as causas dos flagelos que se abatem sobre a nossa velha e carcomida República. Trata-se, contudo, de uma voz que tem pouquíssima presença na mídia, pois esta navega hoje na superfície de todos os grandes temas. Nunca desce às causas que fazem eclodir os problemas. Gosto muito desta metáfora e acho que merece ser repetida ao falarmos de corrupção: se o Brasil fosse um paciente e a mídia um médico, diria que este vive a combater a febre, sem nunca se importar com a infecção que a produz.
Roberto Romano falou em sistema. É fácil descobrir o que pretendeu dizer com isso: para ele, o Brasil tem o modelo federativo mais centralizador do mundo e a centralização impôs a existência de um sistema controlado com argúcia e rigor pelas oligarquias regionais. Mais de 70% de tudo o que os brasileiros pagam de taxas e impostos vão parar nos cofres da União. Para não morrerem à míngua, os municípios elegem deputados e senadores e os mandam à Brasília para trazer de volta o dinheiro que serve para a construção da ponte e da escola. De emenda em emenda orçamentária, parte considerável desse dinheiro é desviada por corruptos e corruptores.
O Congresso Nacional só faz trabalhar para levar o dinheiro de volta para os municípios. Os brasileiros elegem seu novo presidente por milhões de votos e ele, quando assume, vai trombar, inexoravelmente, com um Congresso que trabalha com uma lógica miúda porque é uma instituição essencialmente regional. Conclusão, que é também do filósofo Roberto Romano: sem mensalão, nenhum presidente vai conseguir governar.
Uma das causas da corrupção, talvez a mais importante, é essa: a centralização de recursos e de poderes proporcionada por um modelo federativo que se manteve soberano durante toda a República. Ninguém tem interesse em modernizá-lo, mesmo que a Constituição de 1988 tenha aberto um capítulo – ainda não regulamentado – que prevê ampla autonomia municipal.
Roberto Romano, da Unicamp, nos dá, portanto, a possibilidade de avaliar o tamanho do pecado do ex-ministro José Dirceu, apontado como idealizador e coordenador do Mensalão ou do Valerioduto, como quiserem. Deve ser julgado pela história muito mais pelo que “não fez” do que propriamente pelo “que fez”. Ao fazer o que fez quis, certamente, apenas ampliar o índice de governabilidade de Lula e de seu partido, o PT, instalado no poder central pela primeira vez.
O “sistema” ao qual se refere Roberto Romano continua a mostrar a sua face terrível nestes primeiros meses de governo Dilma. A presidente já deve ter descoberto que não vai conseguir governar se não atender o pleito dos partidos da “base aliada” na remessa de recursos para o reduto eleitoral de deputados e senadores e não fizer “olhos grossos” para os inevitáveis desvios. A sua propalada faxina não passa de cortina de fumaça. A seu modo, Dilma também terá de pagar o seu mensalão.
Mas, afinal, o que José Dirceu não fez? Não moveu uma só palha na direção de modernizar esse sistema, trabalhar na regulamentação dos artigos constitucionais que prevêem maior autonomia política e financeira aos municípios, trabalhar na transformação do Congresso numa autêntica Casa de Leis. José Dirceu tem aparato intelectual e poder de articulação política para dar início a essa batalha. Preferiu, contudo, o caminho mais fácil, que foi o de achar que, mais uma vez, os meios vão justificar os fins. Aderiu sem nenhuma resistência à visão regional que avassala o Congresso Nacional, instituição pensada para legislar em favor das grandes causas da nação, mas transformada em grande ferramenta de todos os “malfeitos”.
Toninho Trevisan, por outro lado, é consultor e auditor empresarial de muito respeito no país. Ele aponta uma segunda – e também importante – causa da corrupção: o baixo índice de auditagem do dinheiro público no Brasil. Mostra, por exemplo, que cada tostão que sai dos cofres do governo alemão é acompanhado por severa auditoria até o instante de sua aplicação adequada. A Alemanha faz isso em dimensão mundial.
Se levássemos em conta apenas as denúncias de corrupção publicadas pela mídia nos últimos 10 anos, talvez tenhamos de lançar mão de megas computadores para calcular o montante do dinheiro que saiu dos cofres públicos e que não foi alvo de qualquer auditagem. Cadê uma lei que imponha rigorosa auditagem na aplicação de cada centavo que saia dos cofres públicos? Temos ainda uma terceira causa da corrupção. Tem sido apontada com veemência por ONGs que se dedicam à transparência da instância pública: é a verdadeira enxurrada de “cargos de confiança” e que tem permitido a contratação de milhares e milhares de pessoas sem concurso e sem critério pelos governos municipais, estaduais e federais. Esse é o espaço dos partidos que assumem o governo e não se enxerga nenhuma motivação profissional nas pessoas que assumem esses cargos, de salários ridículos, mas que valem muito a pena pela influência que as pessoas que os ocupam passam a exercer sobre a instância pública, inclusive e principalmente, sobre o destino dos recursos.
Houve uma certa frustração no último 7 de Setembro das pessoas que esperavam que os meios digitais seriam capazes de produzir uma grande mobilização nacional contra a corrupção. Entende-se o fracasso: o combate à corrupção não tem bandeiras muito claras e no imaginário das pessoas deve-se parecer como algo abstrato, genérico demais para produzir forte mobilização. E a meu ver a mídia é culpada por essa ausência de capacidade mobilizadora, justamente porque não tem avançado sobre as causas da corrupção.
Como Kafka argumenta que a verdade é uma só , mas tem múltiplas facetas, me atrevo a complementar a análise do prof. Romano, lembrando que o país é muito jovem e que a corrupção é endêmica , no ser humano.
A questão é reduzí-la a dimensões toleraveis, para que a sociedade possa sobreviver civilizadamente.
Para tanto,é essencial que o brasileiro eleitor se torne cidadão consciente, via escolaridade básica oompetente, a fim de desalojar a corja encarapitada no topo da pirâmide social.
Se eu ainda não estiver sob controle da censura Milenniana, gostaria de dizer que a corrupção deriva da motivação do principal (senão o único) valor CAPITALISTA: DINHEIRO, somente DINHEIRO…
Como a mídia tem esse valor, o DINHEIRO, como princípio maior, ela não pode se aprofundar na causa da corrupção, pois, assim, teria muito a perder (muito DINHEIRO)…
A escassa participação popular nos movimentos anticorrupção se deve ao fato de que o povo já sabe que ela é atávica e endêmica…CONTINUA…
CONT…
e que a mídia NUNCA fez nada para diminuí-la, agindo SEMPRE conforme seus ineresses…NUNCA fez nada porque atinge apenas uma das pontas da corrupção: os CORRUPTOS (políticos e servidores públicos)…já a outra ponta, os CORRUPTORES (empresários), a mídia NUNCA divulgou a cara ou o nome deles, receosa de perder as verbas dos anúncios das empresas dos CORRUPTORES…
Os CORRUPTOS o povo já os conhece…falta conhecer os CORRUPTORES (empresários)…CONTINUA…
CONT…
e divulgar os CORRUPTORES (empresários) seria um tiro no pé…
Como diz Lula, os governos anteriores governaram apenas para 1/3 da população brasileira, o que já era suficiente para eles (governantes e classes média e alta)…quando um governo popular se voltou para os excluídos, mesmo sem descuidar dos interesses da elite, esta, detentora da grande mídia, voltou todos os seus canhões para dinamitar o governo do PT…
CONTINUA…
CONT…
Faltou o articulista mencionar que o FHC também governou sob os auspícios do tal “mensalão”, assim como o Itamar, o Collor e o Sarney…desnecessário dizer que os governos militares utilizaram outro mecanismo, menos dispendioso: a força…
Portanto, o povo despertou da ignorância e observou que a CORRUPÇÃO sempre existiu e que NINGUÉM NUNCA fez nada para reduzí-la, o que o levou a descrer da “bondade” da mídia atual…CONT…
CONT…
Finalmente, a maioria do povo constatou o motivo de sua eterna miséria: o efeito da eterna “luta de classes” do Karl Marx…
O povo constatou que a elite quer tudo só pra ela, nada para o povo…
Se a mídia não cortar na própria carne, não evoluiremos nesse campo (a corrupção)…poderemos alcançar elevados níveis econômicos e sociais, mas a CORRUPÇÃO permeará nossa sociedade ad eternum…
A CORRUPÇÃO é irmã siamesa do CAPITALISMO!
Amigos do Millenium,
sei que visam permitir o confronto de ideias, condição básica de um espaço democrático, mas não seria interessante separar o que é opinião a respeito dos textos apresentados do proselitismo barato?
Já não chega termos que tolerar o besteirol esquerdiota de tipos como o tal Gerson acima, em todos os lugares, aqui também? O que ele posta aí, em várias msgs, é a velha lenga-lenga antidemocrática contra a imprensa, FHC, etc. Nos poupem, please!
Se uma MULHER, a Miriam Martinho, tem o pensamento acima, imagine um machista, lídimo representante da classe alta?
Não é à toa que o jornaleco “Estadão” submeteu ao ridículo a ministra-secretária de Proteção à Mulher, ao colocar sua foto ao lado da “capitalista” Gisele Bündchen e perguntado, sorrateiramente, qual delas estava certa (acerca de um comercial de lingerie)…é muita vagabundagem dessa elite brasileira…vão tomar no c….bando de hipócritas!
Democracia no c. dos outros é…
Por fim, a opinião da direiiota Miriam Martinho acima, só evidencia que o Instituto Millenium não é um órgão democrático, vez que não aceita opinião contrária a seus princípios…como disse um filósofo atual: “quando todos pensam igualmente, é sinal que ninguém está pensando”…
A tal Míriam Martinho não gosta de pensamento divergente…ah tá!
Faço uma ressalva na analise do articulista. Não considero o sr Trevisan pessoa idônea para emitir opinião sobre corrupção. Sua relação com o ex-presidente e familia deixou marcas. Quanto ao besteirol,era(?) prática do governo ter escribas prontos para esse exercicio no Brasil, assim como para promover sua imagem no exterior.
A divisão em classes é método aristocrático inventado pelo pastor comunista segundo a quantidade de lã e gordura que cada animal oferece. Gerson por certo não tem lã, nem gordura. Um vazio completo. Não serve a Marx.
A Constituição Vilã foi costurada pelos Estelionatários do Plano Cruzado, e vem sendo aperfeiçoada no prêt-à-porter que lhes convém. Ninguém sabe o que fazer. Ao resgate da Nação eu chamaria a polícia, isto é, as forças armadas. Para quem entende que a solução deva ser mais civilizada, o Instituto Milennium e congêneres poderiam selecionar e patrocinar uma constituinte, divulgando a obra com explicações em seus pontos relevantes, para que o povo promova a primavera. http://www.allmirante.blogspot.com
Os comentaristas CR e Miriam Martinho representam bem qual é o pensamento democrático do pessoalzinho do Instituto Millenium.
Parabéns a todos os envolvidos.
Não sou integrante do Millenium. Apenas leitora do portal. De qualquer forma, os comentários que se seguiram ao meu anterior a este, só demonstram a relevância de minha demanda. Censura e moderação não são a mesma coisa. Censura é o ato de impedir que determinada maneira de pensar, determinadas informações circulem pela sociedade. Moderação é uma ferramenta à disposição de owners de páginas da Web no sentido de filtrar “comentários” que não tem sequer referência com a postagem em pauta.