O novo Ministro da Saúde – típico produto, como tantos outros, dessa reforma ministerial flagrantemente acomodatícia e com vistas exclusivamente a simular cortes no orçamento e a cooptar peemedebistas, evitando assim o impeachment da senhora que ora ocupa a Presidência do país -, mal anunciado seu nome, antes mesmo de tomar posse, abriu a boca e mostrou os dentes, defendendo que a aberração apelidada de CPMF, além de ser aprovada pelo Congresso, passe a ser cobrada duplamente, por quem paga e por quem recebe o valor da transação financeira.
É isso mesmo, minha gente! De acordo com o proposto pelo novo ministro, se você fizesse uma transferência de, digamos, 2 mil reais para seu filho, ambos seriam taxados em 4 reais, ou seja, o Estado tomaria 8 reais da família, já que a alíquota do roubo institucionalizado é de 0,2%. Se você transferisse 10 mil reais para você mesmo, entre dois bancos em que tenha conta, seria assaltado em 20 reais. Mamma mia, incredibile!
[su_quote]A redução no número de ministérios feita pela presidente é para inglês ver[/su_quote]
Não me canso de dizer que, em se tratando de ministros, tudo leva a crer que só há dois tipos: os que saem na hora e os que saem depois da hora. Porém, depois desse primeiro palpite sinistro do novo ministro, devo acrescentar que, sem qualquer sombra de dúvida, há os que nunca deveriam entrar.
Nada tenho contra o sujeito, nem contra sua honra, nem mesmo contra suas intenções; aliás, nem o seu nome me animei a decorar. Porque minha ira de cidadão brasileiro transcende uma reles figura que se atreve a propor algo desse tipo, já que é contra as próprias instituições do país, instituições carcomidas e viciadas que permitem que uma proposta indecorosa, descabida e – com o perdão da palavra – burra como essa seja feita! Um sujeito que propões algo desse tipo deveria ter vergonha de fazê-lo, caso nossas instituições fossem minimamente aceitáveis. Mesmo sabendo que a probabilidade dessa estultice passar seja zero, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso não pode deixar de se revoltar contra o estado de coisas que se tornou costumeiro em nosso país, em que o Estado-sanguessuga cada vez precisa se alimentar de mais e mais e mais sangue dos pagadores de tributos, para sustentar suas infindáveis orgias “orçamentívoras”. E assim vem sendo desde 1500, quando Cabral aqui chegou…
É patente que a redução no número de ministérios feita pela presidente é para inglês ver, porque a economia de custos será mínima, diante do que, por exemplo, foi desviado nos esquemas do mensalão e do petrolão e dos milhares de cargos comissionados que o partido que ocupa o poder vem multiplicando desde 2003, aparelhando sem o menor pudor o Estado; é ridiculamente baixa para que possa ser chamada de ajuste fiscal; é um acinte à inteligência de um povo que, a julgar pelos representantes que sempre elegeu, nunca primou por possuir neurônios sadios; e é um achincalhe a quem conhece a boa teoria econômica.
É significativo que o próprio PMDB, sempre ávido por ministérios e cargos em empresas estatais, dá sinais claros de que percebeu isso. Disse uma jornalista bem informada que, no grupo do WhatSapp formado por deputados daquele partido, do qual participa o novo (que já nasceu velho, porque não deveria sequer ter entrado) ocupante da pasta da Saúde, houve uma gritaria geral contra a proposta indecorosa de taxar quem paga e quem recebe; que alguns chegaram a escrever que a CPMF, mesmo sem essa dupla taxação, não tem nenhuma chance de ser aprovada; e que outros, mais diretos – sempre admirei as pessoas que dizem o que precisa ser dito a quem precisa ouvir, sem mandar recados! – chegaram a sugerir que o partido indicasse outro parlamentar em seu lugar.
Pobre país! Roído pelas traças da burocracia, devorado pelas baratas do Estado, comido pelos ratos da má política, consumido pelos déficits orçamentários, pela dívida interna, pela extorsionária carga tributária, pela inflação, tudo isso como consequência da absoluta falta de ideias liberais por parte de seus representantes, caminha a passos largos para trás. Vez ou outra, historicamente, até conseguimos dar alguns passos à frente, como, por exemplo, na abertura dos portos de 1808 e no Plano Real, mas, invariavelmente, sempre insistimos, logo em seguida, a recuar. Com isso, não saímos do lugar e isso vem acontecendo geração após geração.
Esse registro sinistro do novo ministro é só um indicativo de como é importante lutarmos pelas boas ideias, porque somente elas poderão nos livrar dessa verdadeira escravidão imposta aos cidadãos pelos políticos.
Para finalizar com um tom otimista, o tempo de divulgar as boas ideias das liberdades individuais é exatamente agora. É tempo de trabalhar com denodo e confiança, para que, futuramente, qualquer político ou economista passe a ter vergonha de sugerir propostas como a da volta da CPMF e – barbaridade ainda maior – da dupla taxação na cobrança da CPMF.
Fonte: Blog do Ubiratan Iorio, 05/10/2015.
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