A possibilidade de viajar mais para o Exterior ou comprar produtos importados com maior fre- quência, gerada pelo real sobrevalorizado, tem sido comemorada por milhares de brasileiros. Entretanto, a taxa de câmbio atual é profundamente antissocial, pois limita de forma dramática a geração de empregos.
O fenômeno do real sobrevalorizado está diretamente ligado às atuais taxas de juros, ainda elevadas frente ao cenário mundial. Isso porque a taxa de juros segue atraindo expressivos volumes de capital, gerando um afluxo de dólares no país e fazendo com que o real se sobrevalorize. É bem verdade que o Banco Central promoveu uma expressiva redução na taxa básica de juros, atualmente em 8,75%, estimulando a retomada do consumo interno. Porém, a marcha de redução dos juros precisa ter continuidade. No Chile, por exemplo, a taxa é de 2,25%, já considerando a inflação.
Ao longo da recente história brasileira, a elevada taxa dos juros desempenhou um papel fundamental na contenção da inflação e nas políticas fiscais. Entretanto, é preciso mudar essa política, na medida em que, neste momento, não há mais riscos de inflação.
Não há dúvida de que a coordenação das taxas de juros pelo Banco Central é fundamental para a sustentabilidade da economia, mas gostaria de fazer uma reflexão hipotética sobre o tema: qual seria a taxa de juros no Brasil caso fosse permitida uma maior flutuação dela, em vez do estabelecimento de uma taxa fixa como normalmente ocorre? Provavelmente, ao ser regulada pela oferta e demanda, a taxa seria mais baixa.
A pergunta é o quanto a taxa ainda pode ser reduzida. A resposta é que ela, certamente, pode ser reduzida até alcançar os patamares de juros internacionais. Pode-ríamos, portanto, ter um nível de juros extremamente baixo, em razão do volume de nossas reservas.
Oferecer juros elevados gera um desestímulo ao investimento produtivo e à geração de empregos. A sobrevalorização do real também exerce efeitos danosos à economia ao reduzir a competitividade das exportações brasileiras frente ao comércio internacional. Países como a Coreia do Sul, assim como a maioria dos países asiáticos, construíram sua prosperidade em cima de moedas desvalorizadas. E deu certo.
No Brasil, vivemos um momento de reduzida demanda interna e baixa competitividade para enfrentar a concorrência no Exterior. Por exemplo, estima-se que, neste ano, a capacidade instalada do setor siderúrgico no Brasil exceda em 120% o consumo interno. Logo, como historicamente o país exporta excedentes de produção, é preciso ter mais demanda internacional.
No caso do setor automotivo, as vendas para o Exterior caíram 48% de janeiro a junho frente ao mesmo período do ano anterior. Como a capacidade do mercado interno é limitada, as exportações são essenciais para a expansão das empresas brasileiras e, principalmente, para a geração de empregos. Diante desse quadro, precisamos ter uma política de desenvolvimento industrial para a exportação, sendo que uma das principais ferramentas de incentivo é o câmbio.
A prioridade do Brasil precisa ser a geração de empregos. Existem milhares de pessoas que devem ser incluídas no circuito econômico. A meta, portanto, deve ser aproximar-se do pleno emprego, o que somente será atingido quando enfrentarmos de frente os desafios que travam o crescimento do país, realizando a reforma tributária, trabalhista e previdenciária, assim como aprimorando a infraestrutura existente.
Não podemos perder mais uma oportunidade de modernizar práticas históricas que impedem o nosso desenvolvimento. Portanto, é preciso aumentar as exportações na medida em que o mercado interno não consegue crescer ao ritmo da necessidade de inserção de milhares de pessoas na economia.
(Zero Hora – 23/08/2009)
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