A economia brasileira não está no rumo certo para um crescimento sustentável. A inflação acelerou, os gargalos de infraestrutura e mão de obra impedem um avanço mais sólido e o país corre o risco de viver um novo voo de galinha. As principais causas desta situação estão ligadas ao excessivo peso do governo na economia.
Falta poupança doméstica para investimentos produtivos, e falta maior descentralização na alocação dos recursos. Com reduzido nível de investimentos, e com o governo centralizando o crédito por meio de bancos estatais, há o risco de a economia sair dos trilhos num futuro próximo.
Uma nação só consegue crescer de forma sustentável investindo em bens de capital e educação. Para tanto, faz-se necessário aumentar a poupança, ou seja, deixar de consumir parte da produção atual. Com a fome insaciável do governo por recursos, resta pouco para o setor privado poupar. Como agravante, o governo usa em gastos correntes sua arrecadação de quase 40% do PIB, sobrando muito pouco para investimento.
Restam duas alternativas para suprir a falta de poupança doméstica: pegar poupança externa emprestada ou usar poupança forçada doméstica, por meio de uma política inflacionária. Ambas apresentam grandes riscos. A Era JK foi marcada pelo acelerado crescimento, apenas para descambar na inflação galopante em seguida. O “milagre econômico” do regime militar plantou as sementes da “década perdida” posterior.
Não existe almoço grátis. Um povo, assim como um indivíduo, pode até viver algum tempo dependendo de recursos alheios, mas somente se estes forem canalizados de forma eficiente para investimentos produtivos. A conta precisa ser paga depois, com juros. Tomar dinheiro emprestado para consumo corrente, ou então para investir em projetos ineficientes, é um caminho fadado ao fracasso.
Os excessos da Era PT ainda não cobraram a fatura graças ao cenário internacional. Com o forte crescimento chinês puxando o preço das commodities, e com taxas de juros praticamente nulas nos países ricos, os recursos migraram para países emergentes, como o Brasil. Mas até quando este quadro vai durar? Ficamos dependentes dos ventos externos, pois o governo não fez as reformas estruturais e não reduziu efetivamente seus gastos, para
permitir maior investimento.
Para piorar a situação, o governo expandiu de forma assustadora o crédito público. O BNDES praticamente triplicou seus ativos em apenas três anos! Seus desembolsos subsidiados são destinados a poucas e grandes empresas, e o governo ainda acredita que esta expansão creditícia não é inflacionária. Esse modelo já foi testado no passado, em inúmeros países, e sempre fracassou. O governo não tem capacidade para alocar de forma eficiente os recursos, sem falar dos riscos de uso de critérios políticos na decisão.
Não satisfeito, o governo aumentou a ingerência sobre a iniciativa privada também. O caso assombroso da pressão estatal pela demissão do presidente da Vale comprova isso. O aporte de capital da Caixa Econômica no falido Banco Panamericano demonstra outro episódio preocupante do modelo atual de gestão. Os governantes parecem realmente acreditar que os recursos são infindáveis e que eles possuem capacidade clarividente para selecionar as empresas “vencedoras” na economia.
A história, contudo, mostra que esta visão é totalmente equivocada. Hayek chamou de “arrogância fatal” esta maniaque alguns têm de acreditar no planejamento central. O “capitalismo de estado” nunca foi capaz de entregar bons resultados ao longo do tempo, sem falar dos riscos para as liberdades individuais sob este modelo. Infelizmente, os principais membros do governo parecem crer justamente nesta receita furada.
A ausência de uma oposição organizada que aponte estas falhas e apresente modelos alternativos é um fator muito preocupante. Parece que todos estão anestesiados com a bonança momentânea, tentando pegar carona nos números ainda favoráveis da economia. Falta uma liderança com visão de maior alcance. O modelo atual está se esgotando, e suas ineficiências logo virão à tona. A inflação já é um sinal disso. E, ainda que seja cedo para chamar de bolha, o rápido aumento do crédito cobrará seu preço.
O alerta, feito pelos economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, merece atenção: “Como se demonstrou reiteradamente ao longo do tempo, os governos dos países emergentes tendem a considerar os surtos favoráveis como tendências duradouras, o que, por seu turno, atiça uma farra de gastos e de empréstimos públicos, que termina em lágrimas.”
Fonte: O Globo, 05/04/2011
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