“Se a Petrobras é eficiente, ela não precisa do monopólio; se é ineficiente, não o merece”, costumava dizer o presidente Castelo Branco. Ele via acerto na decisão de criar uma empresa estatal de petróleo, mas não via razão para aprovar o monopólio e impedir que empresas privadas nacionais ou estrangeiras atuassem no setor.
[su_quote]O monopólio manteve o Brasil atrasado na prospecção e retardou a autossuficiência[/su_quote]
Ao criar a Petrobras em 1951, Getúlio Vargas não queria uma empresa monopolista. Ele queria uma estatal, mas sem monopólio. A proposta original enviada ao Congresso não propunha o monopólio e admitia, inclusive, a participação estrangeira na Petrobras. A emenda feita no Congresso introduziu a cláusula monopolista, sob discursos inflamados dos que julgavam estar defendendo a pátria, quando na verdade estavam condenando o país a seguir na dependência do fornecimento externo.
A liberdade de ingresso teria gerado quatro benefícios: a Petrobras seria submetida à competição (o que seria bom para a própria estatal), haveria entrada de tecnologia estrangeira, seriam atraídos capitais internacionais para o Brasil (algo importante para uma nação pobre e carente de investidores) e seria reduzida a dependência em relação ao petróleo importado.
Os monopólios são de dois tipos. Os naturais, aqueles que dependem da rede de distribuição tecnicamente impraticável de ser feita por várias empresas, como é o caso da oferta de energia, água e esgoto. Esses são justificáveis. E os monopólios legais, que dão a uma só empresa o direito de explorar determinada atividade, protegendo-a da concorrência. Neste caso, por não ser obrigada a competir, é impossível saber se a empresa é eficiente ou não, além de ser uma proteção para o desperdício, o atraso tecnológico e a corrupção.
O monopólio do petróleo foi um erro, resultante da aliança entre militares nacionalistas, intelectuais comunistas e políticos oportunistas, em uma mistura de fanatismo ideológico e ignorância econômica. Nos anos 40, a implantação da indústria nacional revelou o quanto o Brasil era dependente de suprimentos externos. Aço, celulose, papel, produtos químicos, máquinas e equipamentos eram importados, e a economia brasileira literalmente paralisaria se não fossem os fornecimentos norte-americanos. Como agravante, o país tinha fundamental dependência em relação ao petróleo importado.
Produzir petróleo nacional era necessidade urgente, não importando a origem dos capitais. Melhor seria produzir internamente, ainda que por capitais estrangeiros, porquanto era extrema a vulnerabilidade energética do Brasil, situação que preocupava o próprio governo dos Estados Unidos. A fórmula racional teria sido absorver investimentos e dividir riscos, que eram imensos no setor, deixando os escassos capitais nacionais para atividades de menor risco e remuneração certa.
O monopólio manteve o Brasil atrasado na prospecção e retardou a autossuficiência. Em 1973, quando os preços do barril explodiram, a Petrobras completava 22 anos com o país importando 75% do petróleo consumido internamente. O país, que era um pobre dependente do suprimento externo, viu sua economia ser lançada em grave crise que resultou na explosão da dívida externa, seguida de recessão e desemprego.
A autossuficiência somente viria a ser alcançada após 45 anos da aprovação do monopólio, e só foi possível pela estagnação da economia brasileira. Se a Petrobras tivesse de competir num mercado concorrencial, a corrupção e o desperdício agora revelados teriam lançado a empresa na insolvência econômica. Privá-la de competir fez mal a ela própria e ao Brasil.
Fonte: Gazeta do Povo, 06/02/2015.
“A autossuficiência somente viria a ser alcançada após 45 anos da aprovação do monopólio, e só foi possível pela estagnação da economia brasileira.” — Mas, atingimos a autossuficiência? Apesar de propalada por Lula e cia., baseado apenas nos números da produção de barris/dia contra o consumo nacional, depois veio a público que, na verdade, o país ainda depende de petróleo importado, do tipo leve, para produzir os principais derivados, diesel especialmente, pois a produção nacional é de óleo mi ais pesado, enquanto que as refinarias do país são antigas e usam tecnologia mais apropriada ao refino de óleo leve!
Concordo com os argumentos do sr. André Luiz, pois foi o que sempre li na imprensa escrita. Porém o que me espanta é: se a Petrobras adquiriu estes anos todos tecnologia para prospecção em águas profundas, porque nenhum presidente deste país teve a ideia de construir uma refinaria capaz de refinar óleo pesado que é o que nós produzimos até agora, antes do pré-sal?