As pessoas decentes usam a moralidade como uma adequação dos meios aos fins: se querem ser bem-sucedidos, usam o trabalho honesto e dedicado a tal finalidade; se querem respeito público, procuram agir com retidão, hombridade e responsabilidade social; se querem o amor dos filhos, procuram construir um lar de afeto, presença e doação pessoal. Enfim, a moralidade procura nos tornar humanamente superiores e mais conscientes dos dilemas da existência.
O problema é que, no zoológico da vida, há uma infinita diversidade de espécies. A visão romântica do bom homem, muitas vezes, apenas vê a absoluta maldade intencional. Em certas situações-limite, chegamos a questionar a racionalidade da razão, claramente incapaz de apresentar respostas satisfatórias. Logo, antes de maravilhosas teses intelectuais abstratas, deveríamos centrar os olhos nas insuficiências, contradições e defeitos humanos. Somente conhecendo o mistério da nossa natureza é que conseguiremos encontrar caminhos civilizatórios mais dignos e possíveis.
Aqui, chegamos ao problema da corrupção. O primeiro passo é admitirmos que não temos mais homens públicos como antigamente; a política é uma atividade decadente, feita por pessoas despreparadas para os altos encargos que lhe são confiados. E, como ficamos inertes, o quadro só piora. Os corruptos e corruptores que infestam a política brasileira são produtos de uma sociedade apática que gosta muito de falar de moralidade, mas que não se preocupa em fazer uma vida moral a todos.
Pensamos que, sendo corretos em nosso cotidiano individual, estamos ajudando a ter um Brasil mais decente. O fato é que precisamos de mais. Parafraseando o artista, nunca antes na história deste país estivemos em uma situação democrática tão delicada, caracterizada por uma impressionante incompetência na gestão pública e por um absoluto divórcio dos ideais de um governo sério, ético e honesto. Assim o fazem porque a maioria de bem é dispersa, desunida e acomodada.
A doentia moralidade da corrupção é roubar e seguir roubando. Só há um jeito de mudar: uma nova, enérgica e eficaz atitude cívica. Vem ou vai ficar na poltrona?
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