Por Jefferson Carlos Tolentino Rodrigues – Acadêmico do 10º período do curso de Direito da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES
A ordem internacional pode ser entendida, na afirmação de Hans Morgenthau, como uma incessante luta pelo poder. Nas palavras do professor, embora se reconheça geralmente que a base de toda política nacional é formada pela interação da expectativa de benefícios, do medo de desvantagens e do respeito ou amor por homens e instituições, em combinações sempre cambiantes, o fato é que a importância desses fatos para a política internacional resulta menos obvia, embora não menos real. Apregoa que cada lado da disputa internacional quer ampliar sua presença no jogo (de gente grande como afirmado pelo Ministro Celso Amorim) e toma atitudes que a priori podem ser ilógicas, mas possuem como elemento ontológico o aumento do seu poder político.
E o Brasil como um new player nesse jogo de gente grande, esta revisitando velhas receitas teóricas para, numa finalidade última, espalhar e sedimentar seu campo de influência política. E o Brasil está fazendo direito seu homework.
As várias reportagens, os vários fóruns multilaterais, as várias participações brasileiras, sinais implícitos e explícitos mostraram que o Brasil é uma voz a ser escutada, mas chega o momento do grande teste desse amadurecimento.
Veremos como o Brasil vai resolver a querela instaurada em Honduras. O episódio do asilo (que não é asilo) do presidente deposto, Manuel Zelaya, que numa loucura (desculpem os moderados, mas voltar para um país onde é procurado pela polícia para ficar retido na sala de uma embaixada…) retornou a Honduras e se “hospedou” na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa marcará um recrudescimento da participação brasileira no âmbito internacional ou atestará a nossa falta de preparo para soluções mais complexas. E o momento de verificar como a política externa brasileira irá se comportar num cenário hostil em que os interesses antes adstritos a transações comerciais e governamentais, pode colocar em risco a integridade do seu staff diplomático.
Resumindo, revisitamos Morgenthau. Entendemos que somente podemos ser considerados grandes e fortes se participarmos de várias frentes diplomáticas e se apresentarmos como um ente capaz de transparecer segurança política e confiabilidade, mesmo que a nossa principal característica (e arma) seja a resolução pacífica dos conflitos. Mas será resolvido pacificamente esse incidente diplomático? Pela solicitação de reunião do Conselho de Segurança da ONU, para discutir a querela… precipitado dizer.
Amado Luiz Cervo afirma que toda essa situação em Honduras é o preço que o presidente Lula está pagando pelo seu papel de bombeiro de conflitos. É a imagem que Lula e o governo tem de um governo moderado. Credita o professor a decisão de Zelaya em virtude do Brasil ter um peso político e moral muito grande em toda a América. Soma-se a isso a busca de ampliação política exposta. É, nas palavras do matuto, a fome com a vontade de comer.
Portanto, o Brasil conseguiu.
Está amadurecido e diante do seu “exame” diplomático para galgar ares mais altos no jogo político internacional. Cabe agora tentar resolver esse ilógico e inusitado problema: De um ex-atual-deposto presidente que se encontra asilado (que não é asilo) numa embaixada brasileira no seu próprio país, após ter ingressado no país (de onde foi expulso de pijamas). Se Dom Quixote descrevesse essa situação, não seria ela tão surreal.
E ainda alguns teimam em afirmar que política tem lógica. Bem que Bismarck disse: politics is not an exact science e essa inexatidão atesta a finalidade posta por Morgenthau: uma busca sempre crescente pela ampliação do poder político, onde os fins justificam os meios (ilógicos).
No Comment! Be the first one.