Fui a uma reunião organizada pelo Article 19 e POLIS no Free Word Centre em Farringdon em 27 de setembro. Os organizadores conseguiram juntar um impressionante painel de jornalistas e outros que tiveram experiências de violência contra jornalistas ao redor do mundo. No painel estavam Sorious Samura, Heather Blake, Uvindu Kurukulasuriya, Rodney Pinder, Christopher Cobb-Smith, Maziar Bahari, Nathalie Losekoot, Milica Pesic , e a reunião foi comandada por Charlie Beckett. Deixarei vocês mesmos pesquisarem no Google sobre estes participantes ou clicarem nos links para ver quem são.
Meu primeiro pensamento quando me sentei foi: se estes participantes fossem todos iranianos e a reunião fosse para um público iraniano, de jeito algum o coordenador conseguiria finalizar o evento nas duas horas especificadas. Na verdade, uma adição ao painel foi via Skype com um jornalista no México, cujo nome embaraçosamente esqueci. Créditos a Charlie Beckett, porém. Ele comandou a reunião muito bem, assim como todo o evento. Apesar da variedade de participantes, foi impecável e permanceu focado nos assuntos e terminou no horário.
Sorious Samura sugeriu que os governos ocidentais deveriam ligar ajuda à liberdade de imprensa e ao tratamento dado aos jornalistas. Heather Blake falou sobre o trabalho dos “Repórteres Sem Fronteiras” e sua luta para estender a Convenção de Genebra aos repórteres. Uvindu Kurukulasuriya falou sobre a situação no Sri Lanka, Rodney Pinder sobre o treinamento de jornalistas escalads para situações perigosas; nosso Maziar Bahari fez um excelente trabalho ao explicar a insegurança causada no regime no Irã pelos protestos pacíficos e disseminação de informação. Milica Pesic falou a respeito da situação no Azerbaijão e de sua experiência na Sérvia, e a hipocrisia dos governos ocidentais; Nathalie Losekoot se concentrou em alguns casos de jornalistas assassinados na Ucrânia, e Christopher Cobb-Smith, que não é jornalista, falou sobre como sua experiência no exército estava sendo usada para treinar jornalistas em zonas de guerra..
Todos levantaram alguns pontos válidos, mas eu estava morrendo de vontade de fazer minha pergunta. Tudo bem culpar a hipocrisia do governo e pedir para ligar a ajuda ocidental à liberdade de imprensa e à necessidade de treinamentos de segurança, etc. Mas e quanto a criticar os próprios jornalistas?
Mahmoud Ahmadinejad visitou Nova Iorque e foi tratado como uma celebridade fofa da mídia pelos âncoras dos EUA que o entrevistaram. Ahmadinejad e sua administração são responsáveis pelo maior número de jornalistas presos no mundo em proporção à população. E, mesmo assim, nenhum dos cinco (?) jornalistas americanos que o entrevistaram, que eu saiba, mencionou um único jornalista iraniano detido a ele, e ao invés disso, conduziram as entrevistas lhe fazendo perguntas inócuas, todas dentro da zona de conforto de Ahmadinejad e não conseguiram desafiá-lo porque não estavam atualizados com os fatos no Irã.
Também mencionei como outro exemplo o aniversário da Revolução Islâmica em fevereiro passado, quando o governo iraniano deu vistos a jornalistas estrangeiros basedos em restrições severas. Os jornalistas que foram sabiam que seriam contidos e não teriam suas próprias câmeras, e no final das contas acabariam reportando apenas o que o regime queria. Então por que foram? Para quê? Não teria ajudado a liberdade de imprensa e os jornalistas presos do Irã se todos tivessem se recusado a ir em protesto? E, finalmente, eu não poderia deixar de mencionar o “Channel 4”, que permitiu tempo de transmissão ininterrupto a Ahmadinejad para sua mensagem de Natal alternativa.
Tais comportamentos da mídia e dos próprios jornalistas servem apenas para desmoralizar o povo e os jornalistas detidos no Irã. Eles certamente não estão ajudando a liberdade de imprensa ou assegurando a segurança de jornalistas onde quer que seja. Dando tanto tempo de transmissão, e nesse formato, é exatamente o que torna o povo mal-informado e gera mais “idiotas úteis” no Ocidente.
Eu não sabia como minha pergunta seria encarada pelos jornalistas no painel e no publico. Eu já encontrei muitos jornalistas condescendentes como os John Simpsons, os Tisdales, os Fisks e as Anne Penkeths, que se consideram acima de qualquer crítica. E, vejam só, tive sorte desta vez, todos os participantes concordaram comigo e tive uma oportunidade de externar minhas frustrações com o circo da mídia que aconteceu em NY durante a visita de Ahmadinejad.
Publicado no blog de Potkin Azarmehr
Tradução: Anna Lim (annixvds@gmail.com)
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