Mais de 600 mil pessoas trabalham hoje como motoristas de aplicativos como Uber e 99 no Brasil, dirigindo pelas cidades oferecendo viagens. Para realizar esse serviço, entretanto, é necessário ter um instrumento: um carro em bom estado – algo que nem todo mundo que perdeu o emprego e encontrou nesse serviço uma saída para ter renda possui. Para atender essa classe de profissionais, startups e empresas tradicionais estão criando serviços de aluguel de carro focados em condutores de aplicativos.
Um dos grandes nomes do setor é a startup Kovi, fundada por dois ex-executivos do app de transporte 99, Adhemar Neto e João Costa. Eles decidiram montar o negócio depois de verem de perto as dores do motorista. “Muitos tinham problema em comprar um carro, pagar prestação e arcar com manutenção e seguro”, afirma Costa. “Conosco, eles têm um plano sem burocracia e também um app de gestão financeira.”
Com parcerias com montadoras e locadoras para oferecer o serviço, a Kovi tem planos que funcionam por quilometragem. Quem roda 5 mil quilômetros por semana paga R$ 369, enquanto os planos de 8 mil quilômetros saem por R$ 549. Além do tradicional cartão de crédito, também é possível pagar pelo aluguel do carro no boleto, parcelando ainda o valor do caução, que é de R$ 800 – algo que facilita o acesso de usuários desbancarizados. Em vez de comprar os veículos, a startup aluga os carros de parceiros e os oferece no aplicativo com benefícios como seguro, assistência técnica e até treinamentos.
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Fundada em julho do ano passado, a empresa já tem uma base de 3 mil motoristas rodando em Grande São Paulo e em Porto Alegre. O bom desempenho atraiu a atenção do fundo europeu Global Founders Capital (GFC), investidor de empresas como Facebook e LinkedIn: no começo do mês, o fundo liderou um aporte de US$ 30 milhões na Kovi. O plano da empresa, diz Costa, é usar os recursos para financiar a expansão internacional, que começará ainda este ano pelo México.
A Kovi não está sozinha nessa empreitada. É o caso também da Vai.Car, que nasceu nos Estados Unidos, mas começou suas atividades aqui no Brasil, fundada por um canadense e três brasileiros – um dos sócios, o presidente executivo Hélio Netto, tem experiência de sobra no setor. Foi durante 17 anos o diretor executivo da Hertz no Brasil. “Achei que poderia agregar e trazer algo novo ao setor”, diz Netto. Ativa por aqui desde dezembro de 2017, a empresa já realizou mais de 40 mil locações de carros. Um dos diferenciais da empresa, diz Netto, é seu algoritmo de aprovação dos motoristas, que cruza mais de 200 dados diferentes. A empresa também aceita transferências pela internet e boleto como forma de pagamento.
Ao contrário da Kovi, a Vai.Car oferece aos motoristas quilometragem livre e entrega os veículos na porta de suas casas – basta contratar pelo aplicativo. Os contratos têm duração mínima de um mês, mas podem ser pagos semana a semana – em planos que começam em R$ 379, para carros como o Chevrolet Onix Joy 1.0. Em vez de alugar seus carros, a empresa também aposta em um modelo mais clássico: compra os veículos direto das montadoras. Em setembro, adquiriu 800 unidades do Ford Ka Sedan, em uma operação que girou em torno de R$ 30 milhões. Além de motoristas, a empresa também atende o público comum – com foco especial nos usuários que não têm um carro, mas precisam dele para viajar no fim de semana.
Quem também está de olho nesse mercado é a PPCar, que hoje tem a maior parte de sua demanda nos motoristas de apps – segundo informações próprias, a empresa aluga cerca de 200 veículos por semana para este público.
Mesmo startups de aluguel de carro que não nasceram focadas no público de motoristas de aplicativo estão começando a olhar com cuidado para esses novos clientes. É o caso da moObie, plataforma de compartilhamento de carros que conecta quem tem um veículo sobrando a quem precisa de um.
Com mais de 25 mil veículos cadastrados no Brasil, a empresa acaba de lançar um serviço especial para motoristas de aplicativo. “Nossa maior frequência de aluguéis era no final de semana, para viagens e passeios. Os motoristas de apps movimentam a plataforma ao longo da semana”, diz Tamy Lin, presidente executiva da moObie. O aplicativo oferece aluguéis por períodos curtos, até mesmo uma diária.
Para Paulo Furquim de Azevedo, professor de negócios do Insper, empresas desse tipo são um resultado do sucesso das plataformas de transporte, que acabou criando novas oportunidades. “É como se fosse um aplicativo do aplicativo”, afirma.
Competição tem empresas tradicionais
Com tanta demanda, é de se esperar que as empresas tradicionais do setor de locação de veículos também tenham criado seus próprios sistemas. Tanto Movida como Unidas e Localiza tem páginas e condições especiais na internet para os condutores de aplicativos – a última por exemplo, lançou em 2018 um app voltado especificamente a esse público, o Localiza Drive.
“Temos muitas agências e a experiência necessária para atender motoristas de apps, com planos de pagamento semanal e atendimento personalizado”, diz Elvio Lupo, diretor executivo da divisão de aluguel de carros da empresa, fundada em 1973. Alugar um carro pela Localiza custa R$ 392 por semana, com variação de preços dinâmicos. A Movida, por sua vez, pede um aluguel mínimo por 30 dias, enquanto a Unidas tem planos diários ou mensais.
+ Por dentro do mundo das startups
Na visão de Daniel Grossi, cofundador da empresa de inovação Liga Ventures, as grandes locadoras têm pontos fortes que contam na competição. “Elas já tem uma capilaridade muito grande e uma rede de serviços bem estruturada, tanto para vistoria e manutenção, quanto para acompanhamento dos veículos e dos locadores. Além disso, elas têm um capital que lhes dá uma posição interessante nessas negociações”, afirma.
Por outro lado, startups como a Kovi representam um novo modelo de negócio. Regis Nieto, da consultoria BCG, diz que as startups têm chance de entrar na briga. “As grandes locadoras têm algumas travas, como exigir cartão de crédito e certo perfil financeiro para o motorista. O universo de empresas menores que sublocam carros para motoristas de aplicativo são mais flexíveis com esses requerimentos, para um público que nem sempre tem cartão de crédito”, afirma Nieto.
Para os especialistas, porém, o aluguel de carro para os motoristas de app é só o começo: na visão de Grossi, da Liga Ventures, devem começar a pipocar empresas de olho nesses profissionais – fazendo, por exemplo, serviços financeiros dedicados a eles. “É um movimento das empresas de olhar cada vez mais o veículo e a mobilidade como serviço, e não só como um produto, um carro que você vende e o coloca na mão do consumidor”, afirma o cofundador da empresa de inovação.
Fonte: “Estadão”