O Ministério Público em Minas Gerais expediu nesta segunda-feira, 18, intimações para ouvir, a partir desta semana, 20 pessoas no inquérito que apura a suposta utilização de candidaturas “laranja” pelo grupo político do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio (PSL), nas eleições de 2018. O promotor eleitoral Fernando Abreu, responsável pelo caso, disse nesta segunda que o inquérito pode evoluir para uma investigação sobre a ocorrência do crime de lavagem de dinheiro.
“A primeira coisa a fazer é certificar a existência dos candidatos laranja. Se essas pessoas receberam ou não os recursos e se gastaram em suas campanhas, se houve apropriação indébita de recursos públicos e falsidade ideológica. Depois, pode ser que se evolua para lavagem de dinheiro”, disse o promotor. Entre os intimados, estão candidatos, empresários e possíveis colaboradores de Marcelo Álvaro durante a campanha – só depois será definido se o ministro também prestará depoimento.
Por enquanto, as investigações se concentram nas prestações de contas de quatro candidatas do PSL em Minas, e nas declarações dadas ao MP por Cleuzenir Souza Barros Pereira, que concorreu ao cargo de deputada estadual.
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Em dezembro passado, Cleuzenir denunciou ao MP ter sido pressionada por pessoas ligadas ao hoje ministro a desviar recursos que recebeu da legenda via fundo eleitoral para despesas que não foram feitas em sua campanha. Segundo ela, a pressão ocorreu, inclusive, com o uso de arma de fogo por um homem que trabalharia para o PSL na região. A professora aposentada, no entanto, não mencionou o episódio no boletim de ocorrência que registrou na Polícia Civil de Minas. Ela disse que “esqueceu”, e que o boletim era apenas uma formalidade para dar entrada no processo. “Vale o depoimento ao Ministério Público”, afirmou.
Ao MP, ela relatou que representantes do partido prometeram um total de R$ 110 mil para sua campanha. “Afirmaram que R$ 50 mil viriam de doação da mãe de Marcelo Álvaro Antonio e R$ 60 mil do fundo eleitoral”, disse. A candidata afirma ter recebido, no entanto, R$ 60 mil do fundo eleitoral.
Cleuzenir relatou que um assessor do partido disse: “Manda R$ 50 mil e fica com R$ 10 mil para você fazer o que quiser”. “Respondi que não se pode fazer o que quiser com dinheiro de campanha”, relatou.
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Família
Dos R$ 60 mil recebidos do fundo eleitoral, Cleuzenir registrou R$ 12,7 mil como despesa com familiares – R$ 8.775 ao marido, Luiz Henrique Pereira, e R$ 4 mil para o irmão, Wilson Antonio Barbosa. Segundo ela, os valores registrados para o marido são referentes ao ressarcimento pelo uso dos automóveis do casal, que precisaram ser usados porque o PSL só liberou o dinheiro para campanha em 18 de setembro. O valor é lançado também como doação do marido.
Já os valores para o irmão, ela disse que foram para remunerá-lo pela coordenação da campanha. “Ele foi o principal coordenador.” Cleuzenir disse ter sofrido ameaças depois da denúncia e que, por isso, se mudou para o exterior. “Temo pela minha vida.”
Em nota, o ministro do Turismo afirmou que “considera a investigação uma ótima oportunidade de esclarecer os fatos e provar que sempre agiu estritamente dentro da lei”. Procurado, o PSL não se manifestou até a conclusão desta edição.
Fonte: “Exame”