O procurador-geral de Justiça do RJ, Eduardo Gussem, informou nesta segunda-feira (21) que 27 deputados são investigados na área cível por improbidade administrativa. A lista conta ainda com 75 assessores que tiveram movimentação bancária muito acima do que eles recebem ou recebiam. O Jornal Nacional localizou os assessores de alguns desses deputados para perguntar sobre as movimentações suspeitas, de acordo com o Coaf.
Os dados suspeitos constam em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A investigação do MP quer saber a origem e o destino das movimentações financeiras e também pretende esclarecer se esses funcionários eram obrigados a repassar parte dos salários que recebiam para os deputados, ou ainda se eram “fantasmas”, para que os parlamentares ficassem com os vencimentos.
Investigados
Dos 27 investigados, 21 nomes se tornaram públicos. Por ordem alfabética, são eles:
André Ceciliano (PT), o atual presidente da casa
Átila Nunes (MDB)
Benedito Alves Costa (PRB)
Carlos Minc (PSB)
Cel. Jairo (MDB)
Dr. Deodalto (DEM)
Eliomar Coelho (PSOL)
Flávio Bolsonaro (PSL)
Iranildo Campos (Solidariedade)
João Peixoto (Democracia Cristã)
Jorge Picciani (MDB)
Luiz Martins (PDT)
Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB)
Marcia Jeovani (DEM)
Márcio Pacheco (PSC)
Marcos Abrahão (Avante)
Marcos Muller (PHS)
Paulo Ramos (PDT)
Pedro Augusto (PSD)
Tio Carlos (Solidariedade)
Waldeck Carneiro (PT)
No levantamento do Coaf, Elisângela Barbieri, assessora do presidente em exercício da Alerj, deputado André Ceciliano (PT), foi quem movimentou a maior quantia. Entre janeiro de 2011 e julho de 2017, foram R$ 26,5 milhões. Várias das transferências que Elisângela recebeu são ligadas a uma empresa de material de construção dela.
Foram R$ 10,8 milhões que correspondem a depósitos em cheques, tendo como os principais depositantes empresas do ramo: comércio atacadista de materiais de construção em geral. Mas há também depósitos e transferências de dois servidores da Alerj.
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O deputado André Ceciliano (PT), presidente em exercício da Alerj, disse ter cobrado informações de suas assessores e que colocou seus sigilos fiscal, bancário e telefônico à disposição do MP.
Com um salário de 2,4 mil por mês, Jorge Luiz de Oliveira Fernandes é auxiliar-administrativo da Alerj e não trabalha no gabinete de nenhum deputado. O relatório do Coaf apontou que Jorge Luiz recebeu mais de R$ 24,4 mil entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. No entanto, o ex-assessor movimentou no banco um valor 35 vezes maior do que isso no período. Quase R$ 850 mil. Em conversa com a TV Globo, ele explicou a movimentação da seguinte maneira:
“O que aconteceu comigo, foi o seguinte. Tipo assim, meu ex-diretor, eu sempre fiz tudo pra ele. Ele ia construir uma casa, eu comprava o material do tijolo, piso… Ele queria comprar o carro, eu ia comprar pra ele. Gostou, eu ia e comprava. Mas isso, dinheiro dele. Tinha uma salário muito bom, como acontecia com outras pessoas. Ele pedia: ‘saca esse cheque pra mim?’, eu ia. Eu não tenho nada. Não tenho carro, não tenho imóvel novo. Não moro de aluguel, isso é herança do meu avô. Eu não tenho nada.”
Mas o Coaf levantou que, apenas na conta de Jorge Luiz, 17 assessores da Alerj fizeram depósitos.
Um dos que repassaram dinheiro a Jorge Luiz foi Danielle Motta Pereira Antunes, do gabinete do deputado Coronel Jairo, do MDB. Foram R$ 41 mil, o que representa quase tudo o que ela recebeu, ou, ainda, 94% da remuneração.
A defesa do deputado Coronel Jairo informou que o parlamentar não foi comunicado sobre o relatório.
Maria Teresa Avance de Oliveira, assessora do deputado Eliomar Coelho, do PSOL, ganhou R$ 87 mil em 13 meses. No entanto, R$ 60 mil do salário dela foram direto pra conta do chefe do gabinete, Eduardo Augusto Botelho.
O deputado Eliomar Coelho disse que o depósito de sua assessora para o chefe de gabinete ocorreu em âmbito privado, e acrescentou que irá ao MP para sanar qualquer dúvida.
Assessor do deputado Márcio Pacheco, do PSC, André Santolia da Silva Costa movimentou mais de R$ 1,7 milhão, também num período de 13 meses. Do total, mais de R$ 640 mil vieram de contas ligadas a servidores da Alerj.
Ainda segundo o Coaf, o chefe de gabinete do deputado Pedro Augusto, do PSD, é o recordista em repasses. Ele recebeu depósitos de 21 servidores da Alerj. Outro assessor, Sandro Rosário Soares de Sena, movimentou mais de R$ 1,3 milhão em um ano e sete meses. Ele é chefe de gabinete parlamentar do deputado Pedro Augusto.
À TV Globo, Sandro disse estar tranquilo sobre as movimentações identificadas pelo Coaf e justificou afirmando que tem um depósito de recicláveis.
“No momento certo, eu vou apresentar. Vou justificar… Nós temos amigos. Colega pede dinheiro emprestado, um dá… Coisa normal. Hoje, por exemplo, tem um aí… Que é amigo. Me empresta mil, dois mil, o cara paga…”
Mas o relatório do Coaf ainda aponta depósitos em valores muito mais altos. A assessora Valdineia da Silva Moraes transferiu mais de R$ 32 mil para Sandro.
Um assessor de deputado Carlos Minc, do PSB, também chama atenção pela quantidade de depósitos que recebeu. Antônio Lisboa Melo de Oliveira movimentou mais de meio milhão de reais em 13 meses. Parte desse dinheiro vinda de servidores da Alerj.
De acordo com a relação do Coaf, foram R$ 161.729,00 tendo como origem transferências recebidas de pessoas físicas, inclusive funcionários da Alerj, e pessoas jurídicas. Além disso, ele próprio repassou dinheiro para funcionários da Casa.
“Existem pessoas aqui que eu tenho empréstimos com as pessoas, entendeu? Empréstimos bancários que a pessoa tirou do Itaú pra mim, entendeu? E o que acontece, eu pago essas pessoas mensalmente. Essa movimentação é de empréstimo, entendeu? De dinheiro emprestado, entendeu? Tudo entre a gente mesmo”, explicou.
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O deputado Carlos Minc disse que as movimentações do assessor dele são fruto de empréstimos concedidos a conhecidos e que não houve nenhum aumento patrimonial dele ou do funcionário.
Em mais um caso, Marcelo Donato Faria do Carmo, assessor parlamentar do deputado Iranildo Campos, do Solidariedade, usa o mesmo argumento. Ele transferiu R$ 75 mil para a colega de gabinete Katia Lima Rocha Machado da Silva, 65% de tudo o que ganhou em 13 meses.
“Muita das vezes eu pedi a ela que me antecipasse o meu dinheiro, porque na época eu tava numa dificuldade financeira, porque eu tava fazendo obra. E ela por várias vezes me emprestou um dinheiro”, disse Marcelo.
Há, também, vários casos de assessores com salários menores, mas com grandes movimentações na Alerj. Fátima Souza Maranhão da Silva, do gabinete do deputado Coronel Jairo, do MDB, recebia R$ 1.611 por mês. E movimentou R$ 391 mil no período de um ano. Desse total, R$ 101 mil vieram de transferências de pessoas físicas, entre elas dez servidores da Alerj.
Winston Soares de Melo, também assessor do deputado Coronel Jairo, recebia o salário de R$ 4.091. Mas movimentou R$ 486 mil. Nesse caso, o próprio Coronel Jairo transferiu pro assessor R$ 9,5 mil.
Coronel Jairo foi um dos dez deputados presos pela polícia federal na Operação Furna da Onça, que apurava pagamento de propina e loteamento de cargos.
Já Marcelo Costa Barros Pose, assessor do ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani, do MDB, que está em prisão domiciliar pela Operação Cadeia Velha, movimentou R$ 1,2 milhão em 13 meses. Desse total, mais de R$ 100 mil foram depositados por pessoas físicias, incluindo 16 servidores da Alerj.
A defesa de Jorge Picciani afirmou que o deputado nunca teve ligação com Marcelo Pose, e que espera que ele esclareça os fatos ao MP.
A TV Globo não conseguiu contato com outros parlamentares citados na reportagem.
Fonte: “G1”