O Diretório Nacional do PT, reunido nos dias 1 e 2 de março em Fortaleza, emitiu um comunicado conclamando o governo da presidente Dilma Rousseff a dar início à reforma do marco regulatório das comunicações. Eufemismos à parte, não é de hoje que os petistas estão obstinados em controlar a mídia brasileira.
Segundo o comunicado, “o oligopólio que controla o sistema de mídia no Brasil é um dos mais fortes obstáculos… à transformação da realidade do nosso país”. No fundo, é disso que se trata: “Transformar a realidade.” Alunos aplicados do italiano Antônio Gramsci, eles sabem que a forma mais eficiente de dominar a sociedade é controlar o que os cidadãos acreditam ser verdadeiro ou falso, certo ou errado. Se você consegue cortar o senso crítico e moral do indivíduo, ele passa a obedecer à autoridade sem necessidade de coação.
O primeiro passo para conseguir tal controle é obter o monopólio da informação, ou pelo menos o monitoramento sistemático de grande parte dela. Não é outra a razão por que os Estados totalitários estabelecem veículos de comunicação públicos monopolistas, abolem a liberdade de expressão e de imprensa, manipulam a propaganda e tentam, obsessivamente, rastrear o que as pessoas dizem umas às outras. Enfim, é preciso deixar a informação predominantemente nas mãos dos agentes bem treinados do Estado.
Controlada a informação, o passo seguinte é dominar a verdade. Para começar, é necessário estabelecer o que é politicamente correto ou incorreto. Assim, algumas palavras vão sendo banidas do uso comum (criminoso, delinquente e bandido, p. ex.) e substituídas por formas menos agressivas (suspeito, acusado, réu), enquanto outras vão sendo mistificadas até tornarem-se palavrões (lucro e capitalista, p. ex.) ou santificadas a ponto de eliminar quaisquer controvérsias (p. ex., diversidade e sustentabilidade).
Relativismo e subjetivismo desempenham um papel tão importante quanto devastador sobre a manipulação dos fatos e da realidade, comprometendo a capacidade de pensar objetiva e independentemente. Em um mundo onde a realidade é construída, não podem existir verdades absolutas ou mesmo fatos incontestáveis. Enfim, “tudo é relativo”.
Para transformar a realidade, entretanto, é preciso não só modificar a linguagem, mas também o passado. Digna de nota, neste particular, é a recente pretensão de mexer na obra de Monteiro Lobato, a fim de torná-la politicamente correta. E, caso isso não seja possível, pode-se partir até para o banimento da própria obra, ainda que ela seja utilizada nas escolas brasileiras há décadas.
Em resumo, o trabalho de transformação da realidade começa pelo monopólio da informação, passa pela proibição de certas palavras e exaltação de outras, pela releitura da história e finda com a criminalização de pensamentos e ideias. Certamente, quem melhor resumiu o funcionamento dessa verdadeira máquina de desinformação foi George Orwell, no genial “1984”:
“Se você controla a língua, você controla o argumento. Se você controla o argumento, você controla a informação. Se você controla a informação, você controla a história. Se você controla a história, você controla o passado. Aquele que controla o passado controla o futuro.”
Fonte: O Globo, 29/05/2013
Hollywood não é de esquerda, muito menos quem tem o capitalismo monopolístico concentrador de renda como filosofia econômica. Você é contra a regulação da mídia no Brasil, porque ela do jeito que está, livre (de que?), vai muito bem, obrigado, e quer distância de mecanismos públicos de apoio (exceto que descontem no imposto de renda).
Você quer regulamentação mas não quer regulação? Voce sabe que a regulamentação é tão importante que o poder ´público está protegendo os agentes privados – os maiores – da mídia, e estes agentes dependem da ação pública, tanto que negociam milhões em lobby para se protegerem.
A filosofia é da renda, e se olharmos o faturamento publicitário das poucas empresas brasileiras de comunicação, (tão poucas que se é capaz de dar nome de “família” a cada uma delas, um “feudalismo midiático”), veremos uma concentração de renda que se caracteriza como oligopólio a nível nacional, e diversas concorrências monopolísticas em âmbito regional.
Parabéns. Melhor artigo publicado no IMIL em muito tempo.
Sr.João Luiz Mauad,
gostaria de deixar bem claro que não pertenço a qualquer partido político, mas um Estado Democrático de Direito, o mesmo que garante a liberdade de expressão, garante também o que se chama “princípio da inocência”, na forma de persecução penal adotada pela nossa Constituição. Por isso não concordo com a seguinte afirmação: “Assim, algumas palavras vão sendo banidas do uso comum (criminoso, delinquente e bandido, p. ex.) e substituídas por formas menos agressivas (suspeito, acusado, réu)”, uma vez que me parece que realmente este tratamento é estigmatizante, ainda que haja um aumento nítido dos níveis de crueldade nos crimes ocorridos no Brasil. Mas se queremos a ressocialização daqueles que erram, não deveríamos ser os primeiros a dar o exemplo a começar pela forma de tratamento, inclusive o “verbal”? Por que a imprensa não tece SEVERAS CRÍTICAS ao Estado que com suas omissões e desmandos fabrica marginais diariamente? Confira o art. 315 do Código Penal! É justo?