Uma campanha política é uma guerra de cinco batalhas. A primeira se inicia na convenção partidária com o lançamento dos nomes dos candidatos. Depois, a luta pelo crescimento do perfil que se dá no corpo a corpo. O terceiro embate ocorrerá daqui a alguns dias, após 20 de agosto, com a propaganda eleitoral gratuita no radio e na televisão. Na primeira quinzena de setembro, inicia-se o quarto desafio: consolidar a candidatura; e a quinta batalha, sob as armas dos debates e das mobilizações, visa alçar o candidato aos primeiros lugares do ranking. É o clímax, quando precisa alcançar o maior índice de intenção de voto.
Para cada fase são necessários munição, volume de comunicação, recursos para mobilização e articulação das bases. Todas essas armas carecem de recursos. Donde surge a hipótese: quem dispõe de mais recursos terá maiores condições para ser bem sucedido. Mas só a munição não garante a vitória e é preciso unir habilidade, tática e estratégia. Um candidato sem recursos ganha campanha? Sim, quando garante o apoio de entidades, movimentos sociais ou quando possui grande folha de serviços prestados à comunidade.
Para sair na frente, o primeiro passo é conhecer o perfil dos eleitores. Em tempos de corrupção escancarada, a sociedade brasileira desconfia de perfis que prometem obras faraônicas, expressam mensagens inflamadas e ações espetaculosas de marketing. O momento é favorável a figuras que direcionem o foco de seu discurso para os problemas urgentes das comunidades, fixando-se no “Brasil Real” e substituindo propostas grandiloquentes por ideias simples, viáveis e próximas ao cotidiano das pessoas. A discussão sobre política econômica – PIB, juros, câmbio, política fiscal, tributos – é abstração para as massas. Mas não deixa de ganhar repertórios selecionados.
A desconfiança generalizada vem se transformando na mola para a mudança de paradigma na política. A sociedade brasileira começa a analisar o processo de maneira mais atenta e racional. O voto sai do coração e sobe à cabeça. Até nos fundões do país o sistema clientelista dá sinais de esgotamento. O empreguismo e os favores passam a ser mais fiscalizados. No fundo, o eleitor quer perceber nos candidatos honestidade e experiência administrativa, a par de higienização política. O ideário da inovação e da renovação ganha espaço em meio a nomes carimbados do quadro nacional.
Neste pleito, aos candidatos se impõe ouvir o clamor do povo; não a voz da violência, mas a dos protestos que tomaram as ruas do País exigindo serviços públicos de qualidade e investimentos à altura dos monumentais estádios padrão Fifa. Os eleitores ampliam o foco. Em vez das demandas da micro política, querem saúde, educação, moradia, segurança, transporte etc. Tudo aquilo pelo qual paga – e obtém tão pouco retorno.
Na contramão dos avanços, o marketing eleitoral, ao que já se observa, patina nas pistas do passado. A razão para tanto é o crédito na teatralização da vida pública. Veremos novamente um teatro povoado por atores que recitam ladainhas decoradas e desenhado por profissionais que ainda acreditam nas técnicas de mistificação das massas. Estarão interessados em empacotar os perfis na embalagem opaca do ilusionismo.
Quem não se lembra do Arco do Futuro, promessa do candidato Fernando Haddad na ultima eleição? Quem não recorda os furas filas que deram a eleição a Celso Pitta para a prefeitura de SP, em tempos idos? Quando um desses magos da política-artifício se coloca no papel de Deus, ao dizer que elegeu fulanos, beltranos e sicranos, escancara-se o modelo da política como “império dos signos”. Não pode ser dignificante transformar o engodo em arte de extrema impostura.
A esperteza, o vale-tudo, a dramatização, os recursos artificiais e a hipocrisia têm sido a tônica da cultura política no ciclo da sociedade pós-industrial. A política e seus meios inspiram a personalização do poder, propiciando intensa competição utilitarista entre atores. O marketing, nessa esteira, serve ao princípio maquiavélico de que “os fins justificam os meios”. E o palanque da política acaba sendo o palco do teatro, de espetáculo, dos dramas e comédias. Como lembra Roger Gerard Schawrtzenberg, em “O Estado Espetáculo”, o espectador é convidado a “purgar suas paixões” por ator interposto, identificando-se com o herói, suas aflições e angústias. Essa é a realidade da política em nossos dias, a arte dos sentimentos forçados ou fabricados, principalmente em anos eleitorais.
Felizmente, o Brasil das ruas cheias de gente clamando por mudanças funciona como aríete contra os espetáculos falsos da política. O eleitor está mais apurado, mais exigente, mais desconfiado. As pesquisas mostram a inclinação do eleitorado para as mudanças. O índice de cerca de 30% de abstenção, votos nulos e brancos, que pode revelar desinteresse pela política, deve também ser entendido como um puxão de orelhas nos políticos e suas práticas. Programas eleitorais mostrando candidatos como produtos de consumo de massa, com a imagem construída via efeitos cosméticos, podem ser um bumerangue.
O que se vê hoje no cenário na campanha eleitoral para presidente é um triste retrato da longa distância que separa os anseios do povo do discurso dos candidatos. Não existe a menor conexão entre o recado das massas, esse ativismo ansioso que corre pelas redes sociais, e as falas vazias dirigidas a pequenos públicos escolhidos pelas assessorias dos partidos. Maior prova é este início de campanha gelado, desprovido de qualquer emoção.
Repetem-se práticas arcaicas num deserto de ideias e de promessas: candidatos beijando criancinhas e sorrindo para os fotógrafos, como se a fórmula ainda funcionasse como mágica para atração de votos. A velha política tenta se impor a uma população carente de mudanças, como mostram as pesquisas, mas se perde na própria lenga-lenga. O resultado é o desencanto.
A verdade se imporá sobre a ficção nesta campanha. O eleitor exige propostas sérias, viáveis, simples e compreensíveis, mas ainda não vislumbra nenhuma. O desejo de mudança demonstrado pela maioria do povo ainda paira no ar, sem ressonância no meio político.
Por tudo isso, nunca esteve tão na ordem do dia o lema “Chegou a hora de passar o Brasil a limpo”. É oportuno, mais uma vez, lembrar: candidato não é sabonete.
Fonte: GT Marketing e Comunicação, 11/08/2014
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