Vivemos tempos extraordinários. A moderna síntese ocidental — democracia e mercados — sofre equivocadas críticas. A persistência da grande crise contemporânea é percebida como denúncia de uma sociedade disfuncional. E não como sintoma dos abusos cometidos contra seu bom funcionamento, o que seria a interpretação correta dos males que experimentamos. Em verdadeiro atentado contra nosso regime fiduciário, os financistas quebraram os bancos, e os políticos quebraram os governos.
As digitais das autoridades na promoção dos excessos estão em toda parte. As do banco central americano, na manipulação dos juros e na expansão excessiva do crédito. As digitais do banco central chinês estão também na manipulação das taxas de câmbio, roubando empregos em todo o mundo. E as das autoridades europeias, em uma ambiciosa construção política com fundamentos econômicos ainda precários: a criação do euro. Surfaram na onda de crédito em que os riscos fiscais de países soberanos estavam submersos sob a nova moeda continental.
dos ocidentais
A penetração de bilhões de eurasianos nos mercados globais derrubou os salários e reduziu a competitividade dos ocidentais. Os americanos lançaram pontes de papel em busca da riqueza, tentando compensar com excesso de crédito a estagnação da produtividade do trabalho e a perda de competitividade industrial ante o desafio oriental. E os europeus, quando baixou a maré, passado o tsunami de eurocréditos, foram desnudados em suas indecentes práticas em nome do bem-estar social. Como diz Warren Buffett, quando baixa a maré é que se sabe quem estava nadando pelado.
Acompanhamos no momento dois impressionantes experimentos econômicos. Sabe-se que bancos centrais não podem assistir passivamente aos episódios de quebras bancárias. Milton Friedman atribuiu a Grande Depressão a uma fulminante contração monetária e creditícia permitida pelo Federal Reserve. O que não se sabia é o que acontece quando se vai ao outro extremo, expandindo-se por uma década o crédito fácil e o dinheiro barato. Ora, sabemos todos agora que o excesso de crédito promove bolhas em série e depois também quebra os bancos. A Europa, por sua vez, experimenta arranjo institucional de regimes fiscais autônomos embutidos em regime monetário supranacional. Abusos financeiros romperam as redes nacionais de solidariedade. Apela-se agora para a solidariedade internacional.
Fonte: O Globo, 25/06/2012
Mas, numa proporção de escala menor não é exatamente o que o governo brasileiro vem fazendo nos últimos 4 anos?
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