Logo depois da crise de 2008, o mundo parecia entrar em nova era, com novos paradigmas de crescimento econômico e progresso.
Os EUA, líderes da economia mundial por décadas, afundavam numa crise imprevisível. A Europa, muito regulada e com pouco crescimento, logo seria abalada. Já os BRICs e emergentes passaram a liderar a recuperação global.
Mas esse quadro não se sustentou, a começar pela China. Como resposta à crise, que abalou o modelo exportador aos países ricos, o país fez investimentos massivos em infraestrutura. Quando a via se esgotou pelos próprios excessos e erros, Pequim focou na criação de um robusto mercado interno, elevando renda e benefícios aos trabalhadores. Mas a mudança não decolou na velocidade prevista, e o crescimento, ainda alto nos padrões internacionais, caiu -o FMI prevê 6,8% neste ano. Por aqui, as mudanças na política econômica brasileira adotadas a partir de 2011 causaram redução dramática do crescimento, chegando ao patamar atual de PIB negativo.
Na Rússia, a queda do preço do petróleo e as sanções econômicas também levaram o país à recessão. A Índia é o único dos BRICs originais que ainda cresce a taxas robustas, impulsionada pelo novo governo de visão econômica liberal, mas ela não tem muito impacto global.
[su_quote]As mudanças na política econômica brasileira adotadas a partir de 2011 causaram redução dramática do crescimento[/su_quote]
Enquanto isso, os EUA tomaram medidas de contenção fiscal e de alta liquidez que levaram sua economia, fundamentada na alta produtividade e nos princípios de livre mercado, de volta ao crescimento e ao papel de grande motor da economia global.
Já a Europa aplicou reformas rígidas para restaurar o equilíbrio fiscal, reduzir entraves normativos e elevar a competitividade e a flexibilidade dos mercados. Elas estabilizaram a economia, e a perspectiva é de recuperação das médias históricas de crescimento.
O cenário mundial, portanto, está muito diferente da perspectiva de poucos anos atrás, num quadro que agora poderíamos chamar de volta ao normal. Países liderados pelos EUA, mais abertos e competitivos, com baixa regulação e governos menos intervencionistas, voltam a sustentar o crescimento mundial e a aumentar suas importações.
Isso abre um caminho à retomada da China, de novo baseada no modelo exportador para EUA e Europa -as exportações chinesas cresceram 20% no ano passado.
Se não é um rearranjo inédito, pois restaura o que prevaleceu no século passado, é uma mudança radical do que se esperava há alguns anos, quando setores do pensamento econômico brasileiro e de outros países proclamavam a falência do regime de livre mercado e a prevalência futura dos modelos mais centralizados e de forte intervenção. A realidade, porém, é outra.
Fonte: Folha de S. Paulo, 15/3/2015
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