A quem tiver oportunidade, recomendo uma visita ao Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. A instituição inaugurada em 1922 passou recentemente (2009) por uma reforma e a parte liberada ao público não deve nada aos bons museus europeus e americanos. Amplos quadros informativos bilíngues, vídeos com projeção que contam a história da instituição, iluminação adequada, equipe bem treinada e receptiva e ainda cuidados como presença constante de detectores de fumaça.
Até aí, tudo ótimo, orgulho mesmo de ver um museu nacional tão bem instalado. Estava perfeito até ver as garras da captura do estado por um partido, no caso o PT, que faz tábula rasa do que não lhe pertence ou agrada (já ouviram falar do “nunca antes na história desse país?”). O que uma maquete de plataforma e (principalmente) um uniforme e equipamento de segurança da Petrobras estão fazendo no meio das peças seculares? Compõe a conclusão de um quadro chamado “Riquezas do País — Mineração no Brasil”, que fala das expedições em busca de ouro, diamantes e outras pedras preciosas.
Poucos são os nomes citados, entre eles o de Martim Afonso de Souza, que comandou a primeira expedição na colônia à procura de pedras preciosas; Antônio Dias de Oliveira, descobridor de ouro em Vila Rica; Monteiro Lobato, pela campanha do petróleo; e Getúlio Vargas, que melou as mãos com o óleo numa foto histórica. Fora Vargas, o único presidente a aparecer no quadro é… Lula! Nem o presidente da República que foi também presidente da Petrobras, Ernesto Geisel (por quem não nutro nenhuma simpatia, mas Lula já elogiou bastante, bem como a Médici, como pode-se conferir em discurso oficial), é citado.
Outro absurdo: num quadro evolutivo da história da mineração não se fala da Vale do Rio Doce. A empresa que está entre as três maiores mineradoras do mundo e que tanto contribui para a nossa balança comercial não merece uma única menção no Museu Histórico Nacional. Porque hoje é uma empresa privada, não faz parte da história nacional?
O mesmo quadro faz um espetacular pulo e não menciona nenhum fato entre 1980 – descoberta de Serra Pelada – e 2003, quando menciona “Descobertas de grandes campos de petróleo e gás natural nas Bacias de Campos e Santos”. Converse com um engenheiro da Petrobras sobre o seu histórico e ele vai citar como marcos, sem dúvida, as descobertas de campos gigantes em águas profundas, iniciadas a partir de 1984, como a do Campo de Marlin, no ano seguinte. Mas se você não tem um conhecido que trabalhe lá basta verificar o site da Petrobras. Segundo o próprio cronograma da empresa, o pioneirismo em águas profundas teve início em 1986, de acordo com esta descrição: “A empresa, que até então comprava tecnologia, se viu diante do desafio de produzir petróleo a 400 metros de profundidade. Após pesquisar no mercado e descobrir que não havia tecnologia disponível para essa profundidade e tendo a necessidade de aumentar as reservas do país, a empresa decidiu investir no desenvolvimento de novas tecnologias. Foi criado, então o Procap – Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas. Era um projeto extremamente ambicioso pois, na época, a Petrobras explorava petróleo na faixa dos 150 metros e já tinha planos para os 1.000 metros. Foi um sucesso e a empresa é, atualmente, líder mundial na área”.
A Petrobras, em seu site, também reconhece que foi a partir da quebra do monopólio, em 1997, que a companhia “se torna uma das maiores empresas de petróleo do mundo”.
Em 2003, a Petrobras em seu site fala da comemoração dos 50 anos, do aumento da produção no Brasil e exterior e da política de patrocínios. Nada de “descobertas de grandes campos de petróleo e gás natural nas bacias de Campos e Santos” como destaca o quadro do Museu Histórico Nacional (que tem a sua versão online neste link, em Riquezas da Terra). E, na linha do tempo ilustrada do museu, há três indicações de grandes feitos da história da mineração nacional durante o período do atual governo. As “descobertas” de 2003, a presença de Lula em 2006 na FPSO P-50 no Espírito Santo e 2009 com a “exploração do pré-sal”.
É um fato gravíssimo a captura de uma instituição como o Museu Histórico Nacional a serviço de uma narrativa seletiva para beneficiar o partido no poder. É dessa forma que se constroem ditaduras.
(Publicado em “OrdemLivre.org”)
Meu caro, não reclame sobre o modo como a Petrobras é tratada pelo governo Lula. Seu patrão a teria rifado se tivesse chance.
“Seu patrão a teria rifado se tivesse chance.”
Comentarista ORRAIO, ficaria feliz se pudesse:
1. Definir quem, exatamente, é o “patrão” do autor;
2. O que você define por “rifar”; e
3. Alguma evidência que o “patrão” do autor teria “rifado” a Petrobras se tivesse chance, termos em aspas segundo suas definições a serem definidas.
Grato!
eu queria saber quem é o mantedor(patrocinador)deste museu
queria visitar este museu