Apesar de divergências em muitos assuntos, um tema aparece bem próximo da unanimidade no discurso de três dos quatro principais candidatos ao governo do Rio. O horário integral é a principal promessa para a Educação nos programas de Luiz Fernando Pezão (PMDB), Anthony Garotinho (PR) e Lindbergh Farias (PT). Especialistas ouvidos pelo GLOBO, porém, levantam questionamentos, apontando a chance de o próximo governador esbarrar em problemas de planejamento e falta de recursos.
Hoje, apenas 7,6% dos 513 mil alunos da rede estadual estudam em horário integral, já contando com os estudantes da rede Faetec. Das 1.164 escolas estaduais de ensino médio do Rio, apenas 211 têm turmas nessa modalidade. Apesar disso, os candidatos definem metas ambiciosas para os próximos quatro anos de governo: se eleitos, Pezão e Lindbergh pretendem universalizar o horário integral até 2018, enquanto Garotinho, mais modesto, pretende fazer o projeto atender pelo menos 50% da rede até o fim do mandato.
A Secretaria Estadual de Educação (Seeduc) planeja chegar a 100% das escolas daqui a dez anos, mas Pezão afirma que quer abranger toda a rede até 2018, quando terminaria seu segundo governo, mesma meta proposta por Lindbergh. Segundo o governador, para chegar aos recursos necessários, é preciso “botar mais 20% ou 30%” do que já é investido atualmente em Educação. O orçamento da Seeduc para 2014 é de R$ 4,6 bilhões.
— Eu quero antecipar, sempre fui ousado nos meus objetivos. Quero ver se cumpro até 2018, porque vamos ter os recursos dos royalties do petróleo, que são muito fortes. O Risolia (Wilson, secretário de Educação) quer fazer cem (escolas) no ano que vem. Pretendo botar mais recursos, para fazer mais. Quero antecipar essas metas, mas vamos começar com pé no chão. Precisamos ter essa geração com a cabeça ocupada, ensino médio diurno com educação profissionalizante ou bilíngue.
Lindbergh, segundo a coordenação de sua campanha, também pretende universalizar o horário integral até 2018. “Vamos fazer educação integral com ensino técnico e profissionalizante, reforço escolar e atividades esportivas, corporais e culturais”, diz a coordenação, por meio de nota. A candidatura petista defende que o financiamento pode vir do programa Brasil Profissionalizado, do governo federal, no qual seriam captados R$ 400 milhões, e dos royalties, que colaborariam com mais R$ 600 milhões.
Migração gradativa
Já Fernando Peregrino, coordenador do plano de governo de Garotinho, afirma que a proposta do candidato é selecionar escolas de todo o estado para fazer a migração gradativa para o horário integral, chegando a mais de 50% da rede no fim do governo. Para isso, seria feito um novo Plano de Cargos e Salários para os professores, que atuariam nessas escolas com horário único. Para o ensino profissionalizante, parcerias com universidades públicas e privadas ajudariam a suprir a necessidade de laboratórios.
— Não acho que o problema seja recursos, basta competência e vontade de fazer. E, para os professores, vamos dar carreira, salário e escola digna. Hoje o professor é um ambulante, vive de escola em escola — afirma Peregrino.
Especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam dificuldades à realização dos projetos. É o caso de Mozart Neves, diretor do Instituto Ayrton Senna e membro do conselho de governança do movimento Todos Pela Educação. Segundo ele, “a escola precisa ser uma, não duas”, como pode ocorrer caso seja feita apenas a complementação do contraturno com cursos profissionalizantes. Ele crê que não há recursos para universalizar o ensino em tempo integral em apenas quatro anos:
— Mesmo com o Fundeb pagando um adicional por aluno matriculado em tempo integral, não vai haver recursos para universalizar.
A experiência de pernambuco
Mozart cita sua experiência como secretário de Educação de Pernambuco, entre 2003 e 2006. Em 2004, foi implantada, em caráter experimental, a primeira escola de tempo integral do estado, que, na ocasião, tinha média de 2,7 no ensino médio público, segundo o Ideb. Dez anos depois, são cerca de 200, voltadas para a formação humanística, com atividades culturais e ensino interdisciplinar, e a média subiu para 3,6, com o estado ocupando o quarto lugar, empatado com Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. Por outro lado, ele menciona o exemplo do Ceará, que tentou seguir o modelo de ensino integral com cursos profissionalizantes e ficou estagnado nas últimas avaliações.
— O Ceará não avançou como deveria no Ideb. Porque, na prática, você precisa dar tempo para o aluno e o professor estudarem. E é importante fazer a parte prática das disciplinas em laboratórios, para trazer o conhecimento para a realidade.
Marli Abreu, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisadora da educação integral, defende a implantação do horário integral com ensino técnico, apesar de o modelo ser mais caro:
— Seria necessário um montante muito grande, especialmente para o ensino profissionalizante. Mas a Faetec funciona, mesmo não tendo a estrutura ideal.
A pesquisadora defende que os recursos sejam direcionados a equipar as escolas que ainda não dispõem de recursos tecnológicos e melhorar os salários dos professores.
— A cada dia cai a procura pelas licenciaturas, ninguém quer ser professor — lamenta.
Fonte: O Globo.
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