Em meio às propostas dos candidatos e do compartilhamento de informações e notícias sobre a eleição, circulou ontem nas redes sociais e aplicativos de mensagens uma enxurrada de conteúdos falsos. Textos, áudios e vídeos sobre a legitimidade da apuração e do processo eleitoral viralizaram. Em dois deles, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) — os dois candidatos à Presidência que chegaram ao segundo turno — foram os principais alvos dos boatos.
Não apenas os eleitores compartilharam mensagens fakes. Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável eleito ao Senado pelo Rio de Janeiro, postou no Twitter um vídeo em que um eleitor aciona a teclava “1” e, automaticamente, aparecia “13”, com a foto do candidato Fernando Haddad. As imagens, no entanto, acabaram sendo desmentidas após um posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O filho do capitão do Exército se retratou e excluiu a publicação.
O TSE esclareceu que o vídeo foi editado e que não há possibilidade de esse tipo de problema acontecer. O tribunal também se manifestou contra o conteúdo falso pelo Twitter.
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Em nota em seu site, a Justiça Eleitoral também informou que é falso o vídeo no qual a urna, supostamente, “autocompleta” o voto para presidente. “Os vídeos não mostram o teclado da urna, onde uma pessoa digita o restante do voto. Não existe a possibilidade de a urna auto completar o voto do eleitor, e isso pode ser comprovado pela auditoria de votação paralela”, diz o texto da nota.
O tribunal indicou ainda vídeos das auditorias de votação, realizadas, respectivamente, em 2008 e 2015.
O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) divulgou em seu canal oficial no YouTube um esclarecimento em que um técnico de edição explica a montagem do vídeo. “Nesse momento, no programa de edição existem dois barulhos de clique. Observe também que na hora em que a pessoa aperta a tecla não mostra o teclado por completo, sugerindo que uma segunda pessoa tenha feito esse clique”, esclareceu.
Camiseta de Candidatos
A campanha de Bolsonaro também foi alvo de mensagens com conteúdo falso. Circulou nas redes um texto em que Eduardo Bolsonaro, filho de Bolsonaro eleito deputado federal pelo PSL-SP, pedia que as pessoas não usassem camisetas de apoio a Jair Bolsonaro ao votar. O texto dizia que “nunca foi admitido este tipo de manifestação, mesmo silenciosa” e que ainda é considerada “boca de urna” e “crime”. “Está muito estranho esta historinha de poder ir votar com a camiseta do candidato. Isto está nós cheirando golpe, para anular o voto de vocês”, afirma o texto.
A mensagem, no entanto, não foi escrita por Eduardo Bolsonaro. Ele disse em postagens nas redes sociais que a mensagem atribuída a ele não é verdadeira. “A mensagem que está circulando nos grupos de WhatsApp atribuída a mim é falsa. Eu usarei camisa amarela e podem usar camisa do Bolsonaro também. O que é vedado é manifestação, grupos uniformizados se manifestarem e etc. Passem essa informação adiante.”
Na sexta-feira , o TSE decidiu que os eleitores podem usar camisetas de partidos no dia da eleição em manifestação individual e silenciosa, mas não em grupos. Também foi proibida a distribuição de camisetas e tentativa de convencimento de eleitores.
Campanha Massiva
Em meio à onda de conteúdos falsos, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, reconheceu ontem, durante entrevista coletiva, as dificuldades da Justiça Eleitoral em combater a difusão de fake news, uma das armas mais usadas em campanhas eleitorais deste ano.
A ministra disse que a distribuição massiva de notícias falsas com fins eleitorais é um fenômeno recente e, por isso, não se sabe ainda como enfrentar o problema.
— O TSE tem dificuldades para enfrentar esse problema (fake news e outros crimes), como nós todos temos.Toda colaboração que vier, inclusive da imprensa, será extremamente bem-vinda — disse a presidente do TSE, numa entrevista ao lado do ministro Raul Jungmann (Segurança Pública), no Centro Integrado de Comando e Controle Nacional, em Brasília.
Fonte: “O Globo”