Não há como não se indignar com a política nacional. A sucessão de episódios envolvendo corrupção é extraordinária, sem paralelos na história moderna do mundo. Ao consultar a Wikipedia, encontramos uma explicação solta, porém absolutamente pertinente: numa democracia, o direito à indignação é sagrado.
Mas a indignação é mais que um direito. É uma presença intensa e constante em nossa vida, por conta da repercussão do noticiário político e das explicações de especialistas sobre os acontecimentos. Nossa dose diária de indignação está assegurada – a ponto de seu excesso causar certa apatia e até mesmo afasia, que é o desejo consciente de não fazer juízo sobre alguma coisa.
O que parece ser intenso não é. Somos menos indignados do que deveríamos. Nossa indignação causa mais luz do que calor. Porque somos menos informados do que deveríamos e menos interessados em participar do que o necessário.
Caso nossa indignação fosse essencial, muito mais teria ocorrido em termos de transformações positivas. Portanto, devemos nos indignar, também, com nossa ignorância acerca dos fatos. Bem como com nossa omissão em participar do processo político. Parte expressiva de nossa indignação decorre do desejo de não querer participar da política e, outra parte, da vocação de muitos para criticar.
Também não devemos acreditar em tudo que alguém indignado diz.
A indignação é uma boa maneira de chamar a atenção para um problema, mas não deve ser sempre comprada pelo valor de face. Muitas vezes ela tem como objetivo provocar uma reação mais partidária do que política. Comentários indignados proliferam na mídia. Até mesmo pelo simples fato de a indignação despertar a atenção, tal qual a voz cavernosa do locutor da Ricardo Eletro anunciando ofertas sem juros! E, como nas vendas espalhafatosas, os juros estão embutidos. A indignação muitas vezes cobre a verdade com o manto de nossa ignorância sobre o assunto.
A melhor maneira de se avaliar um problema é fazendo uma análise detalhada e não preconceituosa dele, o que é difícil em tempos de ira e de imensa insatisfação com a política. Não apenas no Brasil, no mundo. A indignação – para não ser apenas uma expressão teatral de retórica – deveria vir acompanhada tanto de reflexão sobre o problema quanto de adequada explicação de seus motivos. Obviamente, trata-se de receita enfadonha para a vida em ritmo de aventura que desejamos viver e na qual estamos viciados. Tudo é muito rápido. Tudo deve ser digerido sem grandes reflexões, até que uma nova indignação venha para reforçar a nossa crença de que não há saída. Apenas indignar-se, porém, não basta para transformar o país.
Fonte: “Isto é”, 23/06/2017.
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