Você se considera criativo quando resolve um problema de primeira, sem tentar várias vezes? É melhor pensar novamente. Para o pesquisador britânico do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Kevin Ashton, criar algo depende de inúmeras tentativas, muitos erros e também de melhorias.
Ashton, que é considerado o criador do termo “internet das coisas”, pesquisa como funciona o processo criativo e de onde vêm as boas ideias.
O resultado desses estudos virou o livro “A história secreta da criatividade”, lançado neste mês no Brasil. “Nossas criações são grandes e numerosas demais para se originarem de poucos passos de poucas pessoas”, diz o autor no livro.Em entrevista a “Pequenas empresas e grandes negócios”, Ashton fala sobre o poder da criatividade, a importância de estar pronto para falhar e o surgimento das boas ideias.
Qual a diferença entre criatividade e inovação?
No uso comum, eu não tenho certeza se existe uma diferença. “Inovação” é uma palavra velha que vem do Latim “renew” e está sendo usada há cerca de 500 anos. “Criatividade” é uma palavra nova. Foi inventada em 1926 e virou o nome de um mito de que somente algumas pessoas – geralmente homens, brancos e de origem europeia – podem criar coisas. Essas pessoas foram chamadas de “gênios”, que tem dons especiais com habilidades que o resto de nós não pode copiar. Tudo isso é sem sentido, é claro. Criar é humano tanto quanto falar. Todos nós podemos fazer isso, mesmo que nem todos com a mesma aptidão.
Qual a habilidade mais importante de um criativo?
A habilidade de falhar. Falhar é uma habilidade porque você deve esperar por isso e sobreviver, física, emocional e financeiramente, a isso. Os inovadores mais bem sucedidos são sempre os que planejam múltiplas repetições de alguma coisa. Os menos sucedidos são os que esperam acertar na primeira (ou segunda) tentativa. Para ter sucesso na criação de algo, é preciso ser capaz de falhar constantemente.
Como funciona o processo criativo?
Um dos maiores estudiosos do comportamento criativo foi um psicólogo alemão chamado Karl Duncker, que fez sua pesquisa na década de 1930 e 1940. Duncker descobriu que a criação era apenas o pensamento comum, juntamente com persistência extraordinária. A nossa maneira de pensar é bastante simples: nós identificamos um problema, que poderia ser tão simples quanto escolher seus sapatos pela manhã ou tão complexo como inventar uma máquina voadora. Então, imagine e avalie uma solução. Se a primeira ideia tem problemas, nós buscamos resolvê-los ou imaginar outra solução. Às vezes, os problemas com uma solução nos inspiram a pensar em uma ideia melhor. Eventualmente, vamos resolver o problema.
Não existe uma fórmula de “processo criativo”. O truque é sentar e pensar sobre o problema, e não se distrair ou desanimar até você ter resolvido isso. Não há certamente qualquer magia, truques especiais ou atalhos. Você não precisa de um lápis particular ou uma cadeira específica. Você realmente só precisa calar o mundo e acho que, consistentemente, constantemente e com coragem. Isso, por sinal, é muito mais difícil de fazer do que parece.
Empreendedores costumam pensar que é muito complexo ter uma ideia de negócios. Mas você diz que é relativamente simples. De onde e como surgem as boas ideias?
Eu diria que as ideias são avaliadas em excesso. Todo mundo tem ideias, praticamente o tempo todo, e basicamente qualquer ideia pode ter sido pensada por muita gente. Ter ideias não te torna uma pessoa criativa. Criar coisas é o que te torna criativo. Você tem que de fato fazer algo. E este processo é complexo. Executar algo consiste em resolver milhares de pequenos problemas, muitos dos quais vão, sim, começar com ideias. Mas o valor da criação não está relacionado à ideia. Está relacionado à importância de resolver problemas e, então, em quão bem eles foram resolvidos.
Meu conselho para empreendedores – e qualquer um que queira criar – é sempre o mesmo. Comece. Realmente faça alguma coisa. Você vai rapidamente notar que a primeira coisa que você fizer não será tão boa quanto espera, mas você vai aprender como fazer melhor. E, conforme você continua fazendo, você continua criando até, eventualmente, achar que fez algo realmente bom. E aí você melhora isso.
Fonte: “Pequenas empresas e grandes negócios”, 12 de setembro de 2016.
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