Nesta semana, dois movimentos importantes para o futuro do país acontecem no Brasil: o dia D da Base —ou seja, a mobilização de todas as redes municipais e estaduais de escolas públicas para envolver os professores na tradução da recém-aprovada Base Nacional Comum Curricular em currículos— e a retomada da discussão da parte da Base correspondente ao ensino médio.
Antes que alguém se surpreenda com a vinculação desses eventos aparentemente corriqueiros aos próximos anos, é bom lembrar que a definição mais clara do que crianças e jovens devem aprender e os direitos de aprendizagem de cada um deles é o que vai permitir que professores, num trabalho coletivo e sequencial, saibam o que é esperado a cada ano de escolaridade e em cada etapa de ensino.
O trabalho dos professores é, por natureza, um trabalho de equipe e deve-se saber o que se espera que os alunos aprendam numa área para atuar em outras disciplinas e numa série escolar para ensinar na próxima.
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Mas não é suficiente ter a Base e currículos que a traduzam, contextualizados para cada área do país e para cada realidade escolar. É necessário contar com materiais curriculares que apoiem a atuação dos professores e muito investimento em formação continuada em serviço.
Afinal, há uma lei que estabelece que um terço do tempo do professor deve ser reservado para atividades extraclasse, ou seja, para preparar aulas —de preferência colaborativamente com seus pares—, corrigir trabalhos de alunos, entender quais são exatamente os déficits de aprendizagem deles e se capacitar para uma prática melhor.
Há, porém, uma realidade que pode prejudicar e muito a implementação da Base e de que pouco se fala: em muitas salas de aula, nas escolas públicas, o ano letivo nem sequer começou, pois faltam professores para dar aulas.
Sim, realizar concursos públicos e nomear professores é um processo moroso e cercado de cuidados para evitar clientelismo e baixa qualificação dos profissionais, mas um bom planejamento para que as aulas comecem de forma organizada e a decisão política séria de priorizar a educação deveriam impedir que situações como essas ocorressem.
O problema infelizmente não se esgota com a entrada dos novos professores. Durante todo o ano, aulas não acontecem por falta de professores substitutos que possam cobrir eventuais licenças médicas ou ausências.
Algumas cidades, como Sobral (CE), criaram mecanismos para chamar com agilidade substitutos e, não por acaso, apresentam melhores resultados educacionais.
É fundamental ter uma Base definindo direitos de aprendizagem, mas nada funcionará sem professores em todas as salas de aula, o ano todo!
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 08/03/2018