As democracias, mundo afora, vivem um momento difícil. A atual explosão de violência social nos Estados Unidos é ilustrativa: as angústias latentes do Covid-19, somando-se a fundas questões raciais, ao medo do desemprego e à ameaça da pobreza familiar, eclodiram com consequências ainda imprevisíveis. No campo político, uma liderança de choque, sem traços de empatia humana, potencializa as tensões no seio da sociedade civil, agravando divisões ao invés de unir o campo democrático.
Por consequência, num estalar dos dedos, uma comunidade altamente civilizada mergulha em ondas de violência radical, bem expondo que a semente da bestialidade apenas requer uma fresta para lançar frutos de ódio e rancor. E, assim, silenciosamente o espírito de união e fraternidade, que devem governar a civilização e as nações, vai sendo substituído pela raiva às diferenças humanas e sociais, transformando adversários em inimigos de sangue com o intencional apelo à ofensa oficial ao invés do diálogo democrático integrador.
Ora, está chegada a hora de interrompermos a marcha da insanidade em curso.
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Sem cortinas, o fomento a animosidades interiores é o berço do radicalismo político. Chega. As provocações estão indo longe demais. Temos que aprender com a História para não repetirmos os erros do passado, pois o futuro não merece ser refém dos dramas do ontem. Os desafios que nos esperam são graves e exigem pautas que nos façam mais e melhores; jamais menos ou piores, seja em nossa própria individualidade, em nossas relações familiares e na vida em sociedade.
Por tudo, o atual vácuo de liderança não será preenchido por personalidades histriônicas ou por palavras de ordem aos quatro ventos. Liderar é um ato responsabilidade para consigo e para com outros; exige empatia, capacidade de compreensão do drama humano e coragem para assunção pública das ideias transformadoras que nos levarão a patamares sociais e econômicos mais altos, na firme convicção do ideal democrático.
Se a polarização irracional está nos fazendo destruir, é porque chegou hora de nos olharmos como iguais e, com respeito e hombridade, debatermos assuntos difíceis, mas fundamentais à República. Infelizmente, com ofensas e agressões espúrias em praça pública, não chegaremos ao entendimento necessário. Aliás, com quem Trump e Bolsonaro antagonizarão amanhã?
Fonte: “Opinião e Crítica”, 09/06/2020