Conviveremos com um mundo interessante nos próximos anos. Usando a linguagem dos velejadores, estamos no meio de uma calmaria –sem vento para impulsionar o barco, mas também sem tempestade, isto é, sem crise.
A China, o grande motor que puxou muitas economias emergentes, está desacelerando fortemente, com avaliações de que o recuo pode ser ainda maior do que o dos números oficiais. O país cresceu muitos anos com estratégia de exportação agressiva, taxa de câmbio depreciada, mão de obra barata, ausência de benefícios sociais e trabalhistas e poupança doméstica enorme, cerca de 50% do PIB. Isso lhe permitia investir intensamente.
Mas quando a crise abateu os países ricos e reduziu as exportações chinesas, Pequim lançou grandes projetos de infraestrutura visando manter a demanda e substituir as exportações por investimentos, o que gerou excesso de capacidade e problemas de crédito.
Paralelamente, o país estimulou também o consumo doméstico. Mas, como muita coisa em economia, é mais fácil falar do que fazer, e as soluções chinesas envolvem mudanças radicais de hábitos da sociedade que levam anos.
Aparentemente, esse processo está atingindo limites, impactado também por investida contra a corrupção, o que é absolutamente necessário, mas, num primeiro momento, desorganiza ainda mais a máquina produtiva chinesa. Com tudo isso, a China pode ter desaceleração econômica importante nos próximos anos.
A Europa não está crescendo e provavelmente não crescerá no curto prazo. Seu problema é estrutural. Com a adoção do euro, houve excesso de endividamento de muitos países da região embalados pelas aparentes facilidades dos juros baixos e do capital alemão, esteio da moeda europeia. Estão agora numa fase penosa de adaptação, com situação fiscal ainda complicada e dependendo da capacidade de Mario Draghi, presidente do BC europeu, de replicar estratégia americana de alta liquidez. Assim, o mundo não deve esperar grande ajuda da Europa também.
Nos EUA, o crescimento voltou graças a uma economia dinâmica, um mercado de trabalho flexível, um ambiente empresarial altamente competitivo, um mercado de capitais aberto com fontes de financiamento abundantes e um sistema educacional que, apesar das queixas, é capaz de formar profissionais de alto nível em grande número.
Em resumo, o mundo, com a exceção dos EUA, não oferecerá grande ajuda à retomada do crescimento. Os emergentes portanto, terão que resolver os seus problemas domésticos de competitividade e produtividade para voltar a crescer a taxas desejadas. A boa notícia é que isso é viável.
Fonte: Folha de S.Paulo, 09/11/2014.
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