A história mostra que nem sempre a maioria tem razão. Ou, pior, quase sempre não tem. Porque há sempre pouca razão, e muita emoção e sentimentos, nas escolhas das multidões apaixonadas, que se tornam cegas e surdas para tudo que lhes contrarie a crença.
O povo argentino na Plaza de Mayo aplaudindo em delírio a ditadura do bêbado e odiado general Galtieri quando declarou guerra à Inglaterra. A ascensão de Hitler e do nazismo. O tempo do terror na Revolução Francesa.
Collor, o caçador de marajás, incendiando as massas. Jânio Quadros, bebum e mulherengo, defensor da moral e dos bons costumes, chamando JK de corrupto, proibindo o biquíni, e empolgando o país.
Quase sempre discordo da maioria, e agora ainda mais, diante das opções tenebrosas. Seja quem for, no dia seguinte à posse, estarei na oposição.
Leia mais
Carlos Alberto Sardenberg: Ele ganha. Governa?
Zeina Latif: De quem será a fatura?
É um pesadelo imaginar Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Vanessa Grazziotin de volta ao poder. A administração e as estatais aparelhadas por sindicalistas. Fundos de pensão saqueados por correligionários. Economistas populistas. E o constrangimento do presidente da República receber ordens da cadeia, como as facções criminosas. Pobre e heroico Haddad. Mas é o que temos, pelo egoísmo e vaidade de Lula, que torpedeou a aliança com o experiente, honesto e preparado Ciro Gomes, o único que seria agregador e competitivo, até pelo estilo agressivo, contra Bolsonaro.
O maior eleitor de Haddad é Lula, e de Bolsonaro é Lula também: o antipetismo massivo desmente qualquer conspiração das elites, da mídia golpista, de Sergio Moro e do TRF-4, para perseguir Lula. A verdade é que o Brasilzão real é conservador, com alguns bolsões liberais, e está muito bravo. Só precisava de alguém que o representasse.
+ Confira outros artigos de Nelson Motta
É como o “estado de paixão” amoroso, a pessoa não sabe, mas já está apaixonada, só falta o objeto da paixão, o manequim que vestirá as suas fantasias, e que o tempo e a realidade vão desnudar.
Tristes tempos em que cegos são guiados por loucos rumo ao abismo, diria o Rei Lear.
Fonte: “O Globo”, 19/10/2018