Nos anos 30 e 40, os cassinos apresentavam os melhores artistas brasileiros e estrelas internacionais e empregavam mais de 50 mil pessoas. Foram fechados em 1946 com uma canetada do marechal Eurico Gaspar Dutra, presidente da República, por pressão de sua esposa ultracatólica, Dona Santinha.
E é assim até hoje, embora todos joguem na Mega-Sena, nas loterias e nas raspadinhas bancadas pelo Estado, no bicho, no bingo e em cassinos clandestinos. Com a internet, pode-se apostar on-line, em tempo real, em qualquer hipódromo do mundo, ou em qualquer esporte, em sites internacionais de apostas onde “vale o digitado”, que não são controlados por governos, porque vivem de sua credibilidade e sabem que notícias de fraudes se espalham rapidamente na rede e acabam com uma empresa da noite para o dia.
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Durante décadas de resistência da imprensa conservadora, de governos e das igrejas, o jogo foi demonizado como destruidor de famílias, o que é verdade, mas também vale para a adição em álcool, sexo ou remédios tarja preta… e de abrir espaço à bandidagem e facilitar a lavagem de dinheiro — o que pode ser verdade ou não, porque não há nada mais fiscalizado nos Estados Unidos do que os cassinos, por eles mesmos, para evitar fraudes de jogadores e crupiês, e pelo Estado, com informações em tempo real à Receita Federal. Finalmente, parece que os cassinos serão legalizados, regulamentados e fiscalizados.
Falar em fiscalização no Brasil não é muito animador, mas diminuir a hipocrisia e aumentar o emprego e a receita de impostos já é um adianto.
Falando em hipocrisia, e o jogo do bicho, hein? Por que não legalizar? É tabu? Sua proibição só interessa a bicheiros, policiais e juízes corruptos. É o cassino dos pobres, que também são os maiores perdedores nas loterias exploradas pelo Estado. Os ricos e os turistas vão perder seus milhões em Punta del Este ou em Las Vegas, em vez de gastá-los no Brasil.
Como se sabe, a banca sempre ganha. E o Estado também. Com os cassinos e os sites de jogo do bicho pagando impostos, vai ter muito dinheiro para investir no oposto da jogatina: saúde e educação.
Fonte: “O Globo”, 23/03/2018