Fundamentos econômicos lamentavelmente destruídos. Do lado fiscal, agigantamento do Estado, aparelhamento partidário deste, gastos permanentemente crescentes estraçalhando as possibilidades de equilíbrio orçamentário que, mesmo sem nunca ter sido atingido, ao menos não era explosivo. Em maio, o maior déficit primário desde muitos anos; déficit nominal já ultrapassando os 4% do PIB. Na esfera cambial, abandono do regime de câmbio flutuante e consequente “administração” da taxa de câmbio mediante intervenções do Banco Central, mantendo o real sobrevalorizado em relação ao dólar (e ao Euro) para, repetindo um erro mais velho do que Matusalém, “controlar” a inflação de preços; contas externas em queda livre. Regime monetário também espicaçado: metas de inflação lenientes e mesmo assim descumpridas; inflação de preços efetiva, descontadas as pajelanças para engessá-la mediante represamento de tarifas, beirando os 8% ao ano, acima, portando, do limite superior da meta; falta de discernimento entre causa e efeito, para saber que inflação não é o crescimento dos preços, mas sim a emissão de moeda; crédito recentemente estimulado em tempos de alta dos índices de preços; taxa Selic apontando para o alto nos próximos meses, após cerca de seis anos de sucessivas baixas do Copom, movidas politicamente para “estimular” a economia. Política externa completamente escrava da ideologia, acordos danosos à nossa economia com parceiros que em pouco ou nada podem beneficiá-la; tarifas especiais contra produtos de parceiros comerciais tradicionais, como “castigo” por serem capitalistas; alinhamento com países do Mercosul e outros de economias praticamente rupestres, sem qualquer ganho para nosso país; afugentamento de investimentos externos, pelas restrições às liberdades e mudanças frequentes na política econômica.
Obstáculos à livre iniciativa e desestímulos a investimentos e à busca pela eficiência. Ações de empresas estatais despencando como resultado de operações danosas ao patrimônio dos acionistas (e dos pagadores de tributos). E nem quero escrever sobre a questão, endêmica, da corrupção. Quero me ater tão somente a esse quadro da economia. Um quadro preocupante, sem qualquer dúvida.
Tudo isso – e muito mais – não é invenção, ou picuinha entre economistas, ou simples oposição política ao governo, ou mera antipatia pelos que estão no poder. São fatos concretos, frios, indiscutíveis e irrefutáveis. Quando olhamos para o futuro, qualquer economista com formação razoável, seja “austríaco”, monetarista ou mesmo keynesiano, sabe o que eles significam.
A verdade é que temos uma bomba relógio, que vem sendo armada desde a metade do segundo mandato do governo anterior, quando, para enfrentar a crise internacional – que foi então diagnosticada como uma “marolinha” – se estimulou o crédito barato e se reduziu a taxa Selic para “puxar” a demanda (e para vencer as eleições de 2010). Essa bomba está prestes a explodir. Nada de alarmismos, de previsões de fuga astronômica de capitais, de hiperinflação, de superdesemprego, de confiscos de poupança, de congelamentos de preços, de calotes do governo ou de caos generalizado. O economista que disser isso, ou pensa que tais fenômenos podem ser previstos com precisão (o que não é verdade) ou está querendo apavorar clientes potenciais para vender-lhes consultoria.
Mas, em respeito às leis da economia, sinto-me na obrigação de alertar que os minutos para que a bomba relógio exploda estão minguando e que, portanto, estamos nos aproximando de uma situação econômica muito difícil. Não sei se o artefato montado pela incompetência da equipe do atual governo vai explodir já, ou seja, ainda no mandato que expirará em 31 de dezembro, ou se vai estourar nas mãos do próximo presidente, seja ele quem for.
O quadro para o futuro, como já escrevi, embora não possa ser mensurado, já pode ser vislumbrado com certeza e resumido em uma palavra: estagflação! Para quem não conhece o economês, isso significa simplesmente que os aumentos de preços vão se acelerar e o desemprego vai aumentar. Mas quanto, só Deus sabe…
Se a taxa de crescimento do PIB em 2014 chegar a 1%, já será muito, o mesmo se podendo dizer se a inflação anual de dezembro ficar abaixo dos 8%. A inadimplência vai aumentar, as vendas e o crédito vão sofrer baques, as contas externas vão se deteriorar mais, o Real vai se desvalorizar perante o dólar, as taxas de juros vão subir e a produtividade, bem como as taxas de poupança e investimento, na melhor das hipóteses, não vão crescer. Provavelmente, cairão.
Relatórios recentes de bancos nacionais e estrangeiros apontam claramente para esses efeitos, embora, obviamente, tenham desagradado ao governo, que insiste em afirmar que tudo está sob o seu controle e que essas projeções não passam de “terrorismo eleitoral”.
Não se trata de terrorismo, nem de pessimismo, gente! É apenas realismo, resultante da aplicação da boa teoria econômica. Ninguém pode se sentir feliz escrevendo essas coisas que estou colocando neste artigo, porque são tristes. Mas a economia é uma ciência que, mesmo não sendo exata, possui leis que não podem ser atropeladas, porque cedo ou tarde a conta da incompetência terá que ser paga.
O próximo presidente terá uma tarefa árdua pela frente, sem qualquer dúvida. A casa está semidestruída e precisando de uma reforma completa. Realmente, é uma pena, mas nos últimos seis anos regredimos pelo menos uns vinte.
O próximo presidente e os próximos governantes, terão uma tarefa árdua pela frente, sem qualquer dúvida. A casa está semidestruída e precisando de uma reforma completa. Realmente, é uma pena, mas nos últimos seis anos regredimos pelo menos uns vinte.