Um sistema de metas de inflação relevante conta com um sistema de comunicação transparente. O sistema surgiu de fato como um instrumento em que o Banco Central colocava uma meta de inflação e usava instrumentos para que os agentes acabassem convergindo para aquela taxa escolhida.
A força das palavras do banco, assim, se torna essencial para o modelo funcionar. E sempre em qualquer linguagem é importante a repetição e o ritual, em que os documentos escritos têm que ser entendidos como letra férrea da instituição.
Não é o que tem sido visto desde o começo do ano passado no sistema de metas brasileiro.
Argumentos de todos os tipos já foram utilizados para justificar o injustificável, leia-se, que a taxa de juros teria que cair a qualquer custo, sendo o preço a se pagar uma inflação perigosamente flertando com o teto da banda.
E aqui é interessante lembrar que o banco tergiversa quando se diz crível em trazer a inflação para a meta. Como a inflação está desde 2008 em torno de 6%, com exceção do ano recessivo de 2009, talvez o banco entenda o centro da meta como algo bem amplo que inclua o teto também.
Estamos, no final, caminhando no terreno do tudo vale e que a letra escrita de ontem é letra morta hoje, em que a medida macroprudencial irrelevante, mas campeã de preferência ontem, é esquecida hoje, por exemplo.
No fundo, estamos voltando à batalha que tivemos em 2008, quando se opunham a política monetária e a fiscal. Naquele 2008 pré-crise, os gastos do governo central em termos reais estavam desacelerando há bastante tempo ao mesmo tempo que a Selic subia.
O Ministério da Fazenda usava o argumento de que estava fazendo um fiscal suficiente para o banco não precisar subir os juros. Mas o BC de então não se impressionou com o mixo esforço fiscal e subiu os juros até que a crise ocorresse.
A queda de braço entre Fazenda e BC naquele momento foi vitoriosa para o banco, mas o resultado do perrengue não se deu justamente porque a quebra do Lehman Brothers abortou uma Selic bem mais elevada.
Dessa vez, o BC modestamente ameaçou tentar sobrepujar o Ministério da Fazenda. Mas num governo em que a presidente reza na cartilha de seu principal ministro econômico, e vice-versa, não haveria espaço para um banco deliberar sobre os riscos inflacionários.
Jogou-se para o alto toda a estrutura interna que mantém um sistema de metas por conta do crescimento. Mas se esquece novamente no país, que crescer 4% a qualquer custo hoje é permitir que não se cresça muito num futuro não muito distante. O que teremos para 2012 parece ser um monstro de sete cabeças, com juros em queda e gastos públicos em plena elevação.
A mágica da queda de inflação deverá gerar uma nova teoria econômica, talvez sendo burilada em Brasília, mas ainda humildemente desconhecida do resto da humanidade.
Conta a favor do governo apenas um fator: uma crise de crédito à lá 2008. Está no cenário?
Impossível, entretanto, colocar tal evento em qualquer prognóstico. O que nos resta? Por enquanto é esperar o desastroso e melancólico final deste governo em 2014.
Fonte: Brasil Econômico, 12/09/2011
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