Emmanuel Macron assumiu a Presidência da França nesse domingo. Eleito como outsider, mas apoiado por republicanos e socialistas, será a ponte usada pela política tradicional francesa para se manter no poder. O establishment francês conseguiu vencer a onda de rejeição aos políticos tradicionais vendendo mais do mesmo em uma nova embalagem. O eleitorado comprou. Acabou dando certo.
Macron foi a mais ousada jogada de François Hollande, presidente que se despede do Élysée. Homem de sua confiança, foi vice-secretário geral da Presidência entre 2012 e 2014.
Ao fim do período, foi alçado ao cargo de ministro da Economia, posição que ocupou até fins de agosto de 2016, quando saiu para preparar sua candidatura presidencial. Fato é que Macron ocupou posições da mais alta confiança durante toda Presidência do socialista Hollande.
Assim, foi com naturalidade que o impopular presidente, que não conseguiria se reeleger, colocou em curso uma operação política para fazer seu sucessor e salvar a política tradicional. Estava claro que o desgaste de Hollande seria naturalmente transferido para o candidato do Partido Socialista. Assim foi desenhado o jogo. Os socialistas lançariam um candidato fraco, fadado à derrota, enquanto o Élysée preparava seu verdadeiro nome, Macron, por meio da fundação de um movimento chamado “En Marche”. Benoît Hamon, nome oficial, sequer recebeu apoio dos socialistas, que apoiaram em massa a candidatura do “outsider”.
Ao final do segundo turno, o candidato de Hollande, o presidente que encerrou o governo com a pífia aprovação de apenas 4% dos franceses, venceu com 66,1% dos votos. Macron, seu antigo assessor especial e ministro da Economia, transformado em outsider e centrista, recebeu apoio de todos os espectros da política tradicional francesa, que enxergaram sua eleição como forma de manutenção do establishment no poder. A estratégia funcionou.
No Brasil, com vistas a evitar a eleição de um nome que coloque em xeque o mesmo establishment, existe a busca por um Macron. Um nome com trânsito nas diversas forças políticas, com jeito de outsider e um modelo de gestão eficiente, mas que, eleito, seja capaz de compor e negociar com política tradicional, sem rupturas ou traumas. Enfim, encaminhar a sensação de mudança sem colidir com a velha política que move as estruturas de poder de Brasília.
Este nome ainda não surgiu, mas já possui adversário. De um lado, poderá ter Lula, com toda a máquina de seu partido e a militância trabalhando a seu favor, mas refém de uma enorme rejeição. Do outro, Jair Bolsonaro, que possui musculatura para eventualmente emplacar em um segundo turno, mas que deve sucumbir diante da rejeição na reta final.
Quem passar ao largo de ambos e enfrentar qualquer um dos dois no segundo turno, assim como Macron, terá enorme chance de vitória, pois o adversário que se desenha possui as mesmas fragilidades eleitorais de Marine Le Pen. Uma avenida está aberta na política brasileira. Nosso Macron vem aí.
Fonte: “O Tempo”, 15 de maio de 2017.
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