Com o pré-sal, o Brasil ficou mais rico. Isso é inegável. Mas nem por isso mais desenvolvido. Ou mais educado. Ou menos pobre. A comemoração antecipada sobre a riqueza do pré-sal encerra mau presságio. Não existe qualquer relação direta entre a riqueza em recursos naturais e o avanço econômico. Admitindo que terras férteis e riquezas minerais fossem o fator crítico para o crescimento econômico, um modelo linear apontaria a África como continente de altíssimo progresso, e países da franja asiática seriam locais com escassas chances de avanço. O enriquecimento sustentado de uma nação provém, essencialmente, da associação entre povo, seus talentos e um alto nível de organização institucional.
A Coreia do pós-guerra é um exemplo da primazia do crescimento baseado na produtividade do trabalho e associado ao planejamento de metas nacionais. Nem sempre foi assim naquele país. Mesmo antes da guerra que a arrasou, na década de 1950, a Coreia era um dos países mais atrasados do mundo, analfabeto, sem petróleo e com poucos bens minerais.
Meio século depois, sua indústria se destaca hoje nos mais diversos segmentos. O segredo da Coreia está em ter feito um planejamento para lidar com sua própria escassez, da maneira mais criativa possível. Parece contraditório, mas não é. A escassez de meios costuma fazer acender as lamparinas do pensamento criativo. O país se concentrou em dar um grande salto educacional, envolvendo a totalidade da população. Em suma, a Coreia planejou meticulosamente seu avanço para o crescimento acelerado.
Tampouco basta preparar o povo pela educação. Se o espírito empresarial e as instituições políticas não forem protegidos e estimulados, pode suceder a “síndrome argentina”. Nosso vizinho sempre teve um grande povo e bom nível educacional. No entanto, a Argentina se perdeu no assistencialismo peronista. Passou de nação desenvolvida, antes da Segunda Guerra Mundial, a país com deficit de progresso.
Coreia e Argentina são, respectivamente, exemplo e contraexemplo de como projetar (ou não) o desenvolvimento acelerado de um povo. Carece de fundamento, portanto, a tese do pré-sal como redenção nacional. O ex-ministro Ricardo Berzoini, presidente do PT, escorrega nesse sofisma ao afirmar que o Brasil está diante de novos tempos, “… uma oportunidade histórica para (o pré-sal) gerar desenvolvimento econômico com redução de pobreza”. Conclui ele que essa riqueza “deve garantir educação de qualidade, investimento científico e tecnológico, sustentabilidade ambiental e ampliação de ações de combate à pobreza” (O Globo, 13 de setembro de 2009) . De fato, nada disso é garantido pelo pré-sal. A sorte do pré-sal (e competência da Petrobras em sua descoberta) pode se tornar facilmente a maldição da Mega-Sena. Pior: o bilhete premiado do pré-sal nem é descontável à vista.
Educação, saúde e ciência não podem depender de termos ou não o pré-sal. É a taxa de investimento total do país que determinará se o Brasil vai ter sucesso ou não. O pré-sal é apenas uma parte disso. O investimento no Brasil continua empacado, abaixo de 20% do PIB, mesmo após toda a fanfarra propagandista do PAC. Na Coreia chega a 30%, e na China a quase 50%. Faltam aqui a simplificação tributária e os instrumentos modernos de poupança que levariam o povo e os empresários a elevar os investimentos produtivos. Nesse sentido, o pré-sal é quase um “azar”: lança-se ao povo a impressão de que o jogo está ganho, quando mal começou. Aliás, confundir propaganda com projeto nacional seria o pior defeito da até razoável equipe do presidente Lula.
(Época – 20/09/2009)
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