‘Os grandes eventos da História são influenciados por todos os tipos de fatores, mas sem dúvida o mais importante é sempre a qualidade das pessoas que estão à frente”, lembra-nos Paul Johnson, em “Uma história do povo americano” (1997). Para o historiador britânico, os rumos de uma época são determinados pela qualidade de suas lideranças. A independência dos americanos seria o maior exemplo dessa máxima.
“Desafortunadamente para a Inglaterra — e afortunadamente para a América —, a geração que emergiu para liderar as colônias rumo à independência consistia num dos mais notáveis grupos de indivíduos registrados na História. Sensíveis, visionários, corajosos, educados, talentosos, maduros e comprometidos com o futuro, com lampejos de genialidade.
É mesmo muito raro para um país reunir em sua direção grupo tão diverso e talentoso como George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton, James Madison e John Adams.” Em tempo de avaliação do fenômeno Lula, parecem inevitáveis comparações com o período de FHC. Caríssimos amigos de ascendência tucana cobravamme, ressentidos, opinião mais generosa a respeito de sua esclarecida vertente social-democrata. Parece-lhes injusto que eu não perceba a enorme diferença entre tucanos e petistas.
Quem nega as supostas diferenças entre tucanos e petistas não sou eu, são os próprios tucanos. Não assumem a responsabilidade política pelas privatizações. Não propuseram reformas modernizantes na legislação trabalhista ou no regime previdenciário. Não patrocinaram a independência formal do Banco Central. Pareceu-lhes mais importante garantir a reeleição de FHC do que defender as reformas. E não me parece justo que, sem confessar sua própria hesitante conversão aos bons fundamentos macroeconômicos, questionem a conversão ainda mais rápida de Lula ao novo paradigma.
Inflação baixa e governo grande é finalmente a conquista do paraíso social-democrata em uma busca que consumiu um quarto de século. Pouco importa que se ofendam em desclassificantes episódios de disputas políticas de soma zero. Para uma geração de protagonistas históricos que, com a mesma agenda, se revezam no poder desde a redemocratização, é fundamental que se faça uma reforma política para que possa também no futuro ser dito algo grandioso, como o que se diz dos heróis do outro povo com história tão curta quanto a nossa.
Fonte: O Globo, 20/12/2010
é um artigo verdadeiro e esclarecedor, gosto das idéias do paulo guedes, apesar de achar que as vezes ele defende em seus artigos algumas pessoas indefensáveis, como o político sem-bandeira henrique meirelles e alguns outros.