Esta quarta-feira (2) foi marcada pelo lançamento da sétima cédula da “família Real”, desde 1994. O Banco Central lançou oficialmente a nota de R$ 200, tendo como símbolo o lobo-guará. Cerca de 450 milhões de unidades foram encomendadas à Casa da Moeda até dezembro, e a distribuição começa já nesta semana. De acordo com o Bacen, a maior demanda pelo dinheiro de papel motivou o lançamento. Mas, afinal, quais são as principais mudanças para a economia do país?
Christiano Arrigoni: uma análise do custo-benefício do lançamento da cédula de R$ 200
Em recente artigo publicado no Instituto Millenium, o economista Christiano Arrigoni Coelho destacou que a crise econômica gerou esse aumento da demanda, por conta de um maior “entesouramento” da população – ou seja, mais gente está “guardando dinheiro embaixo do colchão”. Por conta disso, é mais eficiente para o Bacen emitir menos notas de maior valor do que mais notas de menor denominação. “Por exemplo, o custo de produção da nota de R$ 200 é de R$ 0,32 por unidade, enquanto o custo da nota de R$ 100 é de R$ 0,29 por unidade. Logo, imprimir o mesmo volume de dinheiro em notas de R$ 200 custaria 45% a menos do que em notas de R$ 100”, explicou, de forma didática.
Arrigoni também destacou, no entanto, que o mundo inteiro está usando cada vez menos o papel-moeda, e, no Brasil, o investimento vai na direção contrária. Por exemplo: entre julho de 2017 e julho de 2020, a participação das notas de R$ 50 e R$ 100 no valor total das cédulas subiu de 88,5% para 90,1%, enquanto a participação das notas de R$ 100 subiu de 40,6% para 51,2% – e isso em um período de baixa inflação, ou seja, não dá para justificar a carestia para o aumento do uso das cédulas de alta denominação.
Leia o artigo de Hélio Beltrão: “a nota de R$ 200 não é problema; a inflação é”
Hélio Beltrão, por sua vez, resumiu seu ponto de vista em uma frase: “o problema não é haver uma nota de R$ 200, e sim a inflação”. O economista chamou a atenção para alta do IGP-M, que acumulou 9,3% de alta entre julho de 2019 e 2020 – um índice que, por ser volátil, é usado como parâmetro para atividades como reajuste de aluguéis, planos de saúde, mensalidades escolares, energia elétrica e telefonia, apurando os preços de 1400 itens.
Citando a questão do corte de gastos por parte do Bacen, Beltrão destaca que o problema vem da expansão monetária. “A inflação derivada dessa expansão é um imposto invisível, que pune particularmente os mais pobres. A chegada do lobo-guará está distraindo a opinião pública do verdadeiro problema: o estado gastador. A subida do IGP-M enfatiza a urgência do controle de gastos públicos, mesmo diante de todas as dificuldades causadas pela pandemia. Não se trata, obviamente, de reduzir o apoio aos mais necessitados, mas de acelerar as privatizações, a reforma administrativa e o enxugamento da máquina”, destacou.
Demanda
Ao lançar a nova nota, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou que o momento singular vivido pela sociedade trouxe muitos desafios, e um deles foi o aumento por dinheiro em espécie. “O aumento foi verificado no Brasil desde o início da pandemia, mas não foi exclusividade do nosso país. Outras nações viveram fenômeno semelhante. Em momentos de incerteza, é natural que as pessoas busquem a garantia de uma reserva em dinheiro”, afirmou, durante o discurso de lançamento do novo modelo, informou a Agência Brasil.
Foto: Raphael Ribeiro / Banco Central do Brasil