A pandemia de covid-19 acelerou mudanças que já estavam em curso dentro das empresas, especialmente nos processos de inovação. É o que mostra uma pesquisa da Bain & Company com nove tendências de inovação das companhias de tecnologia e startups.
São elas: estímulo ao engajamento dos clientes, requalificação dos profissionais via gamificação, diversidade no recrutamento, marketplaces próprios, cadeias de abastecimento integradas, inteligência coletiva habilitada para inteligência artificial (IA), sustentabilidade transparente, computação quântica e NFTs.
Para Livia Moura, sócia da Bain & Company, a maioria das tendências é uma aceleração de processos que já aconteciam, mas ainda não transpareciam como inovações em andamento.
“Quando a pandemia chegou e mudou de forma tão brusca tantos hábitos, essas tendências foram definitivamente aceleradas. A maioria das tecnologias estava, de alguma forma, com um movimento inicial, e à medida que a pandemia chegou com incentivo tão forte de mudar os comportamentos, seja das empresas com seus funcionários ou da relação com os seus clientes, essas coisas emergergiram”, observa a especialista.
A única exceção é a computação quântica. Embora tenha aparecido entre as nove tendências, ainda tem pouca presença nas companhias de médio porte no Brasil. “A computação quântica ainda é algo mais forte lá fora. Estão surgindo interfaces para soluções específicas mais no exterior do que aqui. A computação quântica está um pouco mais na ponta e talvez não tenha se popularizado tanto, mas à medida que os movimentos avançam, isso passa a acontecer”, observa Livia.
Confira todas as tendências:
1. Empresas que “estimulam” seus clientes em direção aos comportamentos desejados
Quase 60% dos executivos em todos os setores disseram que adotaram ferramentas de experiência do cliente para melhorar os diferentes estágios da jornada de compra nos últimos cinco anos. Esse estímulo influencia o comportamento do consumidor por meio de reforços de mensagens positivas, geralmente ajudando a atender melhor seus desejos.
“O engajamento á a estratégia número um para você ser top of mind”, observa Livia. Negócios que reforçam mensagens positivas em consonância com os setores nos quais atuam podem ativar essa relação de engajamento. É o caso de uma empresa na área de saúde, por exemplo, que cria um programa de incentivo à prática de exercícios físicos.
2. Gamificação que requalifica a força de trabalho remota
Mais da metade de todos os trabalhadores vão precisar de requalificação até 2022, conforme previsão do Fórum Econômico Mundial, a fim de atender à crescente demanda por proficiência em novas tecnologias, entre outras habilidades. Para tornar o treinamento mais eficiente e agradável, empresas já se voltam para a gamificação.
Startups como a Attensi, por exemplo, estão transformando o treinamento com simulações gamificadas, imergindo os funcionários em situações autênticas e fornecendo incentivos como sistemas de pontuação ou tabelas de classificação.
3. Diversidade se torna uma métrica central de recrutamento para empresas de sucesso
“Está mais do que comprovado que times diversos acertam mais vezes do que times não diversos. O assunto nunca esteve tão próximo das discussões de liderança quanto agora, mas ainda há discrepância entre diferentes empresas”, observa Livia.
Um estudo recente da LinkedIn Talent Solutions descobriu que o número de pessoas em funções de liderança de diversidade – gerência e diretoria – aumentou 75% e 68%, respectivamente, nos últimos cinco anos.
E outras empresas começam a trabalhar ativamente para que os números aumentem ainda mais. A pymetrics, por exemplo, usa uma combinação de ciência comportamental e tecnologia de inteligência artificial auditada para avaliar o potencial dos candidatos com base em dados, enquanto remove o preconceito muitas vezes implícito nos processos de recrutamento.
4. Marcas e varejistas se transformam em mercados para se beneficiar dos efeitos de rede
As empresas começaram a se afastar de grandes plataformas como Amazon ou Alibaba para estabelecer seus próprios marketplaces.
“Cada vez mais outros varejistas, sejam eles de moda, eletroeletrônicos ou qualquer setor estão desenvolvendo market places próprios para que os consumidores deles tenham uma solução mais ampla, seja em leque de produtos ou de serviços”, diz Livia.
Essa tendência deu origem a empresas como a Mirakl, por exemplo, que ajuda as marcas a lançar mercados rapidamente e fornecer serviços de qualidade em escala.
5. Plataformas que otimizam as cadeias de abastecimento
“As empresas não estavam preparadas para um efeito que foi bastante comum durante a pandemia, de faltar alguma coisa. As empresas trabalham em silos, e já existe tecnologia para quebrar um pouco esse silos. À medida que a pandemia colocou pressão na hora de definir o preço e incentivar a venda de um produto, houve uma otimização global de olhar para a cadeia de suprimentos em conjunto”, analisa Livia.
No entanto, mesmo antes da pandemia, as empresas já tinham problemas com a otimização da cadeia de suprimentos. De acordo com uma pesquisa da Bain com executivos de vários setores, 75% das empresas não atingem suas metas de produtividade de custo. Os silos entre as divisões de negócios costumavam obstruir, por exemplo, o compartilhamento e a comunicação de dados, causando problemas como longos prazos de entrega.
Nesse cenário, começam a aparecer empresas como a 9 Solutions, que desenvolveu uma plataforma para conectar todas as entradas relevantes de dados. Um dos clientes da 9 é uma empresa de petróleo e gás que estabeleceu a plataforma integrada como uma fonte única de confirmação dos dados, otimizando a tomada de decisões.
6. Inteligência coletiva habilitada para IA faz a curadoria de insights para uma estratégia mais ágil
Para filtrar e analisar grandes quantidades de dados, as empresas líderes estão buscando inteligência coletiva habilitada para IA. Embora a IA seja altamente eficaz no reconhecimento de padrões, a falta de criatividade causa uma perda de insights em dados não estruturados. Mas a combinação de IA e recursos humanos pode ajudar a curar insights da linha de frente.
“Estamos caminhando para um movimento no qual a inteligência artificial vai alimentando a tomada de decisão humana frente a frente com o cliente, e não a substituindo. No contato de um agente de vendas com seu cliente, por exemplo, ele pode se conectar e oferecer outras soluções que não estavam previstas, triangulando isso com dados de comportamento e outros produtos identificados pela inteligência artificial”, observa Livia.
A Assembl, por exemplo, utiliza o reconhecimento de linguagem natural para destacar conceitos e palavras-chave recorrentes em debates, permitindo que os usuários acompanhem as tendências do discurso em tempo real.
7. Consumidores experientes exigem produtos sustentáveis
Os consumidores estão prestando mais atenção às empresas com inicitivas que envolvem sustentabilidade e a criação de práticas mais alinhadas com os eventos ambientais. De acordo com uma pesquisa da Bain, dois em cada três brasileiros seriam mais leais às marcas comprometidas com o meio ambiente.
Essa mudança na preferência do consumidor colocou a sustentabilidade no topo da agenda corporativa, especialmente após a pandemia. Outro levantamento da Bain aponta que mais da metade dos executivos dizem que a covid-19 só aumentou a importância da sustentabilidade para seus negócios.
8. Computação quântica começa a abordar aplicativos específicos
Com um mercado estimado em US$ 1,1 bilhão em 2019, com expectativa de crescer cinco vezes até 2025, a computação quântica é uma tecnologia emergente que ainda não foi absorvida pela maioria das empresas de tecnologia de médio porte.
A IBM e o Google continuam na vanguarda no setor quântico, mas a atividade de capital de risco está se acelerando, com investimentos de cerca de US$ 480 milhões em 2020 – mais do que o dobro dos US$ 200 milhões estimados investidos em 2019.
9. NFTs continuam em alta
É impossível ignorar o zumbido atual em torno dos NFTs (non-fungible tokens). Embora os NFTs estejam concentrados principalmente em produtos de consumo e mídia, esse fenômeno está se acelerando rapidamente.
“NFTs não são necessariamente uma das tendências que as empresas de bem de consumo vão adotar agora. No entanto, ele pode mudar a forma como cada ativo digital é registrado. Isso é a beleza da tendência, quando ela sai do seu campo e vai para outras áreas, e à medida que avança se torna uma necessidade, e uma realidade. Por enquanto, ainda é um segmento de clientes e de produtos mais nichado”, analisa Livia.
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Os NFTs podem ser usados para vender itens digitais colecionáveis e também podem servir como passaportes digitais seguros que garantem a autenticidade dos produtos, tornando-os úteis para varejistas e consumidores de luxo, entre outros.
Fonte: “Época Negócios”, 05/10/2021
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