A presidente Dilma Rousseff fez exatamente o que foi reivindicado pelas entidades ambientalistas: vetou o Código Florestal que havia sido aprovado pelo Congresso em abril passado e, para impedir o vácuo legal numa matéria tão sensível, baixou uma medida provisória sobre o assunto.
A partir de hoje, os parlamentares voltam a debater o tema e, a julgar pela quantidade de emendas já apresentadas (mais de 200), dificilmente a medida presidencial sobreviverá da forma como foi concebida pelo Executivo.
Os “analistas” de plantão já deram início à velha lenga-lenga que reduz toda a questão a um simples embate entre governistas, oposicionistas, ruralistas e ambientalistas – com os olhos postos nas eleições municipais deste ano.
Pelo rumo que a discussão está tomando, tudo leva a crer que o país, mais uma vez, jogará pela janela outra boa oportunidade de ver que o Congresso Nacional está longe de ser a representação perfeita da sociedade.
A população urbana, no Brasil, supera a rural. Mas o número de deputados que defendem o interesse do campo supera o dos defensores dos interesses urbanos. Na votação de abril passado, por exemplo, 71 peemedebistas votaram contra o projeto de interesse do governo e apenas 3 apoiaram o documento.
Antes de ver nesse movimento uma rebelião da “base aliada”, é bom perguntar: onde os deputados do PMDB vão buscar seus votos? Quem financia suas campanhas? Esse é um partido urbano, do tipo que leva multidões às ruas das grandes cidades, ou uma federação de ex-prefeitos que, de quatro em quatro anos, recorre aos eleitores de municípios rurais para tentar a reeleição?
O PMDB votará de novo por medidas que, à primeira vista, são contra os interesses das populações urbanas – e a única providência que se pode tomar com relação a isso é uma boa negociação.
Para os políticos da legenda, assim como para boa parte do DEM, do PP e do PR, votar contra os ruralistas é votar contra a própria sobrevivência política.
A motosserra, que nas grandes cidades não passa de um instrumento de devastação, é considerada por muito eleitor que vive no campo uma ferramenta de trabalho do qual, muitas vezes, depende o sustento de famílias inteiras.
Não se discute, aqui, se essa visão é certa ou errada: qualquer habitante de cidade grande tem a obrigação de defender a preservação das matas e dos mananciais. Mas, da mesma forma, deveria entender que o país perde quando os ruralistas, responsáveis pela produção dos alimentos, são apresentados como os únicos vilões da história.
Essa discussão ainda vai longe e os ambientalistas ajudarão muito o país se, ao invés de se dirigirem diretamente à presidente da República, passarem a negociar suas posições com o Congresso.
E, de quebra, entender que, enquanto a legislação eleitoral não mudar, as manifestações nas ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de Belo Horizonte atingem uma fração modesta do Parlamento. Muito modesta.
Fonte: Brasil Econômico, 05/06/2012
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