O governo Obama fala em novas formas de estimular a economia americana, uma vez que o desemprego ainda permanece elevado e o crescimento econômico continua tímido. Entre as novas propostas estão gastos de US$ 50 bilhões com infraestrutura e US$ 100 bilhões de extensão de crédito fiscal. Isso após estímulos que chegam à casa do trilhão, e que, pelo visto, não surtiram os efeitos esperados. Será que a resposta, como defende Paul Kurgman, está realmente em mais estímulos?
O racional por trás desse tipo de argumento é a teoria keynesiana de que os gastos do governo devem “fechar o gap” quando a demanda agregada é insuficiente para preservar o “pleno emprego”. Trata-se de uma falácia econômica, infelizmente ainda muito disseminada.
Muitos keynesianos parecem confundir uma economia saudável com a ideia de “pleno emprego”, mas ambos não são sinônimos. Basta pensar que se o governo contratasse todos os desempregados para abrir e depois fechar buracos, então não haveria mais desemprego. Mas quem realmente diria que a saúde da economia melhorou?
Na verdade, essas medidas de estímulo artificial costumam atacar os sintomas, e não as causas dos problemas. Algo como colocar cubos de gelo no termômetro para reduzir a febre do doente. Krugman chegou a escrever que a Grande Depressão foi salva pela Segunda Guerra, como se guerras fossem criadoras, e não destruidoras de riqueza. Se o prêmio Nobel de economia estivesse certo, então a conclusão lógica seria que uma nação eternamente em guerra ficaria incrivelmente próspera! O absurdo desse argumento salta aos olhos.
O fato incômodo, e por isso tão ignorado, é que o estímulo tem que sair de algum lugar. Os gastos do governo devem ser pagos por alguém. É aquilo que não se vê imediatamente, ao contrário dos efeitos visíveis de curto prazo dos estímulos. Alguns keynesianos se defendem com base no “efeito multiplicador” dos gastos públicos. Mas, na melhor das hipóteses, esse multiplicador é zero. Normalmente ele é negativo.
Não é muito difícil entender por quê. Os gastos públicos, sem os mecanismos adequados de incentivo do setor privado, costumam ser menos eficientes. Logo, o governo está retirando recursos do setor privado para utilizá-los em coisas altamente questionáveis. Isso sem falar dos riscos de corrupção e politicagem. O próprio “New Deal” foi alvo de duros ataques depois, quando alguns escândalos vieram à tona. Os interesses políticos acabam prevalecendo sobre os interesses econômicos.
Os economistas austríacos já tinham demonstrado como esses estímulos artificiais apenas agravam os ciclos econômicos. Os efeitos momentâneos geram a sensação de prosperidade e sucesso das medidas, mas logo a realidade retorna à cena, cobrando seu preço. Taxas de juros artificialmente reduzidas, crédito facilitado pelo governo, injeção de moeda na economia e déficits fiscais nunca foram receita para crescimento sustentável. A alegria dos mercados é temporária, e depois vem a inevitável ressaca. Quanto maior for o estímulo artificial, mais dolorosa será a fase de ajuste posterior.
Para piorar a situação, a retomada dos investimentos privados, que poderia colocar a economia nos trilhos, acaba prejudicada pelo excesso de intervenção do governo. O setor privado sabe que será forçado a pagar a conta alguma hora, pois não existe almoço grátis. O rombo fiscal terá que ser compensado por mais impostos no futuro. Como os empresários antecipam o evento, a aversão a risco aumenta no presente. O tiro sai pela culatra. O governo tenta estimular a economia, e depois não entende porque as empresas optam por cautela nos investimentos.
O governo já anunciou pacotes gigantescos, e a economia ainda patina, com taxa de desemprego próxima de 10%. O argumento em defesa do governo é que a situação estaria muito pior se não fossem essas medidas. Nunca saberemos. Mas não custa perguntar: após um pacote de estímulo de US$ 800 bilhões e várias outras medidas desesperadas, será que novos estímulos serão a solução para os problemas?
O governo americano está ficando sem munição. Talvez fosse hora de tentar algo novo: deixar o próprio mercado realizar os ajustes necessários. Se o governo sinalizar que suas contas serão sanadas, de preferência com uma drástica redução dos gastos públicos, então os investimentos podem ser retomados, e a economia pode se recuperar de verdade.
Fonte: Jornal “Valor econômico” – 21/09/10
Rodrigo, desculpe a ignorância, é uma pergunta mesmo. Isso já não foi tentado, ou seja, deixar que o mercado realize os ajustes que julgar adequados? Vou insistir, é PERGUNTA, não é aparelhamento,é PERGUNTA, do tipo, eu NÂO SEI A RESPOSTA, obrigada.
Eu quero fazer uma pergunta e ela não vai!!!
Agora foi. Eles já não tentaram isso? O ajuste pelo mercado? É pergunta mesmo ( do tipo não sei a resposta ).