“Simplesmente não acredito que dando mais dinheiro aos professores e diretores que estão em nossas escolas hoje, sem exigir nenhuma contrapartida ou melhorar sua capacitação, nós teremos um ensino de melhor qualidade. O problema principal dos funcionários de nossas escolas não é de motivação: é de preparo”. (Gustavo Ioschpe)
Recentemente publiquei um post provocativo em meu blog titulado “Aulas, para que tê-las?” – disponível em http://www.vitorwilher.com/aulas. As reações foram bem diversas. Houve quem gostasse (poucos), houve quem me xingasse (muitos, talvez mais adaptados ao status quo do que eu). Isto porque não usei muitos argumentos, apenas desabafei o que venho sentindo há bastante tempo: a inutilidade de se assistir à aulas convencionais. Apesar disso, as reações contrárias ao meu desabafo acabaram me despertando para outro ponto (bem mais) interessante.
Estamos preparados para um novo paradigma educacional? Quando o Brasil entrará em um mundo onde a informação é um bem público? Participaremos das inovações que estão acontecendo mundo afora? É bastante latente que já despertamos para a importância da educação no desenvolvimento econômico e social de um país. Porém, isso é muito pouco para a época que estamos vivendo. Hoje em dia não é mais vantagem alguma passar quatro ou cinco horas diárias recebendo as mesmas aulas que nossos avôs recebiam. O mundo de hoje é completamente diferente.
Nossos alunos estão inseridos em um sistema educacional que não os ensina a pensar. E eles, diante de um mundo completamente modificado, simplesmente ignoraram as escolas. Você já parou para ver como é uma criança de 9 ou 10 anos de hoje? Elas não estão mais interessadas em passar quatro horas ouvindo um professor. Elas querem colocar a mão na massa, literalmente. Querem construir casas, navegar na internet, jogar, brincar, se divertir. Essas “novas” crianças querem ser desafiadas. Definitivamente, elas não querem ficar sentadas ouvindo alguém passar-lhes a resposta para os problemas do mundo. Não funciona mais assim – talvez nunca tenha funcionado.
Em um mundo onde a informação é um bem público, disponível a qualquer um que se predisponha a pesquisar, não é mais possível ter um modelo de aulas onde um fala, o outro escuta. O papel do professor mudou radicalmente. Ele não é mais um especialista, uma cátedra onde o conhecimento da humanidade repousa. O professor é, nesse novo paradigma, um facilitador, um orientador de mentes sedentas por novos desafios.
Ao contrário disso, as escolas de licenciatura insistem em formar professores dentro do paradigma antigo. Continuam formando quadros especializados em algo que se tornou obsoleto. A dura realidade enfrentada em sala de aula é apenas um reflexo dessa má formação profissional.
Nesse novo contexto um professor tem uma função assustadoramente mais complexa. Ele não está em sala de aula para dar informação. Ao contrário disso, o professor dos novos tempos deve se portar como um lapidador de talentos. Deve perceber aptidões entre seus alunos. Deve desafiá-los a todo o tempo, em busca daquele aluno (a) apto para desenvolver-se no seu nicho de ensino.
Por que isso é tão difícil? Porque nossos professores (e os da maior parte do mundo) não foram formados para isso. Não receberam treinamento para encontrar talentos. Foram treinados para repassar informação. Colocar no quadro resumos de História, Geografia, Português etc. Foram orientados a dar listas de mais de cem exercícios de trigonometria, na vã esperança de que no centésimo o garoto ou a garota consigam entender do que se trata.
As sociedades contemporâneas se dividem entre aquelas que conseguem formar talentos e as que não conseguem. Modelos de crescimento econômico há muito tempo incorporam uma variável-chave chamada capital humano, mas têm enorme dificuldade de entender as diferenças entre os países nesse quesito. Utilizam médias de anos de estudo para diferenciar produtividade, mas não conseguem gerar mecanismos minimamente competentes para auferir qualidade de ensino.
Não se pode dizer que é uma tarefa fácil sair de um modelo orientado a decoreba de fórmulas e datas para um novo sistema educacional. É, talvez, o maior desafio dos novos tempos construir uma escola que consiga atrair as mentes das crianças e dos jovens. E para que isso seja possível não há outro início que não seja a mudança das mentes dos professores. Discutir a formação do professor é uma condição necessária (e primordial) para construir um modelo educacional orientado para a descoberta (e lapidação) de talentos.
Trata-se de um questionamento extremamente diferenciado. Em termos de economia política, é um intrigante e majestoso desafio para gestores de políticas públicas. Será preciso enfrentar sindicatos de professores, uma burocracia estatal imensa, filósofos, pedagogos e mais uma infinidade de pessoas identificadas com o status quo. Não se passa para um novo paradigma por decreto presidencial. Não existe a opção de deixar nas mãos de um déspota esclarecido a tarefa de modificar uma realidade que perdura por séculos a fio. Será preciso que toda a sociedade entenda e incorpore essa urgência.
Estamos diante de um momento histórico de ruptura. As conseqüências sociais da terceira revolução industrial. Muitos países, como a Coréia do Sul, Cingapura e o próprio Japão parecem ter entendido que para mudar um modelo educacional é preciso formar novos professores. Quando o Brasil aprenderá a mesma lição?
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