Se as indenizações pagas representassem o total das mortes no trânsito, teríamos praticamente 150 mortes por dia, ou 6,25 mortes por hora
A Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT publicou recentemente seus números referentes ao primeiro semestre de 2011. Eles são no mínimo apavorantes.
O seguro DPVAT é o seguro obrigatório de veículos automotores terrestres, pago juntamente com o IPVA.
É um seguro de cunho eminentemente social, que paga indenização para todas as vítimas de acidente envolvendo um determinado veículo, independentemente de culpa do motorista ou da vítima estar ou não dentro de veículo.
Como as indenizações são para cada pessoa, o capital é também por pessoa, não havendo rateio entre as vítimas ou redução do valor a ser pago a título de indenização.
Atualmente, os valores segurados são R$ 13.500,00 para morte e para invalidez total permanente, além de cobrir também as despesas médico-hospitalares.
Não cabe aqui discutir se são valores suficientes para permitir às vítimas e suas famílias reporem economicamente a perda pessoal sofrida, mas é sempre bom lembrar que o salário mínimo brasileiro é de R$ 545,00, o que faz com que a indenização do seguro se aproxime, tendo por base o salário mínimo, das indenizações normalmente pagas pelos seguros de vida empresariais, que costumam ser de 24 salários do funcionário em caso de morte acidental.
O foco do artigo é o número de indenizações pagas para as vítimas dos acidentes de veículos e seus familiares no primeiro semestre do ano.
E é aqui que fica clara a tragédia social que é o trânsito brasileiro.
De acordo com a Seguradora Líder, nos primeiros seis meses de 2011 foram pagas 26.894 indenizações por morte e 107.403 indenizações por invalidez.
Quer dizer, se as indenizações pagas representassem o total das mortes no trânsito, teríamos praticamente 150 mortes por dia, ou 6,25 mortes por hora. Além disso, teríamos diariamente 596 pessoas inválidas, ou quase 25 vítimas por hora.
Só que a realidade é pior porque nem todos reclamam o seguro.
São números apavorantes, em primeiro lugar pela constatação de que o trânsito brasileiro é um dos principais assassinos do País.
Em segundo, porque ele é mais cruel ainda, ao deixar inválidas 107 mil pessoas a cada seis meses.
E, em terceiro, mas não menos importante, porque o custo social desse quadro é muito mais caro do que o total das indenizações pagas pelo DPVAT.
Eu não tenho o total das despesas geradas pelos acidentes de trânsito para a seguridade social, mas, com certeza, entre atendimento médico-hospitalar e aposentadorias, anualmente o país gasta vários bilhões de reais.
Os números acima seriam suficientes para pintar um quadro terrível, mas ele vai além.
O sofrimento, a dor e a falta física, além da econômica, das vítimas para suas famílias não tem preço e não pode ser compensada apenas com recursos materiais.
Mas o quadro fica pior.
A maioria das vítimas é composta por jovens e 66% do total das indenizações pagas pelo seguro obrigatório foram geradas por acidentes envolvendo motocicletas.
As motocicletas representam menos de 30% da frota e, todavia, são responsáveis por 66% do total das indenizações pagas pelo seguro obrigatório.
Quer dizer, entre as máquinas de matar e seus pilotos, que diariamente trafegam pelas ruas e estradas brasileiras, nenhuma é tão eficiente quanto elas.
Aliás, basta ver a forma como estes veículos são conduzidos em qualquer grande cidade do país para ficar claro que o resultado não poderia ser diferente e que a pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, algum tempo atrás, não poderia deixar de confirmar a realidade, apresentando os acidentes envolvendo motociclistas como responsáveis diretos por várias mortes ocorridas diariamente nas ruas de São Paulo.
O mais triste é que esse quadro deve se repetir no segundo semestre de 2011, e no ano que vem, e no outro. Enquanto o trânsito não for tratado como prioridade, com pouco investimento em educação e menos ainda na malha viária, os brasileiros continuarão morrendo, vítimas dos veículos e de seus motoristas.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 15/08/2011
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