Há quase um ano afirmei em meu primeiro artigo para o Instituto Millenium que os programas de Bolsa Família atuariam como agentes inflacionários, pois estão sendo utilizados como forma de comprovar uma renda inexistente, visto que é um processo de transferência de renda, e assim expandindo de maneira irresponsável e descontrolado o mercado de crédito. Na sequência, em diversas outras ocasiões, tanto eu, quanto o Rodrigo Constantino, batemos na tecla que a política macroeconômica do governo só teria como resultado o desaquecimento da economia e o retorno do processo inflacionário. Os números não nos deixam mentir. Estávamos corretos, fato comprovado pelos órgãos do próprio governo. Vejamos os fatos então.
Pois bem, como previsto a inflação vem aumentando há tempos, apenas não vinha atingindo patamares alarmantes, até que, em janeiro deste ano atingiu o nível de 0,86% pelo IPCA, índice oficial do governo que é medido pelo IBGE. Portanto, acima de qualquer suspeita. Já neste mês ameaçou seriamente o regime de metas de inflação adotado por nosso país há anos, mas a equipe econômica optou por tomar medidas sabidamente ineficazes contra o fenômeno. Finalmente, em março a inflação rompeu o teto da meta estabelecida, visto que atingiu o patamar de 6.59% em 12 meses, contra a meta estabelecida de 6.5%. Ficou evidente que o governo perdeu o controle. E não foi por falta de avisos. No entanto, era mais importante incensar os líderes governamentais antes que fazer seu trabalho. Aí está o resultado.
Qualquer conhecedor mínimo da ciência econômica sabe: nada empobrece mais a população que a inflação. O processo inflacionário atinge sempre com mais vigor as camadas mais pobres. O discurso barato e retórico de transferência de renda é apenas eleitoreiro, visto que, ao permitir inflação simplesmente parte dessa renda é destruída. Usando os números do IPCA de março isso fica bem claro: a inflação medida foi de 6.59% em 12 meses, sendo que nesse mesmo período a cesta básica inflacionou em 13.48% pelo mesmo índice. Já os serviços em 9.54%. Individualmente, no orçamento doméstico isso significa que os alimentos sozinhos correspondem a 7.22% na conta da dona de casa. Para ficar mais claro, alimentos e domésticas representaram 73% da composição da alta do IPCA de março. Pode piorar: o índice de disseminação foi de 69%, ou seja, isso significa que sete de cada dez produtos tiveram aumento de preços.
É bom lembrar que transferência de renda não é geração de renda como vem sendo falsamente afirmado pelo governo, e algumas lojas vêm concedendo crédito aos beneficiários desses programas, fechando os olhos para as mais basilares regras de gestão de risco. O Banco Central (Bacen) publicou no dia 15 de abril de 2013 o índice de inadimplência por regiões do país, e não por acaso, as regiões com o maior número de beneficiários desses programas são justamente os com o maior número de inadimplentes.
De acordo com os dados do Bacen, a inadimplência alcançou, em janeiro de 2013, patamares de 4.43% na região Norte, e, 4.25% na região Nordeste. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), novamente do próprio governo, a região Norte responde por 11,4% dos recursos destinados ao Programa Bolsa Família, e a região Nordeste por 50,2% desses recursos no período de abril de 2013. Contudo, é impossível culpar as pessoas. Diversas pesquisas comprovam que pessoas que têm menor renda destinam em torno de 30% de sua renda para satisfazer suas necessidades básicas, assim sendo, é óbvio que em caso de processo inflacionário por irresponsabilidade governamental, irão sacrificar o crédito recebido para aquisição de bens duráveis.
Em sua desabalada busca de votos o partido do governo não tem se importado a quem sacrifique, e em função disso, é irrelevante o fato de a inflação retornar ou não. A suposta cruzada irresponsável contra os juros, sem construir poupança interna via investimentos fez com que nosso país tivesse a pretensão de fortalecer a economia via consumo de forma completamente sem senso, seguindo todos os postulados keynesianos possíveis, remetendo a frase histórica de Keynes : “No longo prazo todos iremos estar mortos”.
Que nossos filhos paguem suas irresponsabilidades, mas eles irão ter o que recuperar? Novamente, o governo coloca o Norte/Nordeste na mira do país com a possível culpa de algo que não irão ter, já que políticos odeiam assumir suas próprias responsabilidades. Repito novamente, ninguém paga mais caro o alto custo de um processo inflacionário que as camadas mais pobres da população. Nenhuma suposta conquista tão alardeada e bravateada pelo governo nos últimos anos terá sido útil após perderem o controle do ciclo inflacionário, até porque essas conquistas serão desmanchadas pela perda de poder de compra da moeda frente à inflação. Esse será o alto custo da irresponsabilidade da inércia do governo que, enquanto a economia seguia seu percurso, preferia ficar jogando confete em seus feitos. Acabou a festa. Mas não acredito que façam o que deve ser feito. Afinal, ano que vem tem eleições.
A inflação, um termo político, faz referência à oferta adicional de dinheiro “sem lastro” que “entra” na economia e se reflete no aumento dos preços dos bens e serviços. A oferta adicional de dinheiro de papel provoca sua propria desvalorização unitária. O dinheiro, por ser um bem como qualquer outro, não tem como fugir da lei da oferta e procura. Se tem muito, vale menos; se tem pouco, vale mais.
Se a bolsa família é pago com o dinheiro dos impostos ele não provoca inflação. Apenas força os contribuintes reduzirem seu consumo transferindo este em favor dos bolsa famímias. Mas se a bolsa familia é paga com dinheiro impresso sem lastro pelo BC, então temos o fenômeno monetário apelidade de inflação.
Este assunto é eminentemente econômico e requer o seu conhecimento. Porém os “economistas” de hoje ainda continuam aferrados à ciencia econômica que se conhecia até a segunda metade do século 19. É uma lástima seu progresso seja ignorado quando não enxertado de conceitos de base marxista.
Quanto ao conteúdo: parabéns!
Quanto a forma: um bom revisor ortográfico e gramatical fez falta.
Obrigada, Anselmo, pelas observações. Estamos corrigindo!
Abraços
O Bolsa Família é transferência de renda para pessoas que não têm o que consumir. Se há inflação elas perdem alguma coisa, mas ganham a maior parte. A inadimplência dos bancos é largamente compensada com a adimplência dos que podem pagar.
Certamente que o autor do artigo e seus filhos não precisam da Bolsa.
Se fosse meu aluno, mandava estudar mais.
HS.
Meu caro, suas considerações sobre o programa bolsa familia está no mínimo oito anos atrasado.Busque avaliar não somente o “gasto” com as famílias mais pobres do país, mas com alguns resultados já encontrados com a implantação do programa.Esses programas não fazem a menor falta para os dessa elite preconceituosa e cega. Apresente-me um texto seu sobre pagamento durante décadas dos juros pagos pelo governo aos rentistas desse país. Esse sim, dinheiro que alimenta a classe que você acha que pertence,dinheiro sem retorno, esse sim que fez e fará falta para uma geração inteira , não apenas do seu filho.
Marcelo
Fica evidente, face os comentários postados, como as pessoas ainda se condoem e se afiliam a políticas sociais irresponsáveis e sem qualquer compromisso futuro com a sociedade e a economia em que essa se insere. Reconheço as beneces que qualquer governo, de esquerda ou de direita, realiza em face dos entes bancários, contudo , a fundo, a discussão se volta sempre ao conflio de classes, já ultrapassado. Pobres VS ricos. O maior mal no Brasil é , e sempre será, a lei máxima do brasileiro, a lei de Gerson. Vivemos numa sociedade desconexa e que não se identifica, num país de dimensões continentais, que não se comunica, não se interliga e que naturalmente se aglutina, onde há a concentração de renda e negócios. O problema brasileiro é social , não econômico, sendo assim, independentemente das políticas econômicas implementadas, a sociedade permanece apartada e sem comunicação. Não pretendo exaurir a questão, que de fato é bem complexa, contudo, creio, que devamos sempre ter isso em mente.